Arte: Quem tem uma explicação?

Arte: Quem tem uma explicação?Devemos buscar sempre uma explicação, quando estamos em contato com uma obra de arte? A arte precisa de uma explicação? Afinal, quando você está diante de uma obra de arte, muitas vezes você não questiona: “O que é arte?” ou “O que não é arte?” Muitas vezes ouvimos falar em vários termos como: Bienal, Barroco, Rococó, Art-nouveau… Você os conhece? O que eles representam para a arte? Alguns desses termos aparecem na música Bienal, de autoria dos compositores e cantores Zeca Baleiro e Zé Ramalho. Vamos ouvir a música, se possível, e analisar a letra.

Bienal (álbum: Vô Imbolá) – Zeca Baleiro e Zé Ramalho.

Desmaterializando a obra de arte no fim do milênio
Faço um quadro com moléculas de hidrogênio
Fios de pentelho de um velho armênio
Cuspe de mosca, pão dormido, asa de barata torta

Meu conceito parece à primeira vista
Um barrococó figurativo neo-expressionista
Com pitadas de art-nouveau pós-surrealista
Calcado na revalorização da natureza morta

Minha mãe certa vez, disse-me um dia
Vendo minha obra exposta na galeria
Meu filho isso é mais estranho que o cu da jia
E muito mais feio que um hipopótamo insone
Pra entender um trabalho tão moderno
É preciso ler o segundo caderno

Calcular o produto bruto interno
Multiplicar pelo valor das contas de água luz e telefone
Rodopiando na fúria do ciclone
Reinvento o céu e o inferno

Minha mãe não entendeu o subtexto
Da arte desmaterializada no presente contexto
Reciclando o lixo lá do cesto
Chego a um resultado estético bacana

Com a graça de Deus e Basquiat
Nova Iorque me espere que eu vou já
Picharei com dendê de vatapá
Uma psicodélica baiana

Misturarei anáguas de viúva
Com tampinhas de Pepsi e Fanta Uva
Um penico com água da última chuva
Ampolas de injeção de penicilina

Desmaterializando a matéria
Com a arte pulsando na artéria
Boto fogo no gelo da Sibéria
Faço até cair neve em Teresina
Com o clarão do raio da Silibrina
Desintegro o poder da bactéria
Com o clarão do raio da Silibrina
Desintegro o poder da bactéria

Zeca Baleiro. Fonte:  <https://www.letras.mus.br/zeca-baleiro/73692/> acesso em 10/01/2023

Você, algum dia já se sentiu como essa mãe que é citada na música? Já ouviu falar em barrococó, figurativo, neo-expressionista, rodopio, art-nouveau, subtexto, pós-surrealista, psicodélica, natureza morta, pulsação? Você sabe quem é Basquiat? Por trás de cada um desses termos, vislumbramos uma série de conteúdos da Arte. Na sua opinião, o que é “um resultado estético bacana”? Justifique sua escolha. Vamos tentar compreender um pouco disso começando por analisar o próprio título da música: Bienal. Mas, o que significa Bienal?

Bienal

 “Exposição internacional de arte montada a cada dois anos e julgada por um comitê internacional. A primeira e mais famosa bienal foi a de Veneza, instituída em 1895 com o nome de “Exposição Internacional de Arte da Cidade de Veneza” e que pretendia representar “as mais notáveis atividades do espírito moderno, sem distinção de nacionalidade”. A esta Bienal acorreram artistas de 16 países, e o comitê incluiu individualidades tão célebres quanto BurneJones, Israëls, Libermann, Gustave Moreaux e Puvis de Chavannes. A exposição logo adquiriu prestígio mundial, e quando foi montada, após a Segunda Guerra Mundial, em 1948, tornou-se uma espécie de ponto de encontro da vanguarda internacional. Henri Moore, por exemplo, consolidou sua reputação quando recebeu em 1948 o prêmio Internacional de Escultura. Outras Bienais foram inauguradas segundo o modelo de Veneza; dessas, as mais prestigiosas são a de São Paulo, fundada em 1951, e a de Paris, fundada em 1959”. (CHILVERS, 1996, p.61)

