A Filosofia na antiga Grécia
Cercava um contraditório (pré) conceito da filosofia na Grécia que os filósofos eram rudes, revoltados e tristes.
Além disso, causavam escândalo. Por vezes, “anarquistas” ou anti-sociais; de outra ridicularizavam os deuses; desencaminhavam a juventude das melhores tradições; e, sobretudo, colocavam jovens e escravos entre aqueles que se rebelavam contra a ordem social ou contra a corrupção da sociedade. Confundiam o pensamento das pessoas com ilusões e mentiras como se elas fossem verdades e como se a verdade fosse ilusão.
Eram, por vezes, grosseiros e cínicos. Muitas vezes ‘céticos’ e irônicos.
Na verdade a filosofia na Grécia era polêmica nas questões que diziam respeito à política, ao poder, à república, à ética, à educação dos jovens.
Para além da Grécia, os filósofos foram incômodos, perseguidos, entregues a tribunais e à Inquisição, muitos mortos, executados, solicitando asilo em outros países. Suas obras queimadas, amaldiçoadas, proibidas.
Quem, na Grécia, achava a filosofia inoportuna?
Uma opinião isolada? O testemunho de pessoas de uma cultura específica? Uma “imprensa” ruim daquela época? Efetivamente, os filósofos serviam por vezes ao poder, por vezes aos injustiçados, por força de crenças por boa ou má verdade; muitos, a troco de dinheiro e poder, por vezes trocando tudo pela verdade e pela honra.
Sempre houve no campo do pensamento humano, concepções e práticas de natureza conflitiva. Este conflito pode vir menos da natureza da filosofia do que do tipo de objetivo que as pessoas utilizam para fazer e viver a filosofia, mas ela depende muito do mundo e da cultura onde as pessoas se situam, e, também das companhias que cercam os filósofos.
Diz-me com quem andas e eu te direi quem és!
Havia filósofos mantidos pelos tronos; filósofos ao lado dos hereges; filósofos que denunciavam outros filósofos; filósofos que trocavam sua vida pela verdade e pelos outros. Filósofos párias, filósofos boêmios, filósofos do dia (diairéticos), filósofos da noite (noturnos), boêmios. E as filosofias deles sustentavam verdades conflitivas. As filosofias tinham o rosto deles. Havia, neste cenário, um filósofo feliz, reconciliado com a alegria: EPICURO.
Tinha seus defeitos como todos nós, mas tinha uma qualidade rara, concebia como imprescindível que os humanos, e todos eles, tivessem livre acesso a uma felicidade que poderia ser confeccionada por eles próprios. Nem os humanos, nem o mundo estavam prontos. O mundo seria o mundo que desejávamos e que nos dispuséssemos a construir.
Epicuro criou um espaço pedagógico para isso: o JARDIM!
- O espaço de filosofar dos outros filósofos eram os espaços públicos da polis, pela qual saiam a caminhar;
- Utilizavam também a agora – espaço de debate coletivo, e mais tarde;
- A academia: espécie de escola para cultivo da arte de fazer humanidades.
Epicuro tinha um território para filosofar muito distinto, o “Jardim”, lugar da liberdade, do pensamento livre, das flores, vinhos, canto, poesias, músicas, danças, de algum embriaguês e orgia moderada. É no espaço que tomamos e que nos toma que nos fazemos corpo, que nos fazemos gente, conforme o poeta “sem comparamentos”
Conhecendo as dificuldades que a realidade oferece para o direito à alegria, Epicuro, orientava que se procurassem aqueles prazeres mais duradouros. Prazeres menos voláteis ou fúteis que respondam com sentido de felicidade aos sentidos e ao corpo, dêem prazer tornando o espírito leve. A alegria maior é aquela que proporciona certa estabilidade e longa duração. Retomava de Aristóteles a ACMÉ, isto é, o ponto de justo equilíbrio entre a saúde biológica, afetiva, emocional e racional.
