Problemáticas da escola atual

Problemáticas da escola atualPensar a escola requer a reflexão acerca das relações indissociáveis entre esta instituição e a sociedade, não há como analisá-la de modo independente da sociedade na qual está inserida. O que ocorre no interior das escolas é uma repetição de situações sociais que ocorrem no cotidiano e diante das quais, muitas vezes, a escola não sabe como lidar.

A sociedade mudou, mas a estrutura de ensino não, e é neste ponto que encontramos divergências que são as principais causas das problemáticas atuais das escolas. Há diversas discussões acerca dessa temática no decorrer dos anos, as quais tem se modificado conforme o avanço da ciência e dos modos de vida da sociedade. Na década de 60, os problemas presentes nas escolas eram vistos como individuais e subjetivos de cada aluno.

Orgânicos ou não, faziam parte da constituição do sujeito, centrando no aluno todas as causas do seu próprio fracasso. As dificuldades apresentadas pelos alunos eram nomeadas e o professor pressupunha uma incapacidade quase inata do sujeito mediante as disciplinas escolares e, por certas vezes, se desinteressava pelo aprendizado daquele aluno (CALDAS, 2005). Já na década de 80, os problemas escolares começaram a considerar também os determinismos sociais e as relações familiares e sociais estabelecidas pelos alunos.

A culpa do fracasso escolar agora recai sobre o ambiente familiar em que o sujeito está inserido. O aluno passa de culpado por seu fracasso na escola à vítima de uma família desestruturada, de um ambiente carente de cultura, ausente de perspectivas ou investimentos em um projeto que envolva a educação escolar.

Para Caldas (2005), não se trata de negar a existência de dificuldades familiares, problemas emocionais, conflitos, entre outros, mas sim de não estabelecer uma relação causal linear entre estes fatores e a capacidade de aprendizagem, buscando refletir sobre a rede de agentes produtores de incapacidades.

Além disso, nesse período, buscou-se explicações acerca dos problemas escolares apontando para a ideologia presente nas instituições educativas. A crítica se encontra ligada às diferenças de classes e sustenta a ideia de que o modelo escolar privilegia as classes sociais mais altas. Nesse cenário, os alunos das classes populares sofreriam um certo choque cultural ao se depararem com conteúdos, materiais e condutas já estabelecidos dentro das escolas e distantes de sua realidade social (CALDAS, 2005).

A problemática se instaura tanto na escola elitista quanto nas desigualdades de renda, elucidando as maneiras dos estudos em alterar a realidade numa vertente socioeconômica. As intervenções aqui fundadas ficaram ainda restritas a denúncias, leituras e apontamentos dos déficits com a prática, pois faltava um novo embasamento teórico que abrangesse um novo método, uma nova prática (CALDAS, 2005).

Saiba mais: “Na lista dos grandes desafios a serem encarados hoje dentro da escola constam também a indisciplina, as dificuldades de aprendizagem, os problemas psicológicos e comportamentais” (GAZETA DO POVO, 2009. Disponível em: http://www.gazetadopovo.com.br/educacao/professores-e-os-desafios-dentro-da-saladeaulabsmeehc611tmnmdyxmr5jrjny).

Assim, as problemáticas enfrentadas pelas escolas foram assumindo diferentes posições e diferentes causas para suas explicações. Hoje, existe a ideia centrada nas escolas e nos professores por meio de um discurso pautado no baixo investimento direcionado às escolas públicas, no despreparo dos profissionais para lidarem com os alunos, na falta de estrutura para um ensino de qualidade, na ausência de instituições suficientes para todos que precisam e baixos salários recebidos pelos professores.

O problema escolar é focado como resultado da incompetência estatal para lidar com questões relacionadas à educação de boa qualidade (OLIVEIRA; SOUZA; REGO, 2002). Diversas são as causas das problemáticas atuais nas escolas: um aluno pode apresentar problemas orgânicos que prejudiquem seu aprendizado, ser membro de uma família com problemas que influenciem suas emoções, estar em relacionamentos que desestimulem sua participação na escola, fazer parte de uma instituição que tenha seus próprios problemas estruturais ou profissionais.

