A busca pela origem do termo currículo se constitui em um cenário plural, onde se apresenta multiplicidade de informações, ideias, sentidos e possibilidades. Em outras palavras, são diversas as tentativas de buscar respostas para a questão: qual a origem do termo currículo? Essa multiplicidade de interpretação dificulta a identificação precisa desse fato. Contudo, neste tópico, identificaremos as origens da palavra currículo a partir de teóricos que abordam algumas informações em comum, tais como Pacheco (2005), Hamilton (1993) e Berticelli (2003).
Etimologicamente, o lexema currículo deriva do verbo latim currere (correr) e do substantivo curriculum cujo sentido é curso, carreira, trajetória, caminho, percurso, jornada. Com o sentido de curso, segundo Pacheco (2005), o termo foi dicionarizado pela primeira vez em 1663. Atualmente, no Dicionário Aurélio de 2009, a palavra currículo significa “as matérias constantes em um curso”, ou seja, são as disciplinas a serem cursadas, a serem cumpridas em um determinado percurso formativo.
De acordo com alguns estudos sobre a emergência do termo currículo (PACHECO, 2005; HAMILTON, 1993), no final do século XVI, com a ascendência do movimento Calvinista, o termo curriculum foi utilizado para descrever a trajetória, o percurso, a forma de vida que os adeptos de Calvino deveriam seguir.
Sob a influência das ideias calvinistas, o termo foi registrado em algumas universidades nos séculos XVI e XVII, como na Universidade de Leiden (Países Baixos) e de Glasgow (Escócia), onde ele foi utilizado referindo-se ao curso completo que o estudante deveria cumprir por determinado período para diplomar-se. O termo ligava-se ao sentido de disciplina (coerência estrutural) e à ordem (sequência interna).
Vale salientar que a origem da palavra currículo está ligada ao surgimento da palavra classe, no contexto das agitações políticas do século XVI, como a Reforma Protestante e o Calvinismo. Ambas são frutos de diferentes reformas pedagógicas que implantaram controle maior tanto no ensino quanto na aprendizagem. Conforme sintetiza Hamilton (1993):
Primeiro se deu a introdução da divisão de classe e um maior vigilância dos alunos. Depois veio o aperfeiçoamento do conteúdo e dos métodos pedagógicos. O resultado foi acumulativo; para o bem ou para o mal, o ensino e a aprendizagem foram expostos ao escrutínio e ao controle externo. Afinal, os termos “curriculum” e “classe” entraram ao mesmo tempo na agenda pedagógica, quando as escolas estavam abrindo para uma parte da sociedade.
A partir desse contexto, o sentido do currículo vai se ampliando, até chegar à concepção que é atribuída na atualidade. Data-se, no século XX, a migração da palavra curriculum da Inglaterra para os Estados Unidos. Embora se evidencie orientações sobre o currículo na década de 1920, foi no contexto de desenvolvimento industrial que se produziu o sentido do currículo como ordenamento de saberes educativos (BERTICELLI, 2003).
Sob a influência da literatura educacional americana, a palavra currículo foi utilizada em países europeus, como França, Alemanha, Espanha e Portugal. Percebe-se, em síntese, que do sentido verbal de ação (correr) ou mesmo do sentido substantivado (trajetória, percurso) identificado na origem da palavra, o currículo passa a relacionar-se com a organização do ensino, com o campo pedagógico.
A partir do momento em que acontece a sua relação com o processo de ensino, complexifica-se o entendimento em relação à sua origem e à sua conceituação. Berticelli (2003, p. 163) ressalta a dificuldade de situar em um dado momento a origem do currículo, a partir de três enfoques pontuados por Terigi (1996), a saber:
se curriculum é a ferramenta pedagógica de massificação da sociedade industrial, acharemos sua origem nos Estados Unidos, em meados do século, com a encontra Diaz Barriga, ou ainda um pouco antes, na década de 1920;
se é um plano estruturado de estudos, expressamente referido como curriculum, podemos achá-lo pela primeira vez em alguma universidade europeia, como propõe Hamilton;
se é qualquer indicação do que se ensina, podemos chegar, como Marsh, a Platão e, talvez, até antes dele.
Como se vê, não há um consenso sobre a origem, como também é problemática sua conceituação. No entanto, com a emergência dos estudos curriculares no século XX, buscou-se sistematizar um campo de pesquisa e estudo especializado o qual tem contribuído para o entendimento sobre currículo.
Vale lembrar que antes da sistematização desse campo, as teorias pedagógicas e educacionais, de certa forma, sempre fizeram pressuposições sobre o currículo, embora não tenham utilizado o termo.
Silva (2002) lembra que há antecedentes na história da educação ocidental, moderna, institucionalizada, de preocupações com a organização de atividade educacional e cita a obra Didactica Magna, de Comenius, como exemplo.
Portanto, pode-se dizer que o currículo coexiste com a realidade escolar, pois o mesmo orienta o percurso educativo, ou seja, a prática educativa em sua totalidade. No entanto, podemos nos questionar, ainda: afinal, o que é currículo? Quais conceitos foram construídos sobre currículo? Encontraremos as respostas para essas questões no próximo tópico, que tratará dos conceitos existentes de currículo.
Título : Currículos e Programas da EPCT
Autor : Fernandes, Natal Lânia Roque
Fonte: Currículos e Programas da EPCT / Natal Lânia Roque Fernandes; Coordenação Cassandra Ribeiro Joye. – Fortaleza: UAB/IFCE, 2014.