A violência tem impacto significativo sobre a saúde mental das crianças, especialmente quando abala suas fontes de segurança – familiar, escolar ou social. Atender a crianças que sofrem maus-tratos é uma tarefa desafiadora para profissionais de saúde.
Faz parte de uma nova consciência social de proteção à infância e adolescência que busca se consolidar no país, especialmente a partir do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), vigente no Brasil desde 1990. Apesar de não ser um problema novo para profissionais de saúde, existe uma demanda crescente de atendimentos a casos de violência contra a criança e o adolescente nos serviços públicos de saúde.
Grande parte dos casos de maus-tratos que chegam aos serviços de saúde não é identificada pelos profissionais, assim como acontece com os transtornos de ansiedade. Essas crianças, além de sofrerem com o impacto que essas situações lhes provocam, ainda se defrontam com a precariedade de recursos dos serviços de saúde.
Uma questão ética também permeia esse problema, já que são fortes o medo e a recusa de se envolver com o que é considerado um “problema alheio”. No entanto, cabe reforçar que a identificação dos casos de maus-tratos que chegam aos serviços de saúde, é necessária e possível.
O primeiro passo é conhecer com mais profundidade o problema da violência, e para isso é importante o diálogo sobre o assunto com colegas de trabalho, buscando informações em diversas publicações disponíveis.
A experiência clínica junto com a leitura de textos sobre o tema, oferecem diversas pistas para identificação de maus-tratos. Após suspeita ou confirmação de casos, existem algumas sugestões de atendimento (Deslandes, 1994):
Lembramos também que a prevenção primária dos maus-tratos é tarefa fundamental dos profissionais de saúde. É possível atuar preventivamente durante o atendimento pré-natal com orientações pertinentes sobre os danos causados por práticas abusivas contra os filhos. No pós-natal, um aspecto importante é identificar bebês de alto risco a fim de realizar avaliação e acompanhamento mais criteriosos, sempre sob a orientação de equipe multiprofissional de saúde.
Lidar com crianças com transtornos de saúde mental é um grande desafio a ser enfrentado pelos profissionais de saúde que atuam na rede básica. Não existe ainda, nem no Brasil e nem em muitos países mais desenvolvidos ou em desenvolvimento, larga experiência na incorporação do atendimento da saúde mental infantil no cotidiano dos serviços básicos de saúde, como mostram diagnósticos internacionais (WHO, 2005; BMA, 2006).
De uma forma geral, acreditamos que profissionais de saúde deveriam receber treinamento nas aptidões essenciais da atenção à saúde mental. Esse treinamento garante o melhor uso de conhecimentos disponíveis para o maior número de crianças e possibilita a imediata aplicação de intervenções. A saúde mental infantil deve ser incluída nos programas de formação de médicos, enfermeiros e demais profissionais de saúde, com cursos de atualização destinados a melhorar a efetividade do manejo de transtornos mentais nos serviços gerais de saúde.
Todavia, profissionais generalistas não devem substituir o papel dos especialistas em saúde mental e sim ocupar o seu próprio papel de acolher, diagnosticar, acompanhar e, quando necessário encaminhar as crianças, especialmente as ansiosas e suas famílias, igualmente necessitadas de apoio. Em situações excepcionais, a capacitação em saúde mental de profissionais de saúde como pediatras e enfermeiros pode ajudar a apoiar crianças que precisam de ajuda e moram em localidades onde não é possível encontrar profissionais especializados.
Mas, medidas emergenciais como estas apenas reforçam a necessidade das Secretarias de Saúde e do Ministério da Saúde investirem na formação de uma rede de assistência com serviços de referência para crianças com problemas de saúde mental, bem como fomentar a formação de profissionais especializados nos municípios brasileiros.
REFERÊNCIAS:
Assis, Simone Gonçalves de Ansiedade em crianças: um olhar sobre transtornos de ansiedade e violências na infância / Simone Gonçalves de Assis; Liana Furtado Ximenes; Joviana Quintes Avanci; Renata Pires Pesce. — Rio de Janeiro: FIOCRUZ/ENSP/CLAVES/CNPq, 2007. 88p. (Série Violência e Saúde Mental Infanto-Juvenil)
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