Você sabe qual a utilidade de um instrumento chamado cabresto?
O cabresto é utilizado como um instrumento para guiar o cavalo, a mula, o jumento, etc. Serve para pôr freio nos animais ou ainda, para governar suas ações de tal modo que façam o que queremos. Tais atitudes de dominar e governar as ações “alheias” não acontece somente com relação aos animais. Socialmente, há mecanismos de controle que visam dominar e guiar as ações dos indivíduos ou de uma coletividade. No “Folhas” anterior compreendemos o porquê da diversidade cultural em nosso país.
Agora, vamos entender mais um pouco da dinâmica cultural, não somente no âmbito nacional, mas analisaremos também como a cultura foi se tornando um mecanismo de controle social e um vivo e próspero “objeto” de comercialização. Bom, mas a cultura pode ser um cabresto? E aí, deu um nó na sua cabeça? Ficou confuso? Vamos esclarecer! Lembra-se do período iluminista? Nos séculos XVII e XVIII, a Europa passava por profundas transformações sociais. A burguesia estava em ascensão, o regime absolutista e aristocrático estava declinando.
O momento era o da busca da liberdade, o homem procurava em si mesmo explicação para sua vida e para a sociedade, não necessitava ou não queria mais as explicações religiosas e místicas. O científico, ou seja, tudo o que é testado pela experiência do próprio homem, passou a ter VALOR. Com o estabelecimento do capitalismo, o modo de vida burguês passa a ser dominante, fortemente influenciado pelos ideais iluministas. As obras artísticas e literárias e, principalmente, as artes plásticas começam a representar ou “impulsionar” os valores desta nova classe, assim como o seu requintado estilo de vida.
Voltando à Idade Média, as manifestações culturais literárias e artísticas Barrocas que tratavam os valores religiosos e artísticos, assim como o modelo de vida do absolutismo e do poder da Igreja sobre a vida das pessoas é substituído e entra em cena o Arcadismo. Este se opondo ao “velho” modo de vida religioso começou a se basear nos ideários iluministas, representando por meio da pintura, da música, da literatura e da arquitetura, o domínio da razão, que se expandia por toda a Europa. Entrando nos séculos XVII e XVIII, a burguesia nascente deste período mergulha nestes novos ideários, descobre que pode usufruir uma vida refinada e culta, porque reafirmava enquanto classe dominante seus valores e modo de vida.
Mas você pode dizer: “A cultura tem tudo a ver com as obras literárias e artísticas!” E tem mesmo! Mas, além de vermos a arte e a literatura dos povos, apenas, como uma manifestação ou expressão cultural, é necessário para fazermos uma análise da sociedade, entendermos como a cultura foi se tornando ao longo da história, diferenciada e “usada” pelo sistema capitalista para acumulação e reprodução de capital.
A relação entre burguesia e o que é considerado culto nos leva a pensar que existem diferenças culturais, ou melhor, diversas expressões culturais, entre os diferentes grupos ou classes sociais. A cultura de cada grupo, sociedade, povo ou nação, tem sua própria lógica que expressa a maneira de ser e viver dos indivíduos. Mas como a burguesia por exemplo conseguiu se “apropriar” dos saberes e conhecimentos intelectuais e científicos? Nos “Folhas” sobre as Instituições Sociais, vemos como as diferentes sociedades transmitem seus valores culturais.
Em sociedades mais complexas como a nossa, a transmissão de conhecimentos é de maneira sistemática. Ora, desde que a educação passou a ser institucionalizada, ou seja, quando se passou a ensinar os valores, costumes, saberes científicos e os procedimentos técnicos acumulados historicamente, que nada mais é do que a cultura da sociedade, a escola passa a ser o lugar onde as pessoas recebem esses saberes. No entanto, as possibilidades de acesso aos saberes, que são universalizados, ocorrem de maneira diferenciada. Você já parou para pensar quais os saberes necessários ou básicos para a sobrevivência, na sociedade capitalista, principalmente para uma pessoa da classe trabalhadora?
