Teoria Sociointeracionista de Vygostky

Lev Semenovich Vygotsky (1896-1934) foi um psicólogo bielo-russo, que realizou diversas pesquisas na área do desenvolvimento da aprendizagem e do papel preponderante das relações sociais nesse processo, as quais originaram a perspectiva sociointeracionista da aprendizagem.

As formulações de Vygotsky possibilitaram uma maior compreensão do pens]mento enquanto função cerebral, valorizando o processo de apropriação dos saberes culturais pelas crianças. Seus estudos remetem à discussão das relações entre pensamento e linguagem, à questão da mediação cultural no processo de construção de significados por parte do indivíduo, ao processo de internalização e ao papel da escola na transmissão de conhecimentos, exercendo forte influência em pesquisas sobre a linguagem, a mente, a cognição, a cultura e o pensamento humano.

Um dos pressupostos básicos de Vygotsky é a ideia de que o “ser humano constitui-se como tal na sua relação com o outro social” (LA TAILLE et al, 1992, p. 24). Para Vygotsky, o desenvolvimento cognitivo ocorre por meio da interação do sujeito com o meio social. Assim, o homem é um ser ativo, histórico e social que através de interações constrói e modifica o ambiente.

Em Vygotsky, “a cultura torna-se parte da natureza humana num processo histórico que, ao longo do desenvolvimento da espécie e do indivíduo, molda o funcionamento psicológico do homem” (LA TAILLE et al, 1992, p.24). Vygotsky dedicou-se ao estudo das funções psicológicas superiores que contemplam os processos que envolvem memória, atenção, imaginação, planejamento, ação intencional, representação simbólica, pensamento abstrato, capacidade de solucionar problemas, formação de conceitos, linguagem, dentre outros.

Tais funções humanas têm origem nas relações do indivíduo em seu contexto social e cultural. No decorrer deste processo, o homem também forma sua personalidade. “As funções psicológicas superiores do ser humano surgem da interação dos fatores biológicos, que são parte da constituição física do Homo sapiens, com fatores culturais que evoluíram através de dezenas de milhares de anos de história humana” (LURIA, 1992, p. 60).

Vygotsky (2007, p. 76) também afirma que as características específicas do ser humano não são inatas, mas desenvolvem-se ao longo da vida. Para ele, “[…] a internalização das atividades socialmente enraizadas e historicamente desenvolvidas constitui o aspecto característico da psicologia humana. Até agora, conhece-se apenas um esboço desse processo”. De acordo com Vygotsky, Luria e Leontiev (2003):

Vygotsky concluiu que as origens das formas superiores de comportamento consciente deveriam ser achadas nas relações sociais que o indivíduo mantém com o mundo exterior. Mas o homem não é apenas um produto de seu ambiente, é também um agente ativo no processo de criação deste meio (LURIA; LE[1]ONTIEV, 2003, p. 25).

Neste sentido, destaca que “o aprendizado humano pressupõe uma natureza social específica e um processo através do qual as crianças penetram na vida intelectual daqueles que as cercam” (VYGOTSKY, 2007, p.100). As formulações de Vygotsky permitem observar a existência de duas características diferentes na educação formal: a sistematização dos conhecimentos e a interação com os pares.

Nesse aspecto, um dos grandes legados de Vygotsky para a educação está nos conceitos de Zona de Desenvolvimento Real, Zona de Desenvolvimento Proximal e Zona de Desenvolvimento Potencial. A partir de tais conceitos é possível concluir que a inserção social do sujeito, sua interação com o outro, interfere significativamente no desenvolvimento intelectual, o qual está estreitamente ligado à aprendizagem.

Segundo Vygotsky (2007), a Zona de Desenvolvimento Real refere-se ao “nível de desenvolvimento das funções mentais da criança que se estabelecem como resultado de certos ciclos de desenvolvimento já completados” (p. 95-96). Nisso reside a importância de, além das características do desenvolvimento, a escola considerar o conhecimento que a criança já possui.

A Zona de Desenvolvimento Potencial refere-se ao que o sujeito pode aprender com o outro, cuja aprendizagem encontra-se num nível mais elevado. A Zona de Desenvolvimento Proximal alude ao espaço entre o que a criança já possui e o que ela precisa construir, ou seja, as funções que ainda estão em processo de maturação.

É um domínio psicológico em constante transformação, em que a criança se desenvolve com o auxílio de outras crianças e adultos mais experientes. Em síntese, a Zona de Desenvolvimento Proximal é:

[…] a distância entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar através da solução independente de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através da solução de problemas sob a orientação de um adulto ou em colaboração com companheiros mais capazes (VY[1]GOTSKY, 2007, p.97).

O conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal mostra que com auxílio do outro a criança tem possibilidade de produzir mais do que produziria sozinha. Aponta o potencial da criança frente às possibilidades ainda não realizadas e destaca a importância da mediação tanto para a construção de conhecimentos como para o desenvolvimento das relações sociais.

