O fracasso escolar é um tema relevante, polêmico e atual, a figura exemplifica um pouco deste tema.
Se pensarmos em tudo que já estudamos, e vimos até agora na disciplina, não fica difícil de visualizar ou entender o porquê de muitos fracassos. Como a sociedade evoluiu, saindo de uma educação voltada principalmente para burgueses, passando por uma educação bem tecnicista, na qual o que importa é o saber fazer e não o saber pensar, até nos depararmos com as ideias de Freire totalmente ao contrário de uma sociedade organizada em torno da exclusão, do analfabetismo também funcional, não fica difícil de pensarmos os diversos porquês que perpassam o fracasso escolar nos dias atuais.
Estamos adentrando a era da informação, da comunicação rápida e dos envolvimentos igualmente rápidos e rasos, e devemos dar conta de tudo isso, de nos inserirmos nessa realidade sem, muitas vezes, termos tempo de pensar sobre essa realidade que se apresenta. Temos prazos, temos conteúdos e leis a seguir, não paramos para discuti-las, somente temos que aceitar. E como a escola se organiza diante de todos esses impasses?
Como nosso aluno, que é um ser complexo (MORIN, 2000), se localiza nesse cenário? E seus desejos, seus sonhos, suas realidades, suas guerras diárias, como isso vem para o ambiente escolar? Como encaramos a reprovação, a violência, a evasão, a indisciplina e o erro?
Será que o ambiente escolar está pronto para “lidar” com todas essas especificidades que se encontram nas salas de aula? Será que nosso sistema entende o ser humano como heterogêneo? Ou será que ainda buscamos, assim como no passado, colocarmos todos em um mesmo molde desconsiderando as tantas diferenças?
Procurei fazer todos esses questionamentos para pensarmos o fracasso escolar. Com o intuito de olhar o todo, e não as partes que compõe esses índices, que são alarmantes, busco com essas questões elucidar um olhar crítico sobre o contexto que envolve essa temática. Pois, seria extremamente ingênuo, de minha parte, pensar que o fracasso escolar é um tema que sempre esteve presente e sempre será assim, que depende de aluno para aluno e do quanto um é mais inteligente que o outro, como por muito tempo foi pensado.
Muitas vezes, adentramos o espaço escolar, ou melhor, uma sala de aula, que mais parece que saíram de um filme de época, com carteiras dispostas em filas, exatamente uma atrás da outra, um tablado para o professor ficar em um lugar mais alto, que assim terá maior visibilidade da turma e sem nenhuma cor. Parece que estamos fazendo uma viagem ao túnel do tempo, onde os professores escrevem as lições, no quadro, e aos alunos só resta copiar. Copiar professora!
Não vou tirar um foto do quadro! Que isso menino, foto não! Aliás o que está fazendo com o celular? Aqui não é lugar disso. Não quero que esse relato anterior seja homogeneizado, e que todos os professores e professoras de nosso país são assim. E, se o são, não é a intenção de falar mal sobre sua prática pedagógica, talvez seja a única que aprenderam.
O grande intuito, disso tudo, é parar para pensarmos que não necessariamente, a sala de aula, seja assim, pode ser até diferente, com organização diferenciada, mas se não pensarmos em uma aprendizagem, que seja significativa para o aluno, ele perderá o interesse, pois o lado de fora da escola é mais atraente.
Muitos autores escrevem, e escreveram, sobre o fracasso escolar, é um tema, que me parece, sempre esteve em pauta. Marchesi e Pérez (2004) sinalizam que três ideias pairam sobre o fracasso escolar: uma primeira ideia diz respeito ao aluno fracassado, outra ideia diz que o fracasso é culpa da autoestima deste aluno, que fica abalada pelas inúmeras vezes que não aprende ou que não passa de ano, e a terceira, centra somente a culpa no aluno como sendo o único responsável pela sua aprendizagem.
Nesse sentido, me parece que o único sujeito dessa oração é o aluno, que faz e sofre a ação do verbo reprovar, a família, o sistema no qual estamos inseridos, as condições sociais, nada diz respeito a esse insucesso escolar, a figura 34 tenta exprimir um pouco deste contexto.
Porém, temos o outro enfoque que centra todas as pseudo “culpa” na escola, nos professores em como organizam o conhecimento, os valores e as metodologias de ensino. No entanto, não basta termos um ótimo currículo escolar, que seja voltado para uma realidade na qual o aluno não se insere. Precisamos tornar a aprendizagem significativa, Freire, já dizia que “não há docência sem discência, as duas se explicam e seus sujeitos, apesar das diferenças que os conotam, não se reduzem à condição de objeto, um do outro” (1996, p.25).
Parafraseando Cortella (2006), a aprendizagem deve ser significativa para o aluno, deve estar inserida em seu dia-a-dia, de nada adianta o professor querer ensinar com base em um conteúdo, por exemplo, que não faz parte do cotidiano de seus alunos. Um objeto ou dito popular em uma região do país pode não ser de conhecimento em outra, exemplificando melhor, para os gaúchos a palavra “cusco” é referencia para cachorro, já em outras regiões do país não se observa o mesmo.