Quem já não ouviu a frase “estuda menino para ser alguém na vida, ter um trabalho…”. Vemos um grande contingente da população brasileira não ter acesso aos conhecimentos ofertados nos bancos escolares para terem a chance de “ter-se dado bem na vida”. E, o que sabem é considerado como “arcaico”, ou seja, ultrapassado. Ora, as sociedades capitalistas têm em sua gênese a dominação como forma de se impor e um dos meios de legitimação é a cultura. Portanto, quem tem o acesso dos meios institucionais, como a educação, os meios de comunicação de massa, etc., consegue, de um certo modo, ditar algumas “regras” na sociedade.
Mas, para entendermos as diferenças entre a cultura popular e erudita, devemos também analisar, além das relações sociais de poder, de mando e controle social, como ao longo da história o chamado refinamento pessoal ajudou a reforçar as diferenças entre as classes sociais. A ideia de refinamento pessoal compreende a aquisição de conhecimentos, a apropriação das normas linguísticas da escrita, adquiridos na escola e universidades, lembrando que não se trata de um conhecimento qualquer, mas algo elaborado, sistematizado e reconhecido pela sociedade, no sentido de levar as pessoas a serem “cultas” e “civilizadas”.
Esse também pode ser alcançado pelo convívio com pessoas “refinadas”, como por exemplo, a visitação e experiência com obras de arte consideradas Belas-artes. Na Europa, desde os séculos XIV e XV, quando findava a Baixa Idade Média, cultura era sinônimo de civilização e conhecimento expresso pelas classes dominantes e dito civilizadas, que ainda não era a burguesia, mas sim a aristocracia. Ou seja, ter cultura era ser uma pessoa “culta”, detentora da razão e do conhecimento das coisas. Por conta disso, os valores culturais eruditos são associados à expansão colonizadora. De novo a ideia de que é necessário “civilizar” para o desenvolvimento e progresso das sociedades.
Para alguns autores, como os da escola de Frankfurt, importante Instituto para a Pesquisa Social criado em 1924 na Alemanha, Walter Benjamin (1892-1940), Max Horkheimer (1895-1973) e Theodor Wiesengrund Adorno (1903-1969), a cultura popular seria um meio de resistência da classe dominada às imposições da dominante. O que ocorreu foi que, até o século XIX, “chique” mesmo era as pessoas portarem-se como os europeus, tudo nas casas burguesas era importado, faziam parte da última moda europeia. Hoje, o “chique” é consumirmos o que é da última moda, mas no final do século XIX e início do XX, com o advento do que se chama cultura de massa e os diferentes modismos, houve certo “enjoamento” daquilo que era erudito.
E não foi somente isso, a busca pela liberdade de expressão também contribuiu para a ocorrência de algumas mudanças culturais. A partir daí o que era produzido e criado pelo povo foi apropriado pelos meios de comunicação. Bom, mas que dizer do carnaval então? É uma festa popular? Embora o carnaval seja uma festa para todos, acaba, por conta da apropriação da indústria cultural e dos meios de comunicação de massa, sendo transformado em um espetáculo.
O carnaval brasileiro, segundo DaMatta (1984: 75) em seu livro O que faz o Brasil, Brasil?, possibilita o encontro dos grupos e das classes sociais, das diferentes etnias. Constitui-se numa festa para todos. A troca de papéis sociais é comum, a vida diária, de casa ao trabalho, de muitas pessoas é mudada. Se a sociedade segrega e uniformiza a festa de carnaval, para quem participa, cria “(..) um cenário e uma atmosfera social onde tudo pode ser trocado de lugar (…)”.
O operário que em dias normais passa pelas ruas movimentadas vestindo seu simples uniforme e nem é notado, pode, no carnaval se fantasiar de um rei, aparecer na TV, ser reconhecido e admirado por um grande número de pessoas, pela sua destreza e agilidade de passos e coreografias ou simplesmente pela imagem que representa.
