Entre o período de 1924 e 1925, alguns artistas surrealistas escreveram um manifesto artístico no qual se propunham exprimir, por meio das diversas formas de expressão artística – artes visuais, música, poesia, cinema – o pensamento inconsciente, livre de qualquer controle da razão. Pretendiam romper com quaisquer regras ou preocupações sobre o que pudessem pensar sobre essa arte.
Os artistas surrealistas produziram obras que mostram cenas interessantes, diferentes, ilógicas e, às vezes, amedrontadoras, permitindo que o inconsciente se expressasse na arte, exprimindo as contradições que, segundo eles, ocorrem entre sonho e realidade. O Manifesto Surrealista foi lançado em Paris, em 1924, por André Breton, que vive a aventura do surrealismo como uma experiência existencial, fazendo investigação sobre o homem e o mundo do seu tempo, e como um meio de renovar a arte. Leia um trecho do Manifesto:
Fica a loucura. “a loucura que é encarcerada”, como já se disse bem. Essa ou a outra. Todos sabem, com efeito, que os loucos não devem sua internação senão a um reduzido número de atos legalmente repreensíveis, e que, não houvesse estes atos, sua liberdade (o que se vê de sua liberdade) não poderia ser ameaçada. Que eles sejam, numa certa medida, vítimas de sua imaginação, concordo com isso, no sentido de que ela os impele à inobservância de certas regras, fora das quais o gênero se sente visado, o que cada um é pago para saber. Mas a profunda indiferença de que dão provas em relação às críticas que lhe fazemos, até mesmo quanto aos castigos que lhes são impostos, permite supor que eles colhem grande reconforto em sua imaginação e apreciam seu delírio o bastante para suportar que só para eles seja válido. (BRETON, Manifesto do Surrealismo, 1924, apud BATCHELOR, 1998, p.50
Qual o conceito de loucura que Breton retrata nesse Manifesto?
Loucura! Loucura! Loucura!
No século XX, quando se desenvolve o processo de industrialização da produção econômica, a urbanização e o desenvolvimento das ciências tecnológicas, o poder político passa da aristocracia para a burguesia capitalista. A partir dessas mudanças, a arte transforma-se gerando diferentes tendências, estilos e movimentos, que apresentam características diferentes e denominações próprias, tais como: Expressionismo, Fauvismo, Cubismo, Futurismo, Abstracionismo, Dadaísmo, Surrealismo, etc. Foi um período de grandes transformações de todas as ordens: econômica, política, social e cultural. Nesse contexto, um estilo se sobrepunha ao outro com muita rapidez.
“A beleza tem que ser convulsiva”, disse o porta-voz do Surrealismo André-Breton. (BRETON, apud STRICKLAND, 1999, p. 128) Atravessando esse conturbado período, um tema permanecia constante: a arte concentrava-se menos na realidade visual externa e mais na visão interna, como disse Picasso, “… não o que você vê, mas o que você sabe que está lá”. (PICASSO, apud STRICKLAND, 1999, p. 128)
A arte ocidental do século XX produziu uma ruptura radical com o passado, libertando-se das regras tradicionais e da ideia de representar com exatidão a forma visível dos objetos. Os artistas modernos desafiaram as convenções e os estilos da época, seguindo o conselho do pintor Gauguin: “…quebrar todas as janelas velhas, ainda que cortemos os dedos nos vidros”. (STRICKLAND, 1999, p. 128)
Todos esses artistas pertencem à chamada Vanguarda Artística Europeia, que define os movimentos da Arte Moderna. De acordo com o Dicionário Aurélio, com o termo “Vanguarda” designamos o grupo de indivíduos que exerce papel de precursor ou pioneiro em determinado movimento cultural, artístico, científico, etc.
Assim, a partir do período entre as duas Grandes Guerras (1914- 1918 e 1929-1945) os valores começam a ser questionados, ou seja, tudo o que poderia ser considerado certo ou errado, o que se poderia ou não fazer, etc. Iniciados no território das artes plásticas, os movimentos de vanguarda rapidamente se ampliaram em direção às outras manifestações artísticas, defendendo a interdependência e a integração entre a escultura, a arquitetura, o cinema, a literatura e a música.
Maluco Beleza
Mesmo não pertencendo ao mesmo período dos surrealistas da Vanguarda Artística, Raul Seixas (1945 – 1989) era conhecido como “Maluco”, desde a sua adolescência. Era visto pela sociedade como uma pessoa cheia de “paranoias”. Gostava de ficar sozinho, pensando, horas e horas. Suas reflexões e seu mundo interior, muito rico e intenso, é expresso nas letras de suas músicas.
A maior parte das letras das músicas de Raul era composta com Paulo Coelho, escritor muito conhecido, autor de vários livros editados em diferentes países do mundo. Leia a seguir a letra da música de Raul Seixas que retrata um “Maluco Beleza”. Você já ouviu essa música? Se possível, escute a música e analise a letra da música com atenção.
Realismo e Surrealismo
Enquanto o Surrealismo trata dos sonhos e do imaginário, o Realismo de Courbet, por exemplo, tem por objetivo revelar os aspectos mais característicos e expressivos da realidade “nua e crua”, sem enfeites. Observe a obra, Bom dia, senhor Courbet, que mostra uma cena com realismo e uma franqueza, na qual o artista se representou de bengala e mochila no momento em que seu anfitrião veio ao seu encontro na estrada, com um criado e um cachorro. (STAHEL, 1999, p.111
A tendência realista se expressa, sobretudo, na pintura. As obras privilegiam cenas cotidianas de grupos sociais menos favorecidos. Apesar da oposição entre os movimentos, vários pintores surrealistas eram apaixonados pelo Realismo, porque o tipo de composição e o uso das cores mostravam a realidade dos camponeses, dos trabalhadores, enfim, das classes populares, como você pôde observar na obra de Courbet.
O francês Gustave Courbet (1819-1877) é considerado um dos maiores expoentes do Realismo. Para ele, a beleza está na verdade e suas pinturas chocam o público e a crítica da época, acostumados com as pinturas românticas, alegres e embelezadas. Suas obras são consideradas um protesto social, em defesa dos trabalhadores e dos homens mais pobres da sociedade do século XIX.
Realismo e Modernismo
Muitos artistas brasileiros também retrataram a realidade social dos trabalhadores. A obra de Tarsila do Amaral é um exemplo disso. Essa obra apresenta uma cena comum. A obra 2ª Classe retrata a situação das pessoas que são obrigadas a viajar numa condição inferior a uma outra, de “primeira classe”, exclusiva da elite. Na busca da realização do sonho de melhores condições de vida, muitas pessoas deixam o campo e vêm para a cidade.
REFERÊNCIAS:
Arte / vários autores. – Curitiba: SEED-PR, 2006. – 336 p