Na figura, o aprender no contexto da Educação de Jovens e Adultos, tema desta subunidade.
A educação de jovens e adultos é uma modalidade educacional com características bastante próprias. Nesse sentido, é muito necessário o entendimento, da mesma, quando o professor se propõe a trabalhar nesta modalidade, pois, exige não só uma postura diferenciada, mas também, metodologias e didáticas próprias diferentes daquelas aplicadas na alfabetização e/ou ensino de crianças, o que muitas vezes é replicado para o EJA.
O aprender, no contexto da educação de jovens e adultos, deve ser entendido sob a perspectiva da aprendizagem significativa, mas o que venha ser aprendizagem significativa? Resumidamente, aprender nesse contexto é fazer com que os conteúdos estudados tenham significado prático na vida cotidiana, ou seja, de nada vale eu estudar uma teoria sem ver como isso se consolida na prática. Para Brandão (1981:)
Métodos de alfabetização tem um material pronto: cartazes, cartilhas, cadernos de exercícios. Quanto mais o alfabetizador acredita que aprender é enfiar o saber-de-quem-sabe no suposto vazio-de-quem-não-sabe, tanto mais tudo é feito de longe chega pronto, previsto. Paulo Freire pensou que um método de educação construído em cima da ideia de um diálogo entre educador e educando, onde há sempre partes de cada um no outro, não poderia começar com o educador trazendo pronto, do seu mundo, do seu saber, o seu método e o material da fala dele. (p. 10)
Freire (1989) chama a atenção de que o adulto já tem conhecimentos prévios que podem, e devem ser utilizados na grande maioria para ancorar ao novo conhecimento. Por exemplo, a palavra tijolo é do conhecimento de muitos pedreiros, de quem trabalha com isso, partir desse pressuposto torna a aprendizagem significativa, uma vez que, pode ser feita a relação com a realidade que o cerca.
Assim é possível verificar que a “leitura do mundo precede a leitura da palavra” (FREIRE, 1989, p.15) e os educandos aprendem a não só codificar e decodificar as palavras por meio de memorização das letras, símbolos e sílabas. Ao contrário, as palavras devem:
Vir do universo vocabular dos grupos populares, expressando a sua real linguagem, dos seus anseios, as suas inquietações, as suas reivindicações, os seus sonhos. Deveriam vir carregadas da significação de suas experiências existencial e não da experiência do educador. (FREIRE, 1989, p. 20)
Historicamente, Paulo Freire, é um dos grandes nomes da Educação de Jovens e Adultos, criando um método para alfabetização que, no ano de 1963, culminou na alfabetização de 300 trabalhadores em 45 dias na cidade de Angicos, no Rio Grande do Norte, resultando mais tarde no convite do então presidente do Brasil João Goulart, para Freire criar o Plano Nacional de Alfabetização.
Este método, criado por Freire, representa um caminho a percorrer para a alfabetização, podendo ser reinventado em todos os contextos partindo da prática destes. A figura 37 representa a educação neste contexto de jovens e adultos
Freire acredita que a educação, como já vimos na unidade anterior, parte do diálogo entre professor e educando, nesse sentido “serviria como um ponto para o início de atividades em um círculo de cultura para aprofundar as leituras do mundo, e possibilitar a releitura da realidade” (BRANDÃO, 1981, p.52).
Estudar pode ser um momento de satisfação, sendo que, nesse contexto de jovens e adultos, é preciso haver significado no que se está sendo aprendido pelo alfabetizado, pois, esses, são motivados a aprender à medida que experimentam que suas necessidades e interesses serão satisfeitos.
Além da motivação para esse público, também deve ser considerado o cansaço decorrente do trabalho e a própria baixa autoestima, a que são submetidos muitas vezes. A evasão nesse contexto é muito alta, as faltas são frequentes, o que pode prejudicar o andamento do aprendizado. Sob esse aspecto o professor deve ser também um motivador e auxiliar a romper as barreiras impostas pela própria sociedade, trabalhando também a autoestima de seus alunos.
O trabalho deve ser colaborativo e realizado no coletivo, partindo da realidade local, o sucesso em se trabalhar com essa modalidade educacional está justamente em trazer esses elementos como norteadores do processo, o educando como centro do processo, suas vivencias e experiências cotidianas jamais devem ser deixadas de lado e não levadas em consideração.