No Brasil, por conta das desigualdades socioeconômicas existentes, a classe trabalhadora, embora se constitua na maioria da população, não tem acesso a todas as manifestações culturais, tais como o teatro, óperas, educação de qualidade, etc. Por conta desta situação, numa interpretação de Carlos Rodrigues Brandão, autores como Gramsci (1891-1937) consideram que, quando essas classes se manifestam com suas tradições culturais, estão de certa forma resistindo à cultura dominante e passam a lutar pelo que acreditam ser seu modo de vida, algo que faz parte de sua maneira de ver o mundo, de se expressar, de se reconhecer como classe. A
partir da discussão acima, podemos analisar a Literatura de Cordel no Brasil, veremos que esta, por ser uma literatura feita pelo povo, denunciando suas condições de vida e sua forma de ver o mundo, se constitui numa resistência por parte do povo de manter suas tradições culturais. Inspirada nos pliegos sueltos ou Folhas Soltas da Espanha e Portugal, a Literatura de Cordel ou os Folhetos, em nosso país, originou-se e desenvolveu-se tradicionalmente no nordeste brasileiro, configurando a expressão e manifestação cultural daquele povo. A Literatura de Cordel no Brasil é um exemplo de expressão cultural que não sofreu tanto o processo de apropriação por parte da indústria cultural. Ou seja, não foram substituídos pelos meios de comunicação, mas convivem com o rádio e a TV.
Os cordelistas ou repentistas espalhavam notícias e, ainda hoje, são um forte meio de comunicação com teores informativos, jornalísticos e entretenimento. Os temas são geralmente populares difundindo a arte e a literatura folclórica, é o tipo de manifestação em que o povo ora canta, ora expressa na escrita com vocabulários próprios e regionais os costumes, as crenças ou personagens reais e imaginários, que configuram o seu cotidiano e são expostos em fios de barbante e colocados à venda. Como a história de Lampião e sua companheira Maria Bonita, Padre Cícero, Cangaceiro, etc., que são personagens históricos do sertão nordestino. O Nordeste foi palco da difusão da Literatura de Cordel, pois era um ambiente social cuja diversidade étnica, muito contribuiu para as formas de comunicação literária e poesia popular.
Como a cultura é constantemente recriada pelos indivíduos em sociedade, tendo um caráter dinâmico, não é diferente com as expressões das obras da Literatura de Cordel. Os repentistas criam suas canções e histórias a partir da realidade social, muitas vezes denunciando a miséria e a fome nordestina, os acontecimentos políticos, a vida difícil dos trabalhadores rurais e urbanos, etc. Como podemos ler no fragmento do folheto O testamento de Getúlio, de José Gomes, que os assinava com o pseudônimo de Cuíca de Santo Amaro, cidade onde nasceu:
Gramsci (1891 – 1937), apud Brandão, diz que para todos os seus seguidores, o folclore é uma cultura de classe. (1982, p. 101). Ou seja, é a partir da realidade da luta de classes que se dá no cotidiano das pessoas, que esse tipo de obra literária expressa o saber do povo. Um saber baseado no senso comum, mas que reflete uma visão de mundo. Existe diferença entre a Cultura Popular e o Folclore?
É interessante sabermos que sempre houve uma divergência entre os estudiosos e os próprios folcloristas. A “queixa” é a que, para os folcloristas, o Folclore é uma manifestação cultural tradicional do povo para o povo, são seus costumes nos contos e canções populares. Contudo, o termo Folclore surgiu em meados do século XIX e ganhou força quando, em 1846, o inglês William Thoms (1803-1885) inventou o termo folk-lore, (folk = povo e lore = saber, então, o “saber do povo”).