Bienal é um evento – completo e complexo também – que pode envolver diversas modalidades artísticas, na qual podem ser expostas obras de Artes Visuais, Audiovisuais, Teatro e Dança (a Performance é um exemplo). Assumindo formato próximo ao das bienais, há também as exposições em Salões de Arte. Por exemplo: o Salão de Arte Paranaense, que ocorre uma vez por ano, atualmente no Museu de Arte Contemporânea, em Curitiba. Enquanto os Salões são momentos de apresentação da produção mais recente dos artistas, as bienais são eventos responsáveis por projetar obras inusitadas, pouco conhecidas e por refletir as tendências mais marcantes no cenário artístico global. Por isso, quem imagina que nesses eventos encontrará apenas obras consideradas pelo senso comum como “bonitas”, e que podem ser colocadas nas paredes como simples objetos decorativos, está muito enganado. Leia o quadro a seguir e analise o que Cristina Costa escreveu sobre isto:

“Muitos falam em arte referindo-se às obras consagradas que estão em museus, às músicas eruditas apresentadas em grandes espetáculos ou ainda aos monumentos existentes no mundo. Alguns consideram arte apenas o que é feito por artistas consagrados, enquanto outros julgam ser arte também as manifestações de cultura popular, como os romances de cordel, tão comuns no Nordeste do Brasil. Para muitos, as manifestações de cultura de massa, como o cinema e a fotografia, não são arte, ao passo que outros já admitem o valor artístico dessas produções, ou pelo menos de parte delas. Não são poucos os que, mesmo diante das obras expostas em eventos artísticos famosos, sentem-se confusos a respeito do que vêem”. (COSTA, 1999, p. 07) 

Então, após ter refletido sobre a citação acima, a qual conclusão você chegou? Uma obra de arte, para ter qualidade, tem que ser necessariamente bonita? Por quê? Além do termo Bienal, e retomando outros da música de Zeca Baleiro, você sabia que “Barrococó” é nada mais, nada menos do que a junção do nome de dois movimentos e períodos da História da arte denominados: Barroco e Rococó? Talvez você já tenha ouvido algo semelhante a isto: “A grade da janela de minha casa é cheia de rococós”. O que são estes “rococós”? De onde vêm estes termos? A arte está presente no nosso dia-a-dia, faz parte de nossa vida e às vezes nem a percebemos. Por quê? As aulas de arte possibilitariam uma melhor compreensão dessas e de outras questões?

Afinal o que é arte? 

A arte, como veremos a seguir, tem sido definida de diferentes formas, sendo que nenhuma delas chegou a esgotar o seu conteúdo ou significado.

Arte, para JANSON (1993, pg. 11), é, em primeiro lugar, uma palavra que pode significar tanto o conceito de arte como a existência do objeto arte.

Para KOSIK (2002) a arte é parte integrante da realidade social, é elemento de estrutura de tal sociedade e expressão da prática social e espiritual do homem.

Já para MERLEAU-PONTY (1980), a arte não é tradução do mundo, mas a instalação de um mundo. “A expressão não pode ser então a tradução de um pensamento já claro, pois que os pensamentos claros são os que já foram ditos em nós ou pelos outros”.

Alguns artistas também tentaram definir um conceito para a arte, conheça alguns:

“Será Arte tudo o que eu disser que é Arte” (Marcel Duchamp).

“A Arte é uma mentira que nos permite dizer a verdade” (Pablo Picasso).

“A Arte não reproduz o visível, torna visível” (Paul Klee).

“A Arte não tem nada a ver com o gosto, não há nada que o prove” (Marx Ernst).

“A beleza perece na vida, porém na Arte é imortal” (Leonardo Da Vinci).

“A fantasia, isolada da razão, só produz monstros impossíveis. Unida a ela, ao contrário, é a mãe da Arte e fonte de seus desejos” (Francisco de Goya).

“Enquanto a ciência tranquiliza, a Arte perturba” (George Braque).

“Se eu pinto meu cachorro exatamente como é, naturalmente terei dois cachorros, mas não uma obra de arte” (Johann Wolfgang Von Goethe).

A partir de tantas reflexões sobre o que é arte, surge a necessidade de se compreender, o período, os movimentos e o contexto em que estavam alguns desses autores para compreendermos o real sentido das suas definições para a Arte. Porém, nosso objetivo é chamar sua atenção para o seguinte fato: há muito tempo se discute o sentido da arte, sem que se chegue, porém, a um único significado, cabível a qualquer cultura em qualquer época.

E você, como definiria arte?

REFERÊNCIAS:

Arte / vários autores. – Curitiba: SEED-PR, 2006. – 336 p


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