No século V d.C., com a expansão da Igreja Cristã, o fazer teatral passou a ser considerado um ato de sacrilégio grave por ser uma atividade pagã, ou seja, não ter origem cristã. Assim, os atores eram vistos com maus olhos pela sociedade e todo cristão batizado deveria renunciar a participar ou assistir a qualquer encenação teatral. Porém, mesmo assim, existiam manifestações teatrais na Idade Média que fugiam do controle da Igreja.
Durante muito tempo foi dessa maneira. Contudo, a Igreja, percebendo o grande poder de influência e atenção despertados pelo teatro, começou a se valer desse recurso durante as celebrações. Nesse caso, o teatro era utilizado para transmitir a doutrina religiosa, os ensinamentos da Bíblia e o conhecimento da vida dos santos, sendo um recurso muito importante durante a celebração litúrgica. Dessa forma, foram utilizados, a partir do século XIV, os Mistérios, Autos, Paixões e Milagres, que eram formas teatrais da época.
Neles eram encenados episódios da Bíblia, trechos dos evangelhos ou da vida de santos e peças usadas para atrair a atenção do povo, explicando as doutrinas da fé cristã. Essas dramatizações duravam vários dias, e envolviam praticamente a cidade toda. Inicialmente, eram representadas dentro da própria igreja, mas com o aumento do interesse do público, tiveram que ser transferidas para frente delas e logo para as praças, em dias de festividades. Podemos perceber, atualmente no Brasil, em muitas cidades, a representação de peças nesse estilo, durante a Semana Santa, como por exemplo: “Paixão de Cristo”. Você já deve ter visto ou participado de uma, não é?
A Comédia Dell’arte, o Teatro de Máscaras
No final da Idade Média e no Renascimento, o teatro na Europa atingia grandes públicos e cumpria outras funções além da religiosa. Devido às mudanças econômicas, políticas e sociais ocorridas na Europa, nos séculos XIV e XV, constituíram-se novos centros econômicos, sendo que a região mais beneficiada com esse processo foi a Península Itálica, onde fica a Itália. Essas mudanças influenciaram o estilo de vida dos italianos e também o teatro. Surgem as primeiras companhias de atores itinerantes ou mambembes, que se apresentavam de cidade em cidade, em carroças que serviam de palco.
Os artistas, não mais presos somente aos temas religiosos impostos pela igreja, passam a buscar inspiração na Comédia grega, criando na Itália e chegando ao apogeu no século XVI, uma forma teatral chamada Comédia dell’arte. Na Comédia dell’arte, a habilidade de improvisar e a utilização da pantomima mostravam-se mais importantes do que o texto escrito. Os atores usavam máscaras e interpretavam durante toda a vida os personagens fixos, seguindo roteiros com os principais acontecimentos da peça. As falas eram criadas pelos atores durante a encenação.
A Comédia dell’arte tinha como função divertir o povo, e quando os comediantes agradavam, os espectadores retribuíam, como vemos hoje em dia com os artistas de rua que recebem seu dinheiro “passando o chapéu” para quem os está assistindo. Inspirando-se em situações baseadas em amores proibidos, relações de patrões com seus empregados e personagens da sociedade da época, a Comédia dell’arte espalhou-se pela Europa, tendo como suas personagens mais conhecidas as seguintes: Arlequim – criado fofoqueiro, muito esperto; Doutor – velho falador; Capitão – soldado farrista, covarde e mentiroso, entre outros.
Do Tempo de Shakespeare, O Teatro Elisabetano
Na Inglaterra, durante o reinado da Rainha Elizabeth I, houve um grande desenvolvimento do Teatro, por isso a denominação “Teatro Elisabetano”. Nessa época também surgiram grandes dramaturgos, entre eles Willian Shakespeare. Já ouviu esse nome? Nascido em 1564, na Inglaterra, em Stratford – Avon, Shakespeare escreveu cerca de 35 peças e tornou-se, com certeza, um dos maiores símbolos do Teatro, pois suas obras fizeram muito sucesso em sua época e ainda hoje são encenadas e continuam a emocionar pessoas em todo o mundo.
Aí está outra das funções que o teatro pode assumir: “emocionar”. Ou você vai dizer que não se emociona ao ver a linda e triste história dos jovens Romeu e Julieta, um dos textos teatrais mais conhecidos e representados? Ainda existem outras obras desse dramaturgo que também podem ser encontradas com facilidade, inclusive na biblioteca da sua escola, como Hamlet, Otelo, A megera domada, entre outras.