Brandão em seu livro, O que é Folclore, discute sobre a dificuldade de se conceituar e diferenciar os termos Folclore e Cultura Popular. Mas, apresenta que no caso brasileiro, foi em 1950, com a intenção de efetivar as pesquisas e o estudo sobre as manifestações populares, na Carta de Folclore Brasileiro, redigida no I Congresso Brasileiro de Folclore, que pela primeira vez se buscou definir o que era o Folclore, e como tal fenômeno se expressa:
“Constituem o fato folclórico as maneiras de pensar, sentir e agir de um povo, preservadas pela tradição popular e pela imitação, e que não sejam diretamente influenciadas pelos círculos eruditos e instituições que se dedicam ou à renovação e conservação do patrimônio científico e artístico humano ou à fixação de uma orientação religiosa e filosófica” (BRANDÃO, 1982: 31).
Cultura popular e folclore são dois termos que, para muitos antropólogos, inclusive para Brandão, possuem o mesmo significado, pois, não são formas culturais estáticas e irreversíveis, mas que fazem parte das construções sociais, e por isso é dinâmica. No Brasil, vão além dos ritos, característicos das culturas africanas e indígenas, configuram também, a religiosidade, as danças, os pratos típicos de diferentes regiões, vivências e costumes regionais e tradicionais do povo.
Mas o que as pessoas comuns de nossa sociedade, que na maioria das vezes não são folcloristas e nem estudiosas dos fenômenos socioculturais, dizem de suas próprias tradições?
Bom, você deve estar pensando: O que toda essa história de folclore, cultura popular e erudita tem a ver com dominação e controle social?
Ao manter a sua própria expressão cultural, a classe popular trabalhadora está se opondo à cultura dominante e oficial, fazendo com que as tradições populares permaneçam não somente no imaginário das pessoas, mas tornando-as cada vez mais reais em seu cotidiano. Por outro lado, a grande tendência de padronização cultural está fazendo com que as expressões culturais populares caiam no esquecimento ou quando muitas vezes é vista pelo próprio povo e a sociedade em geral, como uma cultura “pitoresca”. Uma outra crítica levantada com relação à padronização, é que quando as expressões culturais populares são planejadas, possuindo datas e regras para acontecerem, já não estão mais no controle e organização do povo para si mesmo no seu cotidiano.
O folclore torna-se nesse processo um instrumento de manipulação e controle social quando deixa de ser uma manifestação popular e passa a servir de “apaziguamento” entre grupos e classes sociais, como por exemplo, o carnaval, as festas religiosas, superficialmente demonstram uma integração harmônica das classes. Mas que na realidade cotidiana vivem em conflitos sociais.
E o comércio, onde ele entra nesta dinâmica sociocultural? Na diferença entre os dois aspectos da cultura entram em cena a produção, a magia e a sedução da INDÚSTRIA CULTURAL…
Provavelmente você já ouviu falar em Indústria Cultural. A indústria cultural foi um termo criado por Adorno e Horkheimer, autores da escola de Frankfurt, que referenciavam este fenômeno ao que também conhecemos como “cultura de massa”, ou seja, a produção em larga escala de elementos da cultura. Ela é um dos frutos do sistema capitalista em que vivemos. Com o estabelecimento do capitalismo, as cidades vão se transformando em pólos industriais e de importância social. Com isso, a população urbana aumenta e se torna o alvo do mercado e seus integrantes se transformam em consumidores em potencial, o que é consequência de um barateamento da mercadoria industrializada, produzida em série.
O mercado, em geral, se dinamiza, atingindo até a esfera cultural que, também, passa a ser transformada em mercadoria. Você já se perguntou por que os hábitos e até os padrões de beleza sempre mudam? Com a propagação da cultura de massa entra em cena um novo padrão de beleza, uma nova estética que influencia o gosto das pessoas. E com o estabelecimento do capitalismo e da sociedade moderna, isso veio a se transformar mais ainda. As cidades passam a ficar cheias, são multidões que, de alguma maneira, estão aprendendo um novo estilo de vida, o urbano. O sistema de capital percebe que uma massa emerge e, mais ainda, percebe que além de se produzir mercadorias de consumo geral para essa massa, poderia ser possível produzir, também, e em larga escala, elementos da cultura, transformando-os em mercadorias.
