É muito provável que você já tenha ouvido falar no Transtorno de Déficit de Atenção/ Hiperatividade. É um tema bastante comentado nas mídias digitais, escolas e comunidade em geral, e provoca opiniões, muitas vezes, divergentes e distorcidas. Há aqueles que dizem ser uma invenção, que não passa de falta de limites e interesses médicos e da indústria farmacêutica. Outros acreditam que estamos vivendo uma epidemia do transtorno. Essas duas compreensões estão equivocadas. O TDAH não é uma invenção.
Trata- -se de um transtorno reconhecido oficialmente pela Organização Mundial da Saúde (OMS), tendo as primeiras referências – com outra nomenclatura – datadas da metade do século XIX (ROHDE, et al., 2000). Também não há uma epidemia, o que ocorre é que, devido ao maior conhecimento acerca do transtorno, verificam-se mais diagnósticos. Sendo este, atualmente, o transtorno mais comum entre os transtornos neuropsiquiátricos de início na infância. A prevalência estimada é de 5% das crianças e 2,5% dos adultos, sendo mais comum no sexo masculino (DSM-5, 2014).
Mas afinal, o que é o TDAH?
Caracteriza-se pela presença persistente de sintomas de desatenção e/ou hiperatividade/impulsividade que interferem no funcionamento do indivíduo e seu desenvolvimento, impactando negativamente as atividades sociais, acadêmicas e/ou profissionais (DSM-5, 2014).
A presença e a intensidade dos sintomas de desatenção e/ou hiperatividade/ impulsividade variam em maior ou menor grau, de modo que o transtorno pode apresentar três subtipos, quais sejam: apresentação predominantemente desatenta; apresentação predominantemente hiperativa/impulsiva e apresentação combinada (desatenta e hiperativa/impulsiva), conforme Quadro 8.
Para o diagnóstico do TDAH, os sintomas (desatenção e/ou hiperatividade-impulsividade) devem estar presentes antes dos 12 anos de idade; devem se manifestar ao menos em dois ambientes distintos (exemplo: escola e casa); devem acarretar prejuízos no funcionamento social, acadêmico ou profissional e não podem ser causados por outras condições psiquiátricas, como transtorno psicótico, de humor, de ansiedade, intoxicação ou abstinência de substância, entre outros (DSM-5, 2014).
Serão explanadas a seguir as principais características deste transtorno. Deve-se considerar que elas podem estar presentes em todas as pessoas. O que vai sugerir a ocorrência do transtorno é a intensidade, a frequência e o prejuízo que causam na vida do indivíduo.
Provavelmente, em diversos momentos você já desejou ter mais atenção, ser menos inquieto, já esqueceu onde colocou objetos, já ficou impaciente ao esperar em uma fila. Isso não quer dizer que você tenha o TDAH, o diagnóstico é complexo e deve ser feito por profissionais qualificados.
São características comuns na DESATENÇÃO (DSM-5, 2014):
- Apresenta dificuldade em prestar atenção a detalhes, o que contribui para que ocorram erros por descuido;
- Apresenta dificuldade para manter o foco da atenção em atividades lúdicas ou conversas mais longas; não responde quando chamado, parece estar “no mundo da lua”, mesmo não havendo nenhuma distração aparente;
- Esquece compromissos, material escolar, etc.;
- Perde materiais escolares e de uso pessoal;
- Não consegue manter materiais e objetos pessoais organizados;
- Distrai-se com facilidade;
- Demonstra falta de persistência nas atividades, não seguindo instruções até o fim e não concluindo no prazo;
- Apresenta dificuldade em gerenciar o tempo;
- Evita tarefas que exijam esforço mental prolongado.
É importante destacar que a atenção é uma função cognitiva essencial para a aprendizagem, uma vez que permite que as informações disponíveis em nossos órgãos dos sentidos sejam assimiladas, organizadas e memorizadas (BRIDI-FILHO; BRIDI; SALGUEIRO, 2016).
São características comuns na HIPERATIVIDADE/IMPULSIVIDADE (DSM-5, 2014): A hiperatividade caracteriza-se por uma atividade motora excessiva, em que podem estar presentes manifestações como:
- Remexer na cadeira, batendo as mãos ou os pés;
- Ter dificuldade em permanecer sentado, levantando-se com frequência;
- Correr, saltitar e subir em situações e locais inapropriados;
- Ter dificuldade em envolver-se forma calma e silenciosa em atividades de lazer e brincadeiras;
- Apresentar dificuldade em parar, parece estar sempre “a mil”;
- Falar bastante e sem parar.
A impulsividade refere-se a ações precipitadas que ocorrem sem premeditação, é o agir sem pensar. São manifestações frequentes:
- Ter dificuldade em aguardar a sua vez;
- Responder antes que a pergunta tenha sido concluída;
- Interromper ou intrometer-se em conversas e atividades dos outros.
