Importante salientarmos que as teorias crítico-reprodutivas, como já estudamos, operam uma crítica forte à hegemonia instalada na sociedade capitalista, neste sentido elas participam do movimento contra-hegemônico (SAVIANI, 2013). Teorias crítico-reprodutivas “elas são teorias sobre educação e não teorias da educação” conforme (SAVIANI, 2013, p.63).
Atenção: toda pedagogia é teoria da educação, porém, nem 1 toda teoria da educação é pedagogia.
A pedagogia busca equacionar, de alguma maneira o problema da relação entre educador-educando, de modo geral, ou, no caso específico da escola, sempre buscando orientar o processo de ensino e aprendizagem. Seguindo o pensamento e estudos de Saviani (2013) iremos abordar e identificar as formulações contra-hegemônicas ou as pedagogias de esquerda. Com o processo de abertura democrática, eis que um conjunto de fatores que marcaram a década de 1980 como um momento privilegiado para a emersão de propostas pedagógicas contra-hegemônicas, conforme esquema na Figura 28.
Saviani (2013) porém, nos diz que há dois aspectos que operam com fatores limitativos:
- Caráter de transição;
- Heterogeneidade dos participantes e das próprias propostas.
termo do glossário: significado de Heterogeneidade – Característica do que é heterogêneo, sem uniformidade, coerência e/ou correspondência: o meio urbano apresentava maior heterogeneidade social. Particularidade do que é composto por partes distintas; inomogeneidade.
Transição é uma palavra ambígua, podendo significar transição para a democracia como transição que é feita à democracia. Mas transição significa, passagem, movimento, logo ficamos pensando então o que significa essa transição “democrática”? Respondendo à pergunta podemos notar que existe um sentindo sociológico de ambiguidade, os grupos dominantes, a burguesia, utilizavam-se da transição democrática como uma forma de preservação dos seus próprios privilégios. Já os grupos dominados, veem a transição democrática como libertação.
Logo, a transição só pode ser feita por ruptura decorrente de luta por uma forma de democracia. Deste modo, as ideias contra-hegemônicas também continham certa ambiguidade, indo desde os liberais progressistas até os radicais anarquistas, passando pela concepção libertadora e por uma preocupação com uma fundamentação marxista (SAVIANI, 2013). Snyders (1974) afirma que as propostas contra-hegemônicas seriam a expressão “pedagogia de esquerda” e não “pedagogia marxista ou revolucionária”. Logo, Saviani também concorda com Snyders com a denominação de pedagogia de esquerda.
Pedagogias da educação popular, Pedagogia da prática e Pedagogia crítico-social dos conteúdos
Primeiramente iremos abordar a pedagogia da educação popular, posteriormente veremos a pedagogia da prática e para finalizar essa subunidade iremos dar uma breve esplanada sobre a pedagogia crítico-social dos conteúdos.
Antes de abordarmos sobre educação popular, precisamos definir o termo “popular”. Conforme Kautscher popular é:
A concepção mais comum que se observa, inclusive nos dicionários, é de “popular” como sendo algo do povo, para o povo, que atende às necessidades do povo. Usaremos a concepção de Paulo Freire, entendendo “popular” como sinônimo de oprimido, aquele que vive sem as condições elementares para o exercício de sua cidadania e que está fora da posse e uso dos bens materiais produzidos socialmente. Assim, podemos definir a Educação Popular como uma teoria de conhecimento referenciada na realidade, com metodologias incentivadoras à participação e ao empoderamento das pessoas permeado por uma base política estimuladora de transformações sociais e orientado por anseios humanos de liberdade, justiça, igualdade e felicidade. (KAUTSCHER, 2010, s/p.)
Para Paulo Freire a educação popular pode ser aplicada em qualquer lugar e em qualquer momento, onde o educador busca criar, incentivar, mediar a construção do conhecimento, na Figura 29 a seguir, Paulo Freire se refere a ensinar e aprender como:
Segundo Brandão (1986), os educadores pensam a educação em domínios restritos: a universidade, o ensino fundamental, o ensino médio, a alfabetização, a educação de jovens e adultos. Muitas vezes a educação acaba por tomar domínios restritos, determinados socialmente, quando deveriam atender às necessidades do contexto, do cotidiano do aluno, enfim, da cultura do educando.
Para pensar em Educação Popular é necessário, portanto, repensar a educação, quando se fala no panorama social, é a condição da permanente recriação da própria cultura sendo. Por isso, a razão da dominação da cultura entre outros. Porém, no panorama individual a educação é a condição de criação do indivíduo, é a relação de saber das trocas entre pessoas, logo, aprender é formar-se pessoa a partir do organismo, realizando a passagem da natureza à cultura (BRANDÃO, 1986 apud KAUTSCHER, 2010, s/p.).
Contudo, para Brandão (1986) apud Kautscher (2010)
Houve primeiro um saber de todos que se tornou sábio e erudito e que, por oposição, estabelece como popular o saber do consenso onde se originou, tratando o erudito como a forma própria, centralizada e associada a especialistas da educação enquanto vê o popular como o conhecimento difuso, interior da vida subalterna. (BRANDÃO, 1986, apud KAUTSCHER, 2010, s/p.)
Logo, um saber da comunidade torna-se o saber das frações (classes, grupos, povos, tribos) subalternas da sociedade desigual. Em um primeiro e longínquo sentido, as formas – imersas ou não em outras práticas sociais, por meio das quais o saber das classes populares ou das comunidades sem classes é transferido entre grupos ou pessoas, formando-se assim, a educação popular. (BRANDÃO, 1986, apud KAUTSCHER, 2010, s/p.)
Inspirando-se na concepção libertadora de Paulo Freire e nas ideias libertárias construtivistas, a pedagogia da prática surgiu como proposta em consonância com os princípios anarquistas, trabalhando com o conceito de classe. A pedagogia da prática busca no educando o seu convívio com a sociedade, a vivência deste. Articulando-se politicamente com os interesses das camadas populares, buscando solucionar de forma prática os problemas educacionais, colocando em prática as ações.
As propostas da pedagogia crítico-social foram desenvolvidas no Brasil, por Dermeval Saviani, o qual se baseia em vários autores, como: Marx, Grasmci, Kosik, Snyders, entre outros. Segundo Aranha (1996) junto a Saviani outros educadores apareceram a favor da pedagogia crítico-social, dos quais destaca-se José C. Libâneo, Carlos R. J. Cury e Guiomar N. de Mello. Segundo Aranha, a Pedagogia Crítico-social dos conteúdos, ou, como também é conhecida, a Pedagogia Histórica-crítica, busca:
Construir uma teoria pedagógica a partir da compreensão de nossa realidade histórica e social, a fim de tornar possível o papel mediador da educação no processo de transformação social. Não que a educação possa por si só produzir a democratização da sociedade, mas a mudança se faz de forma mediatizada, ou seja, por meio da transformação das consciências. (ARANHA, 1996, p. 216)
Percebe-se na fundamentação desta pedagogia uma preocupação com a transformação social, partindo da compreensão da realidade, das vivências sociais do sujeito, onde busca-se entender não como algo que acontece naturalmente, mas sim construído de forma cultural.
FONTE:
Teorias da educação [recurso eletrônico] / Cíntia Moralles Camillo, Liziany Müller Medeiros. – Santa Maria, RS : UFSM, NTE, 2018.
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