Daí o termo cultura de massa ou para as massas, pois a partir do momento que se produz em série para o consumo do povo em geral, para existir um novo padrão de significações na visão de mundo, no que as pessoas pensam, sentem e agem. Sabe aquela propaganda na TV que lhe deixou com uma vontade de tomar um refrigerante bem gelado, em pleno dia de verão? Ou… Aquele belíssimo carro, aquela casa dos seus sonhos, as roupas da última moda… Os celulares de última geração… Hum… São tantas as emoções e opções expostas e impostas pela mídia!
Bom, você deve estar pensando: O que toda essa história de folclore, cultura popular e erudita tem a ver com dominação e controle social?
Ao manter a sua própria expressão cultural, a classe popular trabalhadora está se opondo à cultura dominante e oficial, fazendo com que as tradições populares permaneçam não somente no imaginário das pessoas, mas tornando-as cada vez mais reais em seu cotidiano. Por outro lado, a grande tendência de padronização cultural está fazendo com que as expressões culturais populares caiam no esquecimento ou quando muitas vezes é vista pelo próprio povo e a sociedade em geral, como uma cultura “pitoresca”.
Uma outra crítica levantada com relação à padronização, é que quando as expressões culturais populares são planejadas, possuindo datas e regras para acontecerem, já não estão mais no controle e organização do povo para si mesmo no seu cotidiano. O folclore torna-se nesse processo um instrumento de manipulação e controle social quando deixa de ser uma manifestação popular e passa a servir de “apaziguamento” entre grupos e classes sociais, como por exemplo, o carnaval, as festas religiosas, superficialmente demonstram uma integração harmônica das classes. Mas que na realidade cotidiana vivem em conflitos sociais.
E o comércio, onde ele entra nesta dinâmica sociocultural? Na diferença entre os dois aspectos da cultura entram em cena a produção, a magia e a sedução da INDÚSTRIA CULTURAL…
Provavelmente você já ouviu falar em Indústria Cultural. A indústria cultural foi um termo criado por Adorno e Horkheimer, autores da escola de Frankfurt, que referenciavam este fenômeno ao que também conhecemos como “cultura de massa”, ou seja, a produção em larga escala de elementos da cultura. Ela é um dos frutos do sistema capitalista em que vivemos. Com o estabelecimento do capitalismo, as cidades vão se transformando em pólos industriais e de importância social. Com isso, a população urbana aumenta e se torna o alvo do mercado e seus integrantes se transformam em consumidores em potencial, o que é consequência de um barateamento da mercadoria industrializada, produzida em série.
O mercado, em geral, se dinamiza, atingindo até a esfera cultural que, também, passa a ser transformada em mercadoria. Você já se perguntou por que os hábitos e até os padrões de beleza sempre mudam? Com a propagação da cultura de massa entra em cena um novo padrão de beleza, uma nova estética que influencia o gosto das pessoas. E com o estabelecimento do capitalismo e da sociedade moderna, isso veio a se transformar mais ainda. As cidades passam a ficar cheias, são multidões que, de alguma maneira, estão aprendendo um novo estilo de vida, o urbano.
O sistema de capital percebe que uma massa emerge e, mais ainda, percebe que além de se produzir mercadorias de consumo geral para essa massa, poderia ser possível produzir, também, e em larga escala, elementos da cultura, transformando-os em mercadorias. Daí o termo cultura de massa ou para as massas, pois a partir do momento que se produz em série para o consumo do povo em geral, para existir um novo padrão de significações na visão de mundo, no que as pessoas pensam, sentem e agem. Sabe aquela propaganda na TV que lhe deixou com uma vontade de tomar um refrigerante bem gelado, em pleno dia de verão? Ou… Aquele belíssimo carro, aquela casa dos seus sonhos, as roupas da última moda… Os celulares de última geração… Hum… São tantas as emoções e opções expostas e impostas pela mídia!