Debatendo Ideias, O Teatro com função social e política
Com a expansão do Capitalismo e as desigualdades sociais causadas por ele, surge a necessidade de se rediscutir as questões sociais, consequentes da Revolução Industrial, ocorrida no século XVIII. Temas como a exploração da mão-de-obra, os baixos salários e o desemprego, entre outras questões, são levantados principalmente pelo historiador, filósofo e economista alemão Karl Heinrich Marx (1818 – 1883), que desenvolveu as principais teorias a esse respeito. Marx escreve sobre a exploração que acontece entre as classes sociais.
Preocupado com essas e muitas outras questões, o alemão Bertolt Brecht (1898 – 1956), sociólogo e dramaturgo se destacou pela criação de um novo estilo de fazer teatro, denominado “Teatro Épico”, que, em oposição à “Forma Dramática”, engloba a temática social em suas peças. Para Brecht, a forma dramática consiste em fazer com que o público assista às peças de forma a se identificar e aceitar o que nelas é mostrado, a ponto de pensar ser realidade, criando uma “falsa consciência”, pois na maioria das vezes, são representadas no palco as ideias do grupo que detém o poder econômico.
O Teatro Épico tem como função tirar o disfarce do teatro. Para Brecht, o espectador deve estar todo tempo consciente de que a história que se passa no palco é só de “mentirinha propositada”. Tirando o disfarce do teatro, as pessoas podem compreender conscientemente a mensagem transformadora da sociedade nas obras de Brecht, e assim ter condições de pensar sobre a transformação da sociedade em que vivem, não confundindo a ficção com a realidade. Segundo Brecht, o teatro não deve servir para convidar o público ao sonho; para isso ele utiliza os recursos da narração, ao invés da ação, e raciocínio, ao invés de emoção.
Para Bertolt Brecht, o espectador deve agir no teatro de forma crítica, ou seja, participando como jurados de um julgamento, em que os atores são testemunhas. A ação deve trazer os fatos de forma clara, para que o público possa realizar seu julgamento de forma consciente. Usando temas sociais e uma linguagem que possibilite ao público compreender e assimilar sua mensagem, o Teatro Épico passa a ser utilizado com a intenção de promover debates de ideias, reflexão social e política. O público não fica mais passivo, apenas “assistindo”, mas participa, assim como deve também participar da transformação de sua sociedade, de forma ativa.
Brecht também é autor de peças, como Galileu Galilei, Um Homem é um Homem, Os fuzis da senhora Carrar, entre outras.
Funções do teatro nos dias de hoje
O Teatro do Oprimido
Em nosso país temos também vários problemas sociais que nos oprimem: distribuição desigual de renda, violência, corrupção, preconceitos, entre outros. E muitas vezes não nos damos conta de que convivemos e aceitamos isso como se tivesse que ser assim mesmo. Deveríamos conhecer melhor as nossas leis, para podermos exercer nossos direitos e deveres de cidadão, interferindo de forma consciente em nossa realidade. Assim, poderíamos contribuir na construção de uma sociedade justa e igualitária.
O Teatro, mais do que nunca, pode contribuir nesse sentido, podendo ser também um instrumento social muito eficaz, fazendo-nos pensar melhor sobre a nossa vida. Nesse sentido, podemos lembrar de um brasileiro que muito pensa a esse respeito: Augusto Boal nasceu em 1931, no Rio de Janeiro, é diretor de centros de Teatro nesta mesma cidade e também em Paris, além de autor de vários livros. Desenvolveu uma técnica chamada “Teatro do Oprimido” a partir da década de 1970, durante o período em que ficou exilado na Europa devido à “Ditadura Militar”.
Boal afirma que todos somos atores, até mesmo os próprios atores! O Teatro do Oprimido permite o contato direto do público com os atores, introduzindo temas sociais para serem discutidos por meio de técnicas, como a do “Teatro Invisível”. Essa técnica consiste em um grupo de atores ensaiados, que, a partir de um tema pré-estabelecido, desencadeia uma ação junto aos espectadores, que não sabem que se trata de uma representação. Dessa forma, faz com que todos participem, involuntariamente, da ação teatral.
O Teatro Invisível acontece em locais públicos, como praças ou terminais rodoviários e essa prática tem como função fazer com que a sociedade discuta questões conflitantes, expondo suas críticas, opiniões e tomando conhecimento de seu poder de transformação. Com isso, Boal pretende mostrar que todas as ações cotidianas do ser humano acabam sendo uma forma de teatro. Augusto Boal chama o público de “Espect-atores”, porque não só observam, como também participam.
REFERÊNCIAS:
Arte / vários autores. – Curitiba: SEED-PR, 2006. – 336 p