THOMAS MORUS: Utopia e projetos – uma educação radical para a intervenção

Temos ouvido, frequentemente, que as utopias morreram. Fim da história! O poder presente se definitizou. Não é preciso esperar nada mais, além do que temos. Isso é o tudo. Sonhar em trazer o paraíso à terra, constitui uma violência, dirá Popper. É preciso acordar do sonho. Não há qualquer sentido para a luta.

A humanidade foi um sonho de Deus que não deu certo, aliás, um grande fracasso… Apesar disso, toda a filosofia contou com a lógica das utopias. U (negação)- topos (lugar): aquilo que não acha lugar, no sentido etimológico e ontológico. O que não é do tempo e do espaço. Prefiro dizer, aquilo que não tem ancoragem histórica.

Contudo, as Utopias dizem, por isso mesmo, da falta que sentimos, do desejo, do sonho, do que embora não esteja aqui (hic et nunc – aqui e agora) poderia, em outras circunstâncias, em outros tempos – especialmente tempos futuros ou tempos míticos no passado – vir a ter ou ter tido lugar. Significa que toda a história é lugar também de certa frustração, que nos impulsiona à busca permanente da esperança que continua a fazer o que espera.

Nossa vida está circunscrita no conflitivo, na procura, no imponderável, na abertura. A Utopia éTHOMAS MORUS: Utopia e projetos - uma educação radical para a intervenção necessária. Por isso, toda a cultura contemporânea tende à distopia , isto é, dizer que sonhos de mudança e transformação do sistema econômico, político e cultural é inútil. Nada muda. Que a utopia, como o homem é uma “paixão inútil”. Não há esperanças. Viva o fim da história – diz o Império.

“O que de mais paralisante e estúpido a ideologia pode fornecer à pessoa humana, é a castração antecipada; a impotência previamente deduzida, de que o futuro está fechado, de que a mudança é impossível, que só vale a resignação! Tal crença desarma qualquer aceno de luta.

Não raramente enfoques apocalípticos fetichizadores de um progresso automático da História, ou do crescimento automático das contradições, e seu amadurecimento numa “Revolução” sem atores, conseguiram sumariamente, acreditar num fatalismo teleológico que dispensava esforços humanos.

Nem estas condições por si mesmas permitem saltos qualitativos na história humana, nem a vontade, indômita orientada pelo desejo. O tempo está aberto para ambos. E, não dispensa estratégias de inteligência para mudança e para consolidação da Paz”.

THOMAS MORUS foi filósofo, advogado, amado por sua justiça e bondade. Condenando o casamento duplo de Henrique VIII, acabou sendo, por vingança, acusado injustamente de corrupção contra a qual sempre se opusera e, esta o levaria à morte. Escrevera em homenagem a Erasmo de Rotherdam, filósofo amigo, a sua obra maior “UTOPIA”, na verdade anunciando os valores que a sociedade negava.

ERASMO, satírico como era, enviou-lhe em agradecimento uma anti-UTOPIA, denunciando o que a sociedade era, e não admitira. Erasmo nos presenteou, assim, com o mais apimentado livro de crítica civilizatória: “O elogio da Loucura”. O curioso, é que na introdução do seu livro, Erasmo diz que escolheu a Loucura (Moria – em grego) para homenagear Morus.

O livro de Erasmo é um discurso da Loucura dizendo da soberania absoluta dela por sobre a terra e a vaidade dos homens. Vale a pena, também, ler o texto cômico “Cândido, o otimista” de Voltaire, que também descreve as distopias, denunciando-as e apontando pela crítica o que poderia ser a realidade econômica, social e política.

MERLEAU-PONTY fala da experiência que temos, interno a nós, que ele chama de “ocultamento-desejo”, isto é, lá onde o desejo foi eclipsado, ou interditado, os sonhos são ainda mais imperiosos por terem sido impedidos de se poder sonhar. É aqui que a Utopia – negada, ressurge das cinzas e passa a ter lugar, transforma-se em linguagem desavergonhada que se materializa como representação imaginada, ou como projeto de luta contra a determinação e a fatalidade.

Pedro Demo instiga a todos nós a pensarmos na possibilidade de fazermos um outro mundo: “ (…) o espaço das condições subjetivas não é algo entregue à veleidade. Se não tem propriamente leis, tem regularidades; tem com certeza condicionamentos, antecedentes e consequentes, embora não determinantes. […] Se acreditarmos que é possível evitar uma Terceira Guerra Mundial, é porque imaginamos poder agir em condições objetivas e subjetivas de sua gestação.

À sombra disto, fomenta-se uma “ciência da paz”, que investe não somente na redução da capacidade destrutiva objetivamente instalada, mas igualmente em estratégias políticas de “convencimento”, “educação”, “mobilização” em favor da paz.” (Demo, Op. cit. p. 122)

Acreditar na história como processo e projeto é afirmar que o homem está atravessado pela temporalidade. Passado e Futuro tomam espaço em seu corpo circunscrito ao instante do Presente. Definitivo e Provisório disputam minuto a minuto sua existência. E nela, a certeza da vida e o único que se capta um segundo antes da morte.

Por isso o riso do pobre é escandalosamente incompreensível a quem imagina que a História do jeito que está, chegou ao fim. Konder (ANO, P.86) citando Bertold Brecht disse “O que é, exatamente por ser tal como é, não vai ficar como está”.

REFERÊNCIAS:

Fundamentos de Filosofia: os caminhos do “Pensar” para quem quer transformação / Luiz Augusto Passos. — 1ª ed., 1ª reimp. — Brasília/DF: Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação, 2014.


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