E quando o insucesso chega, pela não aprendizagem, a saída razoável é a reprovação, pois infelizmente continuamos tentando ensinar aquilo que não é do contexto diário do indivíduo. Por exemplo, uma palavra que é do folclore, ou própria de uma região do país, em outra região essa palavra, muitas vezes, nem tem um significado.
Sampaio (2004) no mesmo sentido nos diz que:
O fracasso, portanto, não se explica apenas pela reprovação, nem pela perda de um ou mais anos, repetindo séries; outra perda relevante acontece pelo distanciamento cada vez maior estabelecido entre os alunos e o conhecimento que a escola pretende transmitir (p.89).
Para Charlot (2005), o fracasso escolar não existe, o que existe são alunos que apresentam dificuldades para aprender, são situações específicas, e nesse sentido, entendemos que o fracasso escolar não se resume somente em reprovar de ano. O que historicamente considera-se, nas escolas, como fracasso, está atrelado à avaliação da aprendizagem que na maioria das vezes é extremamente quantitativa, estando localizada em provas.
Desta forma, a escola concebe o bom e o mau aluno, não olhando toda a conjuntura que leva um aluno a não atender o que a prova propôs, ou o momento em que esse aluno se encontra, seja atravessando por problemas familiares ou de ordem de saúde e alimentação. Paro (2001) sinaliza que:
Os que são reprovados devem repetir o mesmo processo no ano seguinte, em geral com o mesmo professor (ou professores) e com a utilização dos mesmos recursos e métodos do ano anterior. Para os reprovados, o absurdo da situação não é apenas que se espera todo um ano para se verificar que o processo não deu certo (o que já não é de pouca gravidade); o absurdo consiste também em que nada se faz para identificar e corrigir o que andou errado. Não se trata propriamente de uma avaliação, mas de uma condenação do aluno, como se só ele fosse culpado pelo fracasso. Como se o processo não fizesse parte do aluno, o professor (ou professores) e todas as condições que se dá o ensino na escola. (p. 41-42)
A figura exemplifica o medo da reprovação e a autossugestão de que a escola não é o lugar de reprovados.
Colaborando com as ideias de Paro (2001), é importante pensarmos no todo que faz esse sujeito, subjetivo e único, que vive nesse mundo complexo. O aluno é um composto, um misto, de todas as circunstâncias a que está submetido. Pois, primeiro ele não é o único responsável pela sua aprendizagem. Segundo, ele faz parte de um contexto familiar, social, ecológico. Terceiro, ele possui aprendizagens já consolidadas, o que pressupõe que deverá ancorar novos conhecimentos aos já existentes.
E quarto, o espaço escolar deve servir de estímulo para desenvolver as potencialidades de cada um, e não de repulsão para o aluno que apresenta dificuldade em aprender, ou ancorar conhecimentos aos já existentes. Então, esse aluno se constitui em partes que, juntas, formam um todo, e o todo só é formado se tivermos todas as partes envolvidas. Nesse ponto de vista Marchesi e Pérez (2004), vão além sinalizando que:
É preciso que os alunos com maior risco de fracasso escolar tenham “experiência de êxito escolar”. […] a história escolar dos alunos que não terminam a educação obrigatória ou a abandonam prematuramente está cheia de experiências frustrantes, de falta de confiança, de experiência negativas, de baixa autoestima, de sensação de impossibilidade, de antecipação do próprio fracasso. É preciso romper essa dinâmica e propiciar que o aluno tenha experiências positivas que melhore sua autoestima e que revigorem para manter o esforço em tarefas posteriores. Para isso, é necessário que o professor ajuste a tarefa às possibilidades de cada um e mantenha expectativas positivas para a aprendizagem de todos os seus alunos. (p.32).
Cortella (2006) nesse sentido elucida também:
Errar é, sem dúvida, decorrência da busca e, pelo óbvio, só quem não busca não erra. Nossa escola desqualifica o erro, atribuindo-lhe uma dimensão catastrófica; isso não significa que, ao revés, deva-se incentiva-lo, mas, isso sim, incorporá-lo como uma possibilidade de se chegar a novos conhecimentos. Ser inteligente não é não errar; é saber como aproveitar e lidar bem com os erros (p. 112)
Estes autores elencados, também ressalvam que, o interesse para a aprendizagem dos alunos se dá na participação ativa na vida escolar e isso pode reduzir o fracasso escolar. A ameaça da reprovação é uma motivação negativa, que incentiva o aluno a sair da escola, ou seja, fugir do medo de ser rejeitado. De fato, não podemos tentar encontrar um culpado para o fracasso escolar.
Esta deriva de vários aspectos aqui abordados, professores, pais, alunos e instituição escolar, devem trabalhar em conjunto, pela não rotularização e busca de um problema que na verdade não existe. Devem buscar formas e metodologias que atendam às subjetividades que são encontradas dentro da sala de aula. Se meu aluno não aprende, ou tem dificuldades, cabe a nós procurarmos estratégias para lidar com as situações que se apresentam.
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REFERÊNCIAS:
PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM / Silva, Juliane Paprosqui Marchi da, UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA, Santa Maria | RS 2017