Ainda assim, nenhum destes fatores é o único determinante dos problemas escolares. Sendo multifacetados, os problemas presentes nas escolas não apresentam uma única solução, mas sim uma junção de pseudo-soluções complementares (CALDAS, 2005). Para Caldas (2005), é preciso:

[…] pensar a escola em movimento. As queixas, a inteligência, a subjetividade, as relações, devem estar em movimento. Levar em conta o contexto sócio-histórico como pano de fundo para a compreensão dos processos escolares […]. Entender a queixa e o fracasso escolar como uma circunstância, como um momento que poderá alterar-se e não precisará ser sempre do modo como está hoje, conduz a uma possibilidade de pensar alterações a partir de um processo de transformação (CALDAS, 2005, p. 32).

Repensar novas propostas considerando o conjunto de determinantes que interferem no processo escolar se faz necessário na busca da compreensão e superação das atuais problemáticas escolares.

A educação e as tecnologias

As crianças e adolescentes dos dias de hoje estão imersos em um mundo tecnológico. Notebooks, tablets e smartphones, com a sua realidade virtual, representam toda uma dimensão na qual elas se sentem à vontade e possibilitam o aceleramento de diversos processos evolutivos do indivíduo. O ensino tradicional tem tentado adaptar-se a essa nova era digital, embora ainda apresente certas resistências frente às mudanças.

A não adaptação do ensino às tecnologias configura-se como causa de muitos alunos desinteressarem-se pelos estudos e não se conectarem com a escola (FISCHER, 2000). Para tanto, alguns estudos apontam a necessidade de algumas mudanças na educação atual:

  1. a) O ensino tradicional coloca o professor no centro do aprendizado: a maior mudança pedagógica decorrente das novas tecnologias é que o centro do processo de ensino e aprendizagem passou do professor para o aluno. Anteriormente, o professor era o detentor do saber, transmitindo às novas gerações o conhecimento advindo dos livros didáticos. Com o surgimento da internet, as informações tornaram-se de fácil acesso a qualquer pessoa. Assim, nesse novo cenário, o professor deixa de ser o centro da informação para atuar a favor do conhecimento, tornando-se um facilitador entre o conhecimento e o aluno (RATNER, 2004). A problemática atual da escola está em negar essa realidade, não possibilitando que os alunos desenvolvam uma relação saudável com a internet, pensando nela somente como fonte de entretenimento e não como ferramenta educativa.
  2. b) A recusa em abrir caminho para as novas tecnologias: muitas escolas, principalmente as tradicionalistas, têm se recusado a implantar as tecnologias digitais como metodologias de ensino. Tablets, smartphones, entre outros, podem se tornar grandes aliados do processo de aprendizagem. É preciso observar que a criança que não tiver uma educação digital possivelmente terá dificuldades.

Rezende (2000) salienta que o uso da tecnologia digital nas escolas é uma realidade cada vez mais presente. Atualmente já não se questiona se ela deve ou não estar nesses espaços, mas sim como utilizá-la em prol da educação, como incorporar as tecnologias para proporcionar práticas educativas motivadoras e estimulantes para a aprendizagem dos alunos.

Todavia, é essencial atentar que o uso das tecnologias não resolve as problemáticas da educação. É essencial que, aliado ao uso dessa ferramenta, a noção de conhecimento, de professor e de aluno sejam repensadas. Nas palavras da autora “Sabemos, entretanto, que os meios, por si sós, não são capazes de trazer contribuições para a área educacional e que eles são ineficientes se usados como o ingrediente mais importante do processo educativo, ou sem a reflexão humana.” (REZENDE, 2000, p.71).

Título : Psicologia do desenvolvimento e da aprendizagem

Autoras : Josieli Piovesan,  Juliana Cerutti Ottonelli , Jussania  Basso Bordin e Laís Piovesan

Fonte: Psicologia do desenvolvimento e da aprendizagem [recurso eletrônico] / Josieli Piovesan … [et al.]. – 1. ed. – Santa Maria, RS : UFSM, NTE, 2018.

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