Realmente são muitas as opções, no entanto… Tudo o que é produzido pela indústria cultural custa dinheiro, ou seja, podemos “comprar” se tivermos as condições financeiras. E o capital, onde ele entra em tudo isso? Bom, este por sua vez se apropria das expressões culturais, que podem ser: os jornais, livros, filmes, peças teatrais, músicas, tudo o que possa expressar a cultura de determinado grupo social. E então, ele a transforma em produto para o consumo fazendo com que a dicotomia entre popular e erudito quase se anule, pois, a indústria cultural visa a compra e venda de tudo que ela produz, não importando se a burguesia está consumindo um CD de música Funk, originado e tocado nos bailes da periferia.
Quando falamos em cultura e, principalmente em cultura de massa e indústria cultural a coisa não é diferente. O que sempre vai estar em jogo é a manipulação dos valores e padrões estéticos visando ao controle das massas. Contudo, as classes sociais podem ter suas percepções e visões de mundo e também propagá-las. Quem não se lembra ou já ouviu falar da Ditadura Militar no Brasil (1964-1985)? Assim que os militares tomaram o poder com atitudes autoritárias passaram a controlar não somente os assuntos políticos e econômicos, mas também as outras esferas socioculturais, censurando todo tipo de manifestação artística que eram contrárias ao regime autoritário. Jovens artistas como Edu Lobo, Chico Buarque de Holanda, Geraldo Vandré, Geraldo Azevedo dentre outros, fizeram parte do movimento oposicionista de esquerda nos anos sessenta e setenta que se expressava culturalmente por meio da música.
Tal movimento se constituiu numa contracultura, que mobilizou jovens e intelectuais do mundo ocidental, durante os anos 60 e 70, que proclamava uma nova maneira de pensar independente dos valores socioculturais e dominantes da época. No Brasil, especificamente com a produção da música popular brasileira, a MPB, surgiu um novo tipo de música que denunciava a opressão frente às atrocidades do autoritarismo da época. Cantava um grito à liberdade! No Folhas sobre Movimentos Sociais você pode ver, detalhadamente, como o movimento estudantil se articulava e, em especial a participação de alguns destes compositores e cantores.
Como diz Renato Ortiz (1947- ) em Cultura brasileira e identidade nacional, o que está por trás das manifestações populares não é pura e simplesmente uma visão de mundo, “(…), mas um projeto político que utiliza a cultura como elemento de sua realização… significa função política dirigida em relação ao povo”. (ORTIZ, 2003:72). Ou seja, as manifestações culturais populares podem se constituir em um projeto político, engajadas numa luta por diferentes reivindicações. Na atualidade ainda há vários cantores e grupos musicais que expressam em suas canções a realidade social, denunciando questões como: a crise política, a corrupção, a fome e a miséria da maioria da população brasileira.
Qual o ritmo de música que você “curte”?
Temos à nossa disposição vários estilos musicais com diferentes ritmos, organizados por diversas durações e intensidade de movimentos. Os compositores combinam nos trechos das músicas um ou mais ritmos que fazem com que as mesmas expressem em todas as suas características, tanto a mensagem como a emoção contida nas letras. Grande parte das músicas produzidas durante o regime militar por militantes de esquerda e opositores ao autoritarismo, eram construídas por composições rítmicas e várias outras estratégias para passar despercebidas pela censura do período. Ao ouvir uma música somos atraídos não somente pelos conteúdos das letras, mas também, às suas características rítmicas, melódicas e harmônicas. Há quem goste de ritmos constantes e lentos, como a valsa, por exemplo, ou ainda ritmos rápidos e fortes, como do samba, rock, etc.
E as novelas e o cinema?
