Chegamos à última seção do nosso módulo. Nele vamos conversar sobre as relações interpessoais na escola visando à construção de uma gestão democrática. Nossa conversa estará pautada pelas contribuições de tudo que discutimos anteriormente sobre as relações entre a psicologia e a educação e as relações entre todas as pessoas que fazem parte do cenário da escola.
Vamos repensar essas relações refletindo sobre as possíveis transformações na escola. Para tal, é preciso a elaboração de um projeto político-pedagógico que vise à superação das contradições existentes em nossa sociedade e que promova o desenvolvimento de uma nova consciência social e de novas relações entre os homens, numa perspectiva mais humanista. Uma proposta como essa precisa da participação de todos que fazem parte do contexto escolar.
Então, você, funcionária ou funcionário da escola pública, tem um compromisso que vai além da sua qualificação nas áreas propostas nesse curso, você tem também o compromisso de participar das mudanças sociais para garantir uma gestão democrática na escola. Também temos de contar com a participação de toda a comunidade para que se envolva conscientemente nessa construção de uma escola democrática, admitindo que essa proposta só será viável com o empenho de cada um envolvido no processo educacional, em especial o educador.
Para isso é necessário dar uma atenção especial à sua formação para que você possa realmente se envolver com as mudanças necessárias para a implantação da gestão democrática. Para responder esta questão, gostaria de propor que você fizesse um levantamento sobre a participação das famílias na sua escola. Procure saber qual o interesse dos pais em relação ao que acontece no cotidiano escolar do seu filho.
Em relação à psicologia, penso que ela só pode contribuir com essa proposta, se tiver o compromisso social voltado para a transformação da sociedade. Isto porque, o que queremos é uma sociedade justa e igualitária, na qual todos tenham acesso à riqueza da produção humana, material e espiritual e onde todos possam viver com dignidade.
A psicologia que queremos deve ser capaz de responder às demandas sociais com esse critério de transformação social e que represente uma possibilidade para todos de emancipação e de superação da desigualdade. O que realmente deve alterar nessa nova proposta de gestão democrática é o modo de legitimação do poder político, superando-se a distância existente entre planejamento e execução das políticas educacionais.
A construção de uma proposta pedagógica transformadora somente será possível a partir do questionamento da realidade existente e não apenas de sua negação. É preciso questionar essa realidade para apontar mecanismos de superá-la estimulando a pluralidade de experiências e de concepções pedagógicas.
O currículo, nessa visão, deve ser concebido a partir da compreensão de educação como prática social transformadora, baseado na visão de um ser humano ativo, cujo pensamento é construído em um ambiente histórico e social. Para tal, faz-se necessária a participação de todos na formulação dos objetivos desse currículo.
Nessa elaboração de um novo currículo, surge uma nova perspectiva de avaliação de todas as ações, que deve ser a mais abrangente possível, levando-se em consideração o conhecimento do comportamento e atitudes dos alunos também fora da sala de aula. É aí que surge a necessidade de se reconhecer a todos na escola como educadores. Muitas vezes, o secretário, a porteira ou a merendeira conhece melhor as motivações e as dificuldades dos alunos do que os professores.
Uma proposta de gestão democrática tem de levar em consideração todas essas vivências, ela passa a ser revolucionária e não reformista na medida em que realmente possibilitar a contribuição de todos e será dessa maneira que poderá levar as transformações para a sociedade como um todo. A intenção é construir uma escola mais humanizada, onde alunos, professores, funcionários e direção, cientes de suas capacidades e criatividade, se sintam participantes e responsáveis pela coisa pública e pela construção de uma nova sociedade.
Para tal, é preciso trabalhar com o coletivo. Isso significa resgatar a escola como espaço público, como lugar de debate, de diálogo fundado na reflexão crítica coletiva. Uma luta pela participação de todos frente aos desafios das mais diversas ordens sociais, políticas e econômicas, preconizando um futuro que, ao invés de pré-concebido, pré-determinado, está sempre em construção.
Como dissemos anteriormente, a participação da comunidade deve acontecer de forma efetiva, por meio de atividades que levem pais, alunos, professores e funcionários a perceberem que podem vir à escola para falar, expressar, opinar e não apenas para ouvir e perguntar. Assim sua participação fica cada vez maior e mais expressiva na comunidade em relação ao projeto da escola. Também é importante que se dê espaço para as atividades lúdicas, já que a brincadeira é uma atividade que faz parte do ser humano.
É importante enfatizar que um dos objetivos deste curso que é o de preparar, você, funcionário de escola pública, para poder participar, com os outros educadores da escola, dos conselhos escolares. Devemos romper com o silêncio, a subserviência e o imobilismo que as relações de hierarquia do poder pelo suposto saber determinavam no contexto da educação. Espero que este módulo, junto com os demais, possa contribuir de alguma forma para a formação de novas relações interpessoais, que visem à construção de uma escola democrática.
Título : Relações Interpessoais: abordagem psicológica
Autor : Regina Lúcia Sucupira Pedroza
Fonte Domínio Público: Brasil. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Relações interpessoais : abordagem psicológica / [Regina Lúcia Sucupira Pedroza]. – Brasília : Universidade de Brasília, Centro de Educação a Distância, 2006.