A abordagem Sociocultural difere das anteriores, por colocar no centro do processo ensino-aprendizagem os contextos político, econômico, social e cultural onde ocorre a ação educativa. Um importante representante dessa concepção é Lev Semenovitch Vygotsky, que pauta seus estudos sobre as origens e a evolução da consciência do homem no Materialismo Histórico (VYGOTSKY, 1989).
À luz de tal concepção, o autor revela a relação entre linguagem, consciência e constituição da identidade. Ao conceber a aprendizagem como processo sócio-histórico mediado pela cultura, o estudioso aponta a íntima articulação da aprendizagem com os esquemas de significação e com os quatro planos de desenvolvimento: Filogenético (história da espécie), Ontogenético (desenvolvimento histórico do indivíduo), Sociogenético (história da cultura) e Microgenético (história de cada fenômeno psicológico).
Ao fazê-lo, evidencia o papel social da aprendizagem e sua relevante contribuição para tornar a consciência (estruturas psicológicas superiores) mais complexa. Ao destacar que a aprendizagem mobiliza os processos de desenvolvimento, pois a mediação constitui a atividade mental, Vygotsky sublinha que a atividade interpessoal desencadeia processos intrapsicológicos.
A partir de uma visão dialética dos processos de construção do conhecimento, Vygotsky concebe a linguagem como o principal instrumento de representação simbólica e, por conseguinte, como condição mais importante do desenvolvimento da consciência do sujeito social em formação. Para o erudito, o conteúdo da experiência histórica do homem vê-se refletido nas formas verbais de comunicação (PESCE, 2010).
No Brasil, Paulo Freire é o representante mais significativo da abordagem Sociocultural (FREIRE, 1987). Nessa perspectiva, o ser humano não pode ser compreendido fora de seu contexto; ele é o sujeito de sua própria formação e se desenvolve por meio da contínua reflexão sobre seu lugar no mundo, sobre sua realidade.
Essa conscientização é pré-requisito para o processo de construção individual de conhecimento ao longo de toda a vida, na relação pensamento-prática. Visa à consciência crítica, que é a transcendência do nível de assimilação dos dados do mundo concreto e imediato, para o nível de percepção subjetiva da realidade, como um processo de relações complexas e flexíveis ao longo da história.
Para os autores adeptos dessa concepção, toda atividade educacional deve ser pautada por essa visão de mundo e sociedade e permitir amplas possibilidades de reflexão. A educação deve ser sempre problematizadora e proporcionar ao aluno uma compreensão ampla dos contextos nos quais o problema se insere, mobilizando-o para perceber-se como parte integrante desse conjunto complexo que é a sociedade.
A relação professor-aluno é igualitária e democrática, o professor deve ser crítico, questionar os valores da cultura dominante, instigando os alunos para que eles mesmos se tornem produtores de cultura. Sob esta perspectiva e tendo em comum a preocupação de contextualizar os conteúdos de ensino no ambiente real da prática profissional, podem ser descritos diversos tipos de procedimentos de ensino adotados no ensino superior, nas modalidades presencial ou a distância, tais como: projetos colaborativos, estudos de caso, problematização, aprendizagem baseada em problemas (PBL), entre outros.