Teoria Sociointeracionista de Vygostky

A imagem auxilia a clarear tais conceitos. Como vemos, na Zona de Desenvolvimento Real está o saber atual, isto é, todas as aprendizagens que a criança já construiu, tudo aquilo que ela é capaz de fazer sem necessitar da ajuda de outras pessoas. Por exemplo: amarrar os sapatos, vestir a roupa, andar, subir e descer escadas, andar de bicicleta, montar um quebra-cabeça, escrever, desenhar, entre outras atividades realizadas sem a intervenção de outra pessoa.

No centro da figura, está a Zona de Desenvolvimento Proximal, onde a ponte indica um caminho a ser percorrido. É o lugar das aprendizagens que estão sendo construídas, de tudo aquilo que a criança ainda não sabe, mas que pode aprender com o auxílio de pessoas mais experientes. Por isso é um lugar de mediação, de interação, de trocas com o professor, com os colegas, com outras pessoas que podem auxiliar a criança aprender.

Existem tarefas que a criança ainda não consegue realizar sozinha, mas se torna capaz de realizar se alguém lhe der um exemplo, uma instrução de como fazer, fornecer pistas ou auxiliar na execução da tarefa para que entenda o processo. Por exemplo: para uma criança que ainda não consegue andar sozinha, para aprender a andar precisa que um adulto a segure pela mão e a ensine, mas ela precisa estar num determinado nível de desenvolvimento (por volta de um ano de idade).

Uma criança de dois ou três meses, mesmo com a ajuda de um adulto, não é capaz de andar. Posterior à Zona de Desenvolvimento Proximal está a Zona de Desenvolvimento Potencial que é o saber a ser alcançado, ou seja, conhecimentos que a criança ainda não construiu, aquilo que ainda não sabe, que não consegue fazer sozinha, nem com a ajuda de outras pessoas.

É importante dizer que cada nova aprendizagem que a criança consegue realizar se torna um saber atual e vai aumentando sua capacidade de aprender coisas novas. Assim, aquilo que a criança não conseguiria realizar mesmo que recebesse ajuda de outra pessoa vai se tornando mais acessível à sua capacidade e ela passa a conseguir realizar com auxílio, até a aprendizagem se tornar completa e ela realizar sozinha.

Nessa perspectiva, o professor desempenha uma função fundamental para o desenvolvimento da criança, na medida em que pode possibilitar diferentes maneiras de interação e construção do conhecimento. Vygotsky (2007) critica o aprendizado orientado para os níveis de desenvolvimento que já foram alcançados pelas crianças, pois torna o trabalho educativo ineficaz do ponto de vista do desenvolvimento global da criança. Acrescenta que a noção de Zona de Desenvolvimento Proximal propõe que o “bom aprendizado” é aquele que se adianta ao desenvolvimento (p. 102).

Segundo o autor:

[…] aprendizado não é desenvolvimento; entretanto, o aprendizado adequadamente organizado resulta em desenvolvimento mental e põe em movimento vários processos de desenvolvimento que, de outra forma, seriam impossíveis de acontecer. Assim, o aprendizado é um aspecto necessário e universal do processo de desenvolvimento das funções psicológicas culturalmente organizadas e especificamente humanas (VYGOTSKY, 2007, p. 103).

Assim, faz-se necessária uma compreensão de desenvolvimento a partir de um processo dinâmico de aprendizagem, constituído por idas e vindas, elaborações e reelaborações, em que a aprendizagem estimula o processo de desenvolvimento, que por sua vez incita processos internos que, ao serem internalizados, tornam-se aquisições independentes da criança (DAINÊZ, 2009).

Outro aspecto importante na teoria de Vygotsky é a ideia de mediação. As relações sociais dos seres humanos são mediadas por instrumentos e símbolos desenvolvidos culturalmente pelo próprio homem. O desenvolvimento da linguagem, instrumento de comunicação e síntese do conhecimento, marca qualitativamente a evolução da espécie e do indivíduo (LA TAILLE, et al.,1992).

A mediação ocorre tanto nos processos de representação mental de natureza simbólica, em que o ser humano é capaz de estabelecer relações mentais na ausência de referências concretas, como no aspecto social, com a internalização de formas de comportamento culturalmente estabelecidas, num processo que transforma as atividades externas, funções interpessoais, em atividades internas, intrapsicológicas.

No que refere à intervenção pedagógica, La Taille et al. (1992) afirmam que ela provoca avanços na aprendizagem que não ocorreriam espontaneamente. A importância da intervenção deliberada de um indivíduo sobre outro, com o intuito de promover desenvolvimento, articula-se como a ideia de Vygotsky de que a aprendizagem é fundamental para o desenvolvimento desde o nascimento da criança.

É importante ressaltar que para este teórico a aprendizagem começa muito antes de a criança entrar na escola. Mas é na escola que o aluno entra em contato com saberes formalizados, diferentes dos saberes do senso comum.

Título : Psicologia do desenvolvimento e da aprendizagem

Autoras : Josieli Piovesan,  Juliana Cerutti Ottonelli , Jussania  Basso Bordin e Laís Piovesan

Fonte: Psicologia do desenvolvimento e da aprendizagem [recurso eletrônico] / Josieli Piovesan … [et al.]. – 1. ed. – Santa Maria, RS : UFSM, NTE, 2018.

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