Tendo em vista que na Educação Infantil a linguagem escrita é mais uma das linguagens da cultura que está presente no cotidiano da criança, e que, por vezes, desperta a sua curiosidade, as atividades que enfatizam o código alfabético cumprem os objetivos de fomentar e de instigar a criança a elaborar hipóteses sobre a escrita, porém, apoiadas sempre no desenho ou na figura, o que possibilitará a comunicação e a realização daquilo que foi proposto, seja a representação gráfica, ou o jogo, independentemente do seu domínio sobre a língua.
Nesse sentido, a exploração dos símbolos tem a finalidade de favorecer a criança nas tarefas de distinguir, identificar e refletir sobre o que é capaz de perceber acerca do sistema de escrita e, com isso, promover a compreensão e não a mera execução do que foi proposto.
É importante ressaltar que nessa faixa etária algumas crianças podem reconhecer e tentar representar os signos da língua, e outras não se interessar tanto por escritos, mas, diante da atividade proposta, entram em contato com as possibilidades de representação gráfica presentes na cultura, disso decorre a ideia de Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP) de Vygostsky16, que reafirma a importância da interação no processo de aprendizagem quando crianças mais experientes constituem modelos para as demais.
Com a periodicidade da atividade, as crianças se apropriam dos procedimentos de representação – a escrita do nome; o espaço do desenho; o espaço da escrita –, os quais devem ser retomados sempre no início da atividade para favorecer a concentração e tornar claro o objetivo daquilo que farão, além de propiciar a elas o exercício de sua autonomia intelectual enquanto o professor pode circular na sala para observar e mediar as crianças que tiverem necessidade de mais orientações.
Para elaborar as atividades, o professor pode se apoiar em suas observações durante os momentos em que se apresenta como escriba e que as crianças fazem inferências ao código alfabético relacionando seus conhecimentos à representação realizada, ou nos escritos das crianças representados em atividades propostas como o desenho/escrita (exemplo 1) e a frase-desafio, uma vez que representam indícios de suas hipóteses.
- Coleta de Escrita Espontânea: a partir dos 4 anos, sugere-se o desenho/escrita (exemplo 1) e a frase-desafio, que podem ser realizados uma vez a cada quinze dias, e depois alternadas na rotina semanal. Para tornar o desenho/escrita mais envolvente como atividade de representação, pode-se utilizar elementos de intervenção colados na folha no espaço do desenho (formas geométricas, retalho de tecido, pedaço de papel de diferentes texturas,…), a fim de estimular a criatividade da criança e o aprimoramento de sua representação gráfica.
- Jogos de linguagem: a partir dos 3 anos, pode-se propor quatro jogos diferentes, formando grupos com até quatro crianças em cada mesa. Os jogos podem ser propostos semanalmente e os integrantes dos grupos podem trocar de jogo após o término de uma jogada. As peças devem conter sempre figura/foto bem-definidas e preferencialmente coloridas, o que favorece a discriminação visual. Letras e palavras devem ser escritas em caixa-alta com traçado bem definido e sempre acompanhar as figuras que representam. Conter, no máximo, 20 peças. Exemplos de jogos: memória (figura/ figura; figura/palavra/figura; nomes da turma), dominó (figura/figura; figura/letra), bingo (figuras; letras), caça-figuras (cartela de figuras/letras).
Esse jogo é, em geral, bastante conhecido das crianças, assim não apresenta dificuldade de compreensão quanto ao seu funcionamento, uma vez que consiste na identificação do símbolo/figura igual ou correspondente. O desafio está em discriminar visualmente a imagem da cartela e relacionar com o outro que forma seu par.
Esse jogo também é comum entre as crianças dessa faixa etária e pode ter variações em suas cartelas, desde que contemplem os símbolos das figuras referentes ao tema do jogo, ou seja, se o tema proposto refere-se a animais (vaca, cachorro, gato e galo), além das figuras desses animais, as cartelas poderão conter as palavras e letras correspondentes a elas. Com isso, o desafio constitui a identificação e a correspondência dos elementos que representam o objeto (imagem), envolvendo possibilidades que a criança poderá perceber no decorrer do jogo.
Esse jogo pode ser proposto àquelas crianças que já demonstram hipóteses de escritos, que indicam a construção da palavra de forma a corresponder fonema e grafema. Assim, durante o jogo, a tentativa de identificar a palavra escrita com a figura se constitui um desafio para elas, uma vez que buscarão relacionar o código à sua que decifração. Tem maior pertinência nos grupos que envolvem a faixa etária de 4 a 6 anos.
Material: 4 cartelas contendo 6 figuras diferentes cada uma, 24 palavras escritas em fichas.
Participantes: 4 crianças.
- Cada criança deverá receber uma cartela com diferentes figuras (ou gravuras) para encontrar as palavras correspondentes.
- As fichas com as palavras correspondentes deverão estar dispostas na mesa de modo que cada criança possa pegar aquela que achar conveniente, contudo haverá apenas 1 ficha com a palavra correspondente para cada cartela.
Para encontrar as fichas com as palavras correspondentes, a criança deverá relacionar o escrito com a figura, buscando distinguir o que sabe em relação ao código e decifrar o que está escrito. Em geral, a criança pequena distingue a primeira letra em relação às demais, assim como o faz em relação ao seu próprio nome. Porém isso não é uma regra, ela pode também identificar as letras no meio da palavra e fazer inferências a respeito.
O grupo poderá confrontar suas hipóteses de escrita (as fichas das palavras escolhidas para relacionar às figuras na cartela) e quando houver divergência, as crianças poderão refletir coletivamente a respeito, pois é desse conflito que surgem as discussões entre crianças mais experientes e crianças menos experientes (ZDP), e ocorre a troca de conhecimentos.
Com isso, o jogo propicia a leitura dedutiva pela criança e valoriza diferentes níveis de conhecimentos em relação ao domínio da língua, promovendo a inclusão e, ao mesmo tempo, a confrontação de hipóteses de escrita pelo grupo de crianças em uma mesa coletiva.
Para desafiar as crianças a ampliar seus conhecimentos e aprimorar suas hipóteses acerca da escrita, apresentam-se posteriormente cartelas com pelo menos duas figuras que comecem com a mesma letra, provocando a reflexão em relação às palavras associadas às figuras e maior discussão do grupo em torno dos resultados de cada cartela.
FONTE: Educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental : saberes e práticas
DOWNLOAD: Educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental : saberes e práticas / autores Catarina de Souza Moro [et al] / organizadores: Arleandra Cristina Talin do Amaral, Roseli Correia de Barros Casagrande, Viviane Chulek. – Curitiba : SEED–PR., 2012