Para aprender a escrever, não basta compreender o sistema de escrita alfabética. Escrever envolve dominar o processo de produção de um texto, o que implica conhecer as diferentes possibilidades da linguagem, dependendo daquilo que se tem a intenção de comunicar e para quem. Envolve também dominar algumas práticas comuns aos escritores, tais como planejar o que vai escrever, escrever interrompendo sua escrita para reler o que já foi produzido até aquele momento, revisar seus escritos para aprimorá-los, consultar outros textos para ampliar suas ideias a respeito do que se quer comunicar.
Caso as atividades propostas aos alunos no início de sua escolaridade fiquem restritas àquelas que favorecem a reflexão sobre o sistema de escrita, transmite-se uma ideia empobrecida do que seja o processo de escrita, como se a única habilidade necessária fosse a correspondência entre sons e letras. Mas, se desde o início os alunos forem colocados ante situações em que tenham de produzir textos complexos, que considerem propósitos comunicativos variados e que se dirijam a leitores reais, torna-se possível tanto que aprendam o que significa escrever, quanto desenvolvam, enquanto enfrentam os problemas próprios aos escritores, as habilidades necessárias para lidar com textos.
Quando ainda não dominam o funcionamento do sistema de escrita alfabética, os alunos podem produzir textos se contarem com o professor como escriba daquilo que ditam. Tal produção costuma ser coletiva, ou seja, o grupo de alunos todo é autor do texto, o que significa que todos contribuem para decidir o que será escrito e como, num processo de discussão e troca de experiências em que cada um tem a oportunidade de aprender com as sugestões dos colegas. O professor, nesse caso, limita-se a escrever o texto que foi considerado mais adequado pelas crianças, sem organizá-lo ou traduzi-lo para suas próprias palavras.
Além disso, ele coordena a produção, propondo momentos em que o que já foi escrito seja relido, sugerindo que o texto seja revisado para acrescentar dados que foram esquecidos numa primeira escrita, para esclarecer pontos que ficaram confusos, acrescentar elementos de coesão a fim de evitar repetições no texto, para rever trechos que apresentem problemas, convidando o grupo a refletir sobre formas que permitam superá-los. Quando produzem um texto coletivo junto ao professor, os alunos aprendem especialmente o que significa o processo de elaboração de um texto em toda a sua complexidade: aprendem que cada gênero textual tem características que lhe são próprias, características essas importantes para que cumpram determinados propósitos comunicativos.
Outra aprendizagem propiciada por essa atividade é a diferenciação entre o conteúdo que se deseja incluir no texto e a forma como será expresso tal conteúdo. Assim, quando vão produzir um texto, é comum que as crianças se contentam em listar as informações que desejam incluir. No contato com os colegas, que sugerem formas diferentes de expressar o mesmo conteúdo, as crianças aprendem que a linguagem tem várias possibilidades. Em cada momento, um escritor deve fazer escolhas para que seu texto concretize exatamente aquilo que foi sua intenção dizer, considerando, também, a linguagem mais adequada.
Além disso, sob a orientação do professor, essa situação didática também permite que os alunos aprendam que a produção de um texto requer diferentes momentos: há um momento inicial para planejar o que será escrito, há o momento da produção propriamente, marcado por várias interrupções em que se relê o que se escreveu, para avaliar se está bem escrito, se faltam informações importantes e para decidir o que será descrito a seguir. Além da textualização, é comum que o escritor se dedique a revisar o texto, fazendo mudanças na maneira de se expressar, visando a melhorar o que escreve, ou seja, a revisão contribui para o aprimoramento da produção.
Todos esses diferentes momentos da escrita, bem como os problemas que os escritores enfrentam em cada um deles, são colocados aos alunos quando se dedicam a situações como essa. Para enfrentá-los, contam com a colaboração dos colegas, a ajuda do professor, que aponta os problemas, propõe ao grupo a reflexão sobre possibilidades de resolvê-los e indica algumas saídas. Contam, também, com a utilização de textos bem escritos, lidos em momentos anteriores, que, nesse momento, são revisitados para analisar as soluções encontradas por seus autores para lidar com determinadas dificuldades enfrentadas pelas crianças, enquanto se dedicam à produção.
Mesmo que o foco da atividade não seja esse, enquanto observam o professor escrevendo, os alunos têm a oportunidade de observar aspectos relacionados ao sistema de escrita. Para alguns, a variedade de letras utilizadas pelo professor, enquanto escreve, chama a atenção, pois estão em diferentes níveis de escrita. É importante que, antes de se propor que produzam determinado texto, os alunos já tenham familiaridade com ele como leitores. Se vão produzir bilhetes ou cartas, é importante garantir momentos em que já tenham lido bilhetes ou cartas.
Além da experiência como leitores, é interessante propor momentos em que conversem sobre a organização dos textos, o tipo de informação que pode neles constar. Para que seja produtiva, é importante que, antes de se dedicarem à situação de produção, os alunos conheçam a situação comunicativa em que está inserida, definindo a quem se dirige o texto e qual o objetivo que se tem ao escrevê-lo. Saber sobre o gênero textual e suas características, sobre o destinatário a quem se dirige e os propósitos que se espera alcançar com a escrita, contribui para que os alunos decidam quais informações são pertinentes e como serão expressas no texto.
Fonte:
Educa juntos : língua portuguesa / Secretaria de Estado da Educação e do Esporte. – Curitiba : SEED – PR, 2019. – 210 p. (Caderno de orientações didáticas para o professor ; primeiro ano).