História da Arte: VOCÊ SUPORTA ARTE?
Comumente quando vemos uma pintura executada à tinta a óleo sobre uma tela, de preferência representando formas figurativas, consideramos esta uma “verdadeira obra de arte”. É este o tipo de quadro que a grande maioria das pessoas entende que merece estar nas paredes dos museus. Mas será que a pintura de cavalete pode ser considerada a única, verdadeiramente Arte?
Das paredes das cavernas aos muros das cidades
O chamado Homem de Cro-Magno, há aproximadamente 25 mil anos, ainda habitava as cavernas e em seu cotidiano fazia rituais que ele considerava vitais, pois por meio deles, cultuava os deuses em que acreditava. Esses deuses são hoje chamados de “animistas” que são os elementos da natureza como o sol, a lua, o vento, a chuva, ou seja, elementos que o homem pré-histórico podia perceber e que influenciavam diretamente em sua vida.
Foi com intenção ritualística que surgiram as primeiras pinturas rupestres que constituem registros que permanecem até a atualidade e auxiliam inclusive na compreensão, por parte de historiadores e arqueólogos, sobre como era a vida naquela época.
Períodos da Pré-história:
A Pré-história está dividida da seguinte forma:
- Paleolítico Inferior (c. de 500.000 a c. de 30.000 a.C.);
- Paleolítico Superior (c. de 30.000 a c. de10.000 a.C.);
- Neolítico (c. de 10.000 a.C. até o surgimento da escrita a c. de 3.000 a.C).
O artista caçador e o sentido mágico de sua arte
O “artista-caçador” da Pré-história, ao representar os animais nas paredes das cavernas, acreditava dominá-los. No Paleolítico Superior, ele supunha que, pintando o animal, seu grupo conseguiria capturá-lo durante a caçada. Observe a imagem:
Como o artista fez para representar os olhos, o focinho e a pata do touro? Se você observar bem, notará que ele consegue representar certo volume na barriga utilizando para isto um material com cor mais clara. Veja que logo abaixo do focinho dele, parece haver uma pintura mais desgastada de outro animal, possivelmente um cavalo. Próximo aos seus chifres, pode ser percebido também que por baixo desta pintura há outras aspas pintadas, o que indica a pintura de outro touro ali. Mais para trás, na região do cupim, aparecem outros chifres novamente.
Você consegue imaginar por que há tantas pinturas no mesmo lugar? O “artista-caçador” escolhia uma parede de difícil acesso para pintar, e lá retratava o animal tal qual era visto na natureza, utilizando como material o carvão, a seiva de plantas e de frutas, argila, fezes e sangue de animais. Nessas paredes, as pinturas costumavam se repetir muito, umas sobre as outras como ocorre no Touro Negro. Isto levou alguns pesquisadores a afirmar que para o homem pré-histórico, não era só a imagem do animal que era mágica, mas a própria parede da caverna. E você, se acreditasse que a parede de sua casa é mágica o que representaria lá?
Observe que há homens e animais nesta pintura. O que eles parecem estar fazendo? Você sabia que no Período Paleolítico não eram desenhados seres humanos? Sua representação pictórica começa a acontecer no Neolítico. Nesta fase, o homem começou a utilizar a parede para registrar sua história, retratando cenas ocorridas em seu cotidiano. Nelas dá para perceber a convivência entre homens e animais, o que mostra que os homens já os domesticavam nessa época. Para estas representações, o homem continuava utilizando elementos da natureza, porém suas pinturas agora são mais simplificadas do que no Paleolítico.
É interessante lembrar que o termo “artista-caçador” foi utilizado entre aspas porque nesta época as pinturas tinham apenas função mágica e de registro. O termo artista, entendido como aquele que se dedica às Belas Artes ou que delas faz profissão, é aplicado somente a partir do século XV, tanto é que até o século XIV o artista era considerado um artesão ou artífice.
E no Brasil, há pinturas pré-históricas? Se você supõe que não, saiba que o sítio arqueológico da Serra da Capivara, no Piauí, é um dos mais importantes do mundo. Que tal pesquisar?
Nesta pintura também estão presentes animais e humanos juntos. O que está representado na mão das pessoas? O que pretendiam contar por meio do desenho desta parede? Agora compare as três obras. Perceba que a do Paleolítico detalha melhor o animal, representando o focinho, a barriga, etc. Já no Neolítico, as figuras são mais simplificadas, com os animais sendo representados com uma cor só e quase sem detalhes. Será que no Neolítico o homem piorou seu desenho? Ou será que ele aprendeu a compreender imagens mais simples, não necessitando mais de tantos detalhes para entender que o desenho tratava deste ou daquele animal?
Graffiti, no Egito Antigo?
No Egito Antigo, país localizado na região nordeste da África, em aproximadamente 3000 a.C., a parede já era usada para desenhar e fazer baixos relevos com a intenção de registrar a sua história das dinastias e de sua mitologia. O povo egípcio acreditava que após a sua morte, poderia viver eternamente no “Mundo dos Mortos”, se tivesse lido o “Livro dos Mortos” que comentava sobre os deuses egípcios. Mas eles só poderiam viver neste mundo, desfrutando de tudo o que tiveram em vida, após um julgamento, conhecido como “Julgamento de Osíris”. O Faraó contratava artesãos e escribas para, nas paredes das pirâmides, registrar com desenhos detalhados a sua vida. Mas, para que o corpo do faraó se mantivesse intacto para esta nova vida, era necessário mumificá-lo. A representação dos personagens nestas paredes obedecia a um padrão conhecido como “Lei da Frontalidade”, segundo o qual as figuras eram representadas com o tronco de frente, as pernas, braços e cabeça de lado.
Quanto mais importante o personagem, maior o espaço que sua representação ocupa na parede, obedecendo-se à seguinte hierarquia: primeiro o Faraó, em seguida sacerdotes, depois militares, camponeses e por último escravos. Observe este baixo relevo. Nele fica fácil observar como foi utilizada a lei da frontalidade nos personagens humanos. Observe que na parte superior há uma pessoa maior que representa o rei Ramsés II caçando touros selvagens. Ele usa um arco e uma flecha e há um risco representando o trajeto de uma flecha até a parte traseira de um touro que corre para a mata. Veja que Ramsés II não está correndo, mas apoiado em uma espécie de charrete presa a um cavalo. É interessante destacar que os cavalos não são provenientes do Egito, quem os levou para lá foram povos chamados hicsos, entre 1750 e 1580 a.C.
Note as pessoas representadas em dimensão menor, logo abaixo de Ramsés II. O que elas têm nas mãos? Você consegue imaginar qual sua profissão? O que eles estavam fazendo ali? Do lado direito, no pé do primeiro militar, há uma linha inclinada e depois um peixe representado. Esta figura possivelmente represente o Rio Nilo, indicando em que local o Faraó estava caçando. Por que os militares estão representados menores que o Faraó? Há também uma série de pequenos desenhos em volta, normalmente seguidos de linhas retas na posição vertical. Esses pequenos desenhos eram a escrita dos egípcios naquela época, e se chamam hieróglifos. Você sabia que os hieróglifos foram desvendados? Quem os decifrou foi um francês chamado Jean-François Champollion (1790-1832) em seu último ano de vida e por isso ele é considerado o primeiro egiptólogo do mundo.
REFERÊNCIAS:
Arte / vários autores. – Curitiba: SEED-PR, 2006. – 336 p