Você já percebeu como algumas pessoas não perdem um capítulo da novela, principalmente aquelas que conseguem atingir grande número de telespectadores? Tanto as novelas como o cinema são criações dos meios de comunicação a serviço do capital, pois não é feito pelas pessoas, como eu e você e tantas outras que os assistem. Os filmes, por exemplo, reproduzem acontecimentos como o holocausto dos judeus na Segunda Guerra Mundial, mas o interesse de tal produção cinematográfica, além de contar a história, é se utilizar dela como meio de sobrevivência e reprodução de capital. Após a Revolução Industrial do século XVIII, tudo virou objeto de consumo, como vimos acima, tudo pode ser transformado em produto.
Não só a cultura popular é difundida e disseminada. Até a própria sinfonia de Mozart, os quadros da Monaliza e Santa Ceia, de Leonardo da Vinci e obras de importantes artistas, como as do brasileiro Cândido Portinari, são reconhecidamente de origem erudita. Isto é, o que antes era encontrado somente em museus ou em casa dos ricos, passaram a entrar em casas simples, de pessoas de baixa renda, ou produzidas em série estampadas em camisetas de marcas comuns. Contudo, por mais que os filmes e programas televisivos não apresentem um caráter enriquecedor para o conhecimento humano, sua crítica radical deve ser repensada, pois é possível encontrar diversas programações que trazem uma qualidade de produção e de informações, possibilitando às pessoas questionar a si e a sociedade na qual vivem.
E aí, quais as vantagens e desvantagens da indústria cultural?
Pensar a indústria cultural como vantajosa, é dizer que a partir dela mesma e dos meios de comunicação de massa, uma parcela da população, que sempre esteve alheia a fontes de informações, passa a ter possibilidade de maior acesso a tais fontes informativas, o que contribui para uma maior informação do público. Outro argumento é o fato de que, pela indústria cultural, os diferentes gostos e culturas poderiam ser vistos e encarados de maneira mais sensível e abrangente. Ou seja, os meios de comunicação poderiam estar trabalhando com a temática do multiculturalismo, aproximando os diferentes, culturalmente falando, e diminuindo os entraves causados por tais distinções e preconceitos culturais.
Mas nem tudo parece ser bom…
O lado desvantajoso da indústria cultural é seu caráter coercitivo que se caracteriza na imposição à padronização, pondo em igual patamar todas as diferentes manifestações culturais, ou seja, vende uma imagem de “harmonia” de cultura única, descaracterizando as diferenças. Outro argumento é quanto à criação de uma falsa necessidade de consumo pelas propagandas, como já discutimos acima. Além de desestimular o público a pensar e refletir a respeito do que vê, uma vez que tudo é traduzido em forma de entretenimento, informação rápida e pronta, torna-se um meio de comunicação alienante, pois a maioria do público em geral que somente tem acesso às “informações-relâmpago” é geralmente passivo e não consegue refletir com clareza de detalhes sobre os acontecimentos sociais.
Portanto, devemos ter a consciência de que os produtos veiculados na mídia são, em sua maioria, criados por grupos poderosos e que visam a lucratividade. Essa linha de raciocínio nos leva a imaginar a necessidade de continuar com o processo da industrialização da cultura, porém, não se deve perder a noção da existência da dominação, ou seja, que há grupos que desejam manipular as massas a comprarem tudo o que veem e a viverem da maneira que eles, os donos do capital, querem. A indústria cultural, com suas vantagens e desvantagens, pode ser caracterizada pela transformação da cultura em mercadoria, com produção em série e de baixo custo, para que todos possam ter acesso.
É uma indústria como qualquer outra, que deseja o lucro e que trabalha para conquistar o seu cliente, vendendo imagens, seduzindo o seu público a ter necessidades que antes não tinham. Podemos nos posicionar frente à indústria cultural? A indústria cultural, característica da sociedade contemporânea, deve ser pensada quanto ao seu papel. Torna-se necessária uma reflexão sobre que valores culturais estão sendo veiculados na mídia e a quem eles servem. Uma atitude otimista quanto à cultura de massa pode existir, porém uma atitude crítica deve permear os processos de transmissão e assimilação das informações veiculadas.
RERERÊNCIAS:
Sociologia / vários autores. – Curitiba: SEED-PR, 2006. – 266 p.