Epicuro e os novos tempos
Na década de oitenta, um grande encontro de História, na cidade de São Paulo, realizou uma articulação com os principais filósofos e pensadores brasileiros, e o eixo principal era o tempo. Criou-se na ocasião uma rica contribuição interdisciplinar sobre o tempo e a história, retomando das fontes do passado e sua implicação com o presente e o futuro da humanidade.
Este encontro foi proposto e coordenado por Adalto Novais. Neste encontro emergiram algumas categorias que foram sendo criadas e, que após ele, passaram a se fazer presentes em todos os debates na cena econômico-política-cultural do país.
Epicuro e Giordano Bruno
Epicuro era evocado para desmontar o pensamento prático, positivista, de eficácia tecnológica, denunciando os estratagemas da criação de necessidades artificiais e produtos supérfluos, e não naturais, cujo prazer não durava, porque respondia a um interesse imediato, sem dar a felicidade que nele estava prometida. Criava uma rede falsa de prazeres com o fito de roubar a felicidade à qual todo ser humano que retira dele a relação direta com a natureza, com o mundo e com os outros. Tratava-se ainda de dizer acerca da necessidade de vida simples e frugal mas centrada no cultivo pessoal e coletivo do sentido de viver.
Giordano Bruno, filósofo maldito, desde a Renascença, foi escolhido por uma de suas mais lindas obras “Eroico furore” para conduzir à perspectiva da contra-hegemonia, inspiradora do evento. Bruno lutara pela liberdade de pensamento sob a denúncia explícita de que ninguém deveria esperar, salvo por ingenuidade, que “o poder reformasse o poder”.
Veneziano, entregue à Inquisição romana, foi nas imediações do concílio de Trento, executado na fogueira. O “Eroico Furore” narra o grande debate entre o coração e os olhos, isto é, entre o interior e o exterior. E, Giordano Bruno entendia, como Epicuro, que um Filósofo deveria saber apreciar a alegria, os prazeres, sobretudo aqueles ligado à verdade, à justiça e a pureza.
Em Giordano Bruno , o coração se queixa de estar sendo consumido pelas paixões das imagens que os olhos lhe oferecem, e que o incendiava e consumia dentro do peito. Os olhos, entretanto, se defendiam, acusando o coração. As imagens eram apenas imagens sensíveis da luz, o queimor e a paixão vinham do coração que punha chama naquilo que os olhos viam. O encontro Tempo e História pensava em soldar dimensões externas políticas, econômicas e sociais, numa perspectiva de construir mentes e corações.
Tratava-se, ainda, de compatibilizar o tempo e a ação dos intelectuais na transformação da arena política, sobretudo no abuso escancarado do mercado. O Encontro Tempo e História retomavam o curso Heideggeriano de que a função do filósofo – e de todos os seres humanos, portanto, era o de utilizar da filosofia “pensar o seu tempo”. Epicuro , na defesa da vida humana, buscou uma resposta racional contra os limites que perturbando a felicidade semeavam o sofrimento. Formulou três vias grandes, princípios filosóficos que nos ajudariam para lutarmos contra o sofrimento, pois uma filosofia para a felicidade, não podia ser ingênua.
Epicuro via as angústias, a insegurança e o medo do tempo futuro, com a perda da juventude e da saúde, havia infortúnios, sobrevindo, a infelicidade. De alguma maneira buscava o caminho do não-anseio, do não desejo prognosticado pelo budismo e pelo taoísmo. Lutou, pela filosofia do bom senso e contra toda a filosofia que causasse sofrimento humano, e fundou princípio que exorcizavam o tríplice medo que assombrava a humanidade: os deuses, o sofrimento e a morte.
REFERÊNCIAS:
Fundamentos de Filosofia: os caminhos do “Pensar” para quem quer transformação / Luiz Augusto Passos. — 1ª ed., 1ª reimp. — Brasília/DF: Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação, 2014.
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