Pela formação de professores não contemplar muito essa modalidade os profissionais que trabalham com este público devem estar em constante aprendizagem continuada, refletindo sobre sua prática e reconstruindo-a se necessário. Quanto a legislação vigente em nosso país, que ampara a Educação de Jovens e Adultos, temos o seguinte: A constituição Federal que garante acesso à educação:
Art. 208 – O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de”: I – ensino fundamental, obrigatório e gratuito, assegurada, inclusive, sua oferta gratuita para todos os que a ele não tiveram acesso na idade própria; (…) § 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo. (Constituição Federal, 1988)
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9.394/96) que elenca nos artigos 37 e 38 as “oportunidades educacionais apropriadas”, segundo as características do alunado. Então, é a LDB que vem regulamentar essa modalidade educacional, que atinge aqueles indivíduos que não conseguiram terminar, por falta de possibilidades, o ciclo básico de estudos na idade regular. Que prevê:
Art. 37. A educação de jovens e adultos será destinada àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e médio na idade própria. § 1º Os sistemas de ensino assegurarão gratuitamente aos jovens e aos adultos, que não puderam efetuar os estudos na idade regular, oportunidades educacionais apropriadas, consideradas as características do alunado, seus interesses, condições de vida e de trabalho, mediante cursos e exames. § 2º O Poder Público viabilizará e estimulará o acesso e a permanência do trabalhador na escola, mediante ações integradas e complementares entre si. § 3o A educação de jovens e adultos deverá articular-se, preferencialmente, com a educação profissional, na forma do regulamento. (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008) Art. 38. Os sistemas de ensino manterão cursos e exames supletivos, que compreenderão a base nacional comum do currículo, habilitando ao prosseguimento de estudos em caráter regular. § 1º Os exames a que se refere este artigo realizar-se-ão: I – no nível de conclusão do ensino fundamental, para os maiores de quinze anos; II – no nível de conclusão do ensino médio, para os maiores de dezoito anos. § 2º Os conhecimentos e habilidades adquiridos pelos educandos por meios informais serão aferidos e reconhecidos mediante exames. (Lei 9.394/96)
Esse grupo de pessoas se apresentam com grande heterogeneidade, alguns, por sucessivas reprovações, abandonaram os estudos, outros, por terem o direito à educação assegurado somente na Constituição Federal de 1988.
Muitos relatos também mostram questões sócio culturais, por exemplo, a falta de estudar pelo machismo, imposta a inúmeras mulheres em décadas passadas. Por isso, o número de mulheres que procuram a educação tardiamente também tem um grande número.
Outro aspecto, que vem sendo observado por pesquisadores da área, mostra que o número de matrículas na Educação de Jovens e adultos vem caindo. Alguns autores pensam que a razão principal é a forma como está sendo ofertada essa educação, tanto da forma, quanto de conteúdos escolares, que estão muito aquém daquilo que é necessário para esse público.
Ou seja, a escola não está atendendo às necessidades e expectativas que vem com esses indivíduos. Tornar esse indivíduo visível, com suas especificidades, necessita de um olhar diferente.
A estrutura do sistema escolar é trabalhada de forma uniforme, pelas propostas curriculares. Fazer uma educação, para os Jovens e Adultos, é buscar acima de tudo autonomia para se trabalhar com esse público, pois a organização de tempo e espaço são diferentes.
Ainda, temos o modelo supletivo, acelerado, aligeirado, repondo escolaridade não realizada, vendo o sujeito como diminuído, devemos perguntar quais as necessidades de aprendizagem desse sujeito, o que ele tem a agregar na forma de organização escolar, uma vez que, ao trazer suas expectativas, traz também sua bagagem de experiências para a escola.
Não podemos conceber que adultos voltem para a escola com aquele sentimento de perda, isso não acarretará que o aluno fique na escola.
Devemos considerar uma escola que seja empática com a realidade desse grupo. Uma escola que não os trate como clientela diferenciada, esses alunos são sujeitos de direito, tem o direito de aprender em qualquer idade.
O professor, deve estar atento às idades de cada um, de repente ele está atendendo a um aluno de 15 anos, e se vê diante de um aluno de 60 anos. Reinventar-se e adequar-se ao contexto de cada um, ter esse olhar aguçado e entender-se em um universo, diverso e amplo, pode ser o grande divisor de águas para essa modalidade educacional.
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REFERÊNCIAS:
PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM / Silva, Juliane Paprosqui Marchi da, UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA, Santa Maria | RS 2017