Além dos prejuízos na aprendizagem, “um sintoma frequente é a dificuldade de socialização, pois seus portadores não cooperam em atividades de grupo e seu comportamento é considerado difícil não só pelos adultos, mas pelas outras crianças, o que resulta na carência de amigos” (COSENZA, GUERRA, 2011, p. 136).
Adaptações e recomendações em sala de aula
Como visto, o TDAH pode se apresentar de diferentes maneiras e é essencial que o professor observe o seu aluno, identifique quais suas principais dificuldades, o que mais prejudica o seu desempenho e quais são os seus interesses. A partir disso, pode eleger algumas adaptações em sala de aula de modo a favorecer o processo de ensino-aprendizagem. Abaixo seguem algumas estratégias:
- Utilizar recursos organizadores como: lembretes em agendas e/ou cadernos, listas de tarefas, anotações em provas e trabalhos, quadro de avisos e cronogramas;
- Estabelecer regras e rotinas, de preferência junto com os alunos;
- Evitar instruções muito extensas e parágrafos muitos longos. Dar preferência para mais tarefas com menos tempo de execução;
- Priorizar que atividades que exijam maior atenção sejam feitas no início da aula;
- Associar o assunto da aula com situações do contexto do aluno ou que tenha alguma aplicação prática;
- Utilizar recursos audiovisuais ou sensoriais;
- Proporcionar pequenos intervalos entre as atividades;
- Fazer combinações sobre saídas. Permitir que o aluno se movimente, criar momentos específicos para isso (exemplo: peça um favor, dê a ele uma tarefa que o faça se movimentar);
- Permitir que o aluno manipule objetos silenciosos na sua carteira (exemplo: bolas macias para apertar);
- Não punir o aluno deixando-o sem intervalo/recreio. O aluno com TDAH necessita de intervalos e pausas;
- Utilizar estratégias de ensino ativo que incorporem a atividade física com o processo de aprendizagem;
- Priorizar provas com questões curtas, objetivas e claras. O aluno com TDAH comete erros por descuido. É importante destacar, negritar palavras importantes (exemplo: “Assinale a alternativa INCORRETA”). Alguns se organizam melhor quando o professor lê a prova antes de iniciá-la;
- Oportunizar outras formas de avaliação, como trabalhos em grupo, teatro, experiências, etc.;
- Solicitar ao aluno que repita a instrução de uma determinada atividade. Alternar entre os alunos favorece a atenção de toda a turma;
- Evitar lugares com muitas distrações. Deixe o aluno próximo ao professor;
- Valorizar progressos sucessivos ao invés de esperar pelo comportamento perfeito;
- Oferecer diferentes formas de estudos até que seja encontrada a mais adequada para aquele aluno;
- Alternar o tipo de atividades em sala de aula, não ficar apenas com o texto e a cópia;
- Manter contato frequente com os pais e outros profissionais que possam acompanhar o aluno;
Importante notar que estas recomendações auxiliarão a todos os alunos e não somente aqueles que tenham algum transtorno de aprendizagem ou TDAH. Quanto ao aluno com TDAH, é comum que necessite fazer uso de medicação e realizar acompanhamento psicológico e/ou psicopedagógico.
E, lembre-se, muitos destes alunos podem ter estabelecido uma relação negativa com a aprendizagem, significando o contexto escolar como um espaço de fracasso e inadequação. Diante disso, é fundamental que se desperte ou se resgate no aluno o desejo e o prazer em aprender.
Saiba mais: A prova do EXAME NACIONAL DO ENSINO MÉDIO – ENEM – prevê Atendimento Especializado para pessoas com baixa visão, cegueira, visão monocular, deficiência física, deficiência auditiva, surdez, deficiência intelectual, surdocegueira, transtorno do espectro autista, dislexia, déficit de atenção, e discalculia. Esse atendimento era destinado somente a pessoas com deficiência. Atualmente, após a comprovação do diagnóstico, o aluno pode solicitar o recurso de acessibilidade que necessitar, dentre eles: o auxílio para leitura; tempo adicional e auxílio para transcrição. Na correção da redação dos participantes com dislexia são adotados mecanismos de avaliação que consideram as características linguísticas desse transtorno específico.
Título : Psicologia do desenvolvimento e da aprendizagem
Autoras : Josieli Piovesan, Juliana Cerutti Ottonelli , Jussania Basso Bordin e Laís Piovesan
Fonte:Psicologia do desenvolvimento e da aprendizagem [recurso eletrônico] / Josieli Piovesan … [et al.]. – 1. ed. – Santa Maria, RS : UFSM, NTE, 2018.
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