Soares (2004, p. 14) afirma que os processos de alfabetização e letramento são indissociáveis e devem não acontecer de forma independente: a alfabetização desenvolve-se no contexto de e por meio de práticas sociais de leitura e de escrita, isto é, em contextos de letramento; e este, por sua vez, requer a aprendizagem das relações fonema-grafema para se efetivar de maneira plena a experiência dos sujeitos. Desse modo, a indissociabilidade entre a alfabetização e o letramento deve ser objeto de atenção de uma proposta de alfabetizar letrando. Nesta perspectiva, os processos de alfabetização acontecem individual e coletivamente, pois ao mesmo tempo em que é uma construção subjetiva do conhecimento da língua pela criança, como nos explica Emília Ferreiro em sua teoria da Psicogênese da Língua Escrita, também é uma construção coletiva, à medida que estabelece relações e representações com as práticas sociais do uso da língua.
Soares (2000) destaca, ainda, que é possível promover um ensino que alie as especificidades destes dois processos: o alfabetizar e o letrar.
Se alfabetizar significa orientar a criança para o domínio da tecnologia da escrita, letrar significa levá-la ao exercício das práticas sociais de leitura e de escrita. Uma criança alfabetizada é uma criança que sabe ler e escrever; uma criança letrada (tomando este adjetivo no campo semântico de letramento e de letrar, e não com o sentido que tem tradicionalmente na língua, este dicionarizado) é uma criança que tem o hábito, as habilidades e até mesmo o prazer de leitura e de escrita de diferentes gêneros de textos, em diferentes suportes ou portadores, em diferentes contextos e circunstâncias. […] Alfabetizar letrando significa orientar a criança para que aprenda a ler e a escrever levando-a a conviver com práticas reais de leitura e de escrita […]. (JORNAL DO BRASIL, 26 nov. 2000).
Então, o planejamento das práticas alfabetizadoras necessita alinhar estes conceitos para que se oportunizem às crianças adquirir as habilidades necessárias para a compreensão do funcionamento da língua em práticas sociais comunicativas. Tornam-se relevantes, nesta proposta de Alfabetização e Letramento, atividades intencionais que estimulem o desenvolvimento da consciência fonológica, necessário à apropriação do Sistema de Escrita Alfabético (SEA) e à produção e interpretação de distintos gêneros textuais. Segundo José Morais (1996), consciência fonológica é uma habilidade metalinguística que se refere à representação consciente das propriedades fonológicas e das unidades constituintes da fala, incluindo a capacidade de refletir sobre os sons da fala e sua organização na formação das palavras. No entanto, é importante ressaltar que não estamos defendendo atividades pedagógicas isoladas para o desenvolvimento das relações grafofônicas, mas sim a necessidade de incorporarmos nas práticas alfabetizadoras tais relações. Para Galvão e Leal (2010), a alfabetização é um processo de construção de hipóteses sobre o funcionamento do Sistema de Escrita Alfabética (SEA). Para aprender a ler e a escrever, o aluno precisa participar de situações que o desafiem, que coloquem a necessidade da reflexão sobre a língua, que o leve, enfim, a transformar informações em conhecimento próprio. As autoras ainda defendem que esta prática precisa se utilizar de textos reais, tais como listas, poemas, bilhetes, receitas, contos, piadas, entre outros gêneros, por meio dos quais os alunos podem aprender a interpretar muito sobre o mundo do escrito. O trabalho com essa diversidade de textos deve envolver tanto a leitura quanto a escrita. A produção de texto pelas crianças é uma atividade complexa, que exige do professor um ensino sistemático e que possibilite ao aluno vivenciar situações frequentes de escrita (LEAL, 2010), pois a frequência com que escrevemos é fundamental para que possamos desenvolver as capacidades imprescindíveis a essa atividade.
Fonte:
Educa juntos : língua portuguesa / Secretaria de Estado da Educação e do Esporte. – Curitiba : SEED – PR, 2021. – 286 p. Caderno de orientações didáticas para o professor ; segundo ano).