As crianças chegam ao Ensino Fundamental com experiências diversas e significativas, por isso precisam ser acolhidas nas salas de aula alfabetizadoras com um olhar voltado para suas singularidades, para suas potencialidades e, principalmente, para suas necessidades específicas. As crianças olham o mundo a sua maneira, e o interpretam a partir de suas vivências, das suas experiências familiares, sociais e escolares. Por isso, é necessária a criação de um ambiente escolar onde a infância possa ser vivida em toda a sua plenitude, um espaço e um tempo de encontro entre os seus próprios espaços e tempos de ser criança também na escola (NASCIMENTO, 2008), e que garanta a apropriação da leitura e da escrita em suas práticas cotidianas, de forma responsiva. Essa criança precisa ser envolvida por um currículo que privilegie o brincar como um dos eixos-base do seu trabalho pedagógico, entendendo que a infância é fase única e importante para o seu desenvolvimento biológico e social. Neste sentido, é imprescindível pensar a transição entre a Educação Infantil e o Ensino Fundamental, garantindo às crianças seus direitos de brincar e de aprender.
OS PROFESSORES ALFABETIZADORES
Os professores alfabetizadores se constituem como tal a partir das experiências da formação inicial, do exercício da docência, do contato com os alfabetizando e da formação continuada – lugar onde buscam respostas para seus desafios cotidianos, recorrendo à teoria e também repensando sua prática. A escola é o espaço no qual o professor se torna alfabetizador. Portanto, é fundamental que este espaço acolha as necessidades de uma alfabetização na perspectiva do letramento. Para isso, faz-se necessário o compromisso dos diferentes atores do contexto escolar, dando suporte à atuação docente, transformando a escola num lugar onde a leitura e a escrita circulem, de modo a favorecer tanto a alfabetização quanto o desenvolvimento do letramento. Neste sentido, deve-se reconhecer que
[…] tanto a alfabetização quanto o letramento têm diferentes dimensões, ou facetas, a natureza de cada uma delas demanda uma metodologia diferente, de modo que a aprendizagem inicial da língua escrita exige múltiplas metodologias, algumas caracterizadas por ensino direto, explícito e sistemático […]. (SOARES, 2003, p. 16).
Tal reflexão leva à valorização da escola como um espaço de compartilhamento de experiências vividas pelos professores alfabetizadores no seu cotidiano, potencializando e qualificando a prática docente. A criação desses espaços de compartilhamento permite ao professor materializar uma alfabetização na perspectiva do letramento, considerando a natureza dos métodos escolhidos, seus aspectos conceituais e as especificidades metodológicas, contemplando os diferentes ritmos de aprendizagem de seus alunos.
AS PRÁTICAS SOCIAIS DE LEITURA E DE ESCRITA NA ESCOLA
Durante muito tempo a tradição escolar definiu como conteúdo de leitura o aprendizado da decifração. Ler, emitindo sons para cada uma das letras, era a situação que ilustrava a aprendizagem da leitura. Hoje, sabemos que não basta ler um texto em voz alta para que seu conteúdo seja compreendido; a decifração é apenas uma, dentre muitas, das competências envolvidas nesse processo. Ler é, acima de tudo, atribuir sentido. Além disso, se queremos formar leitores plenos, usuários competentes da leitura e da escrita em diferentes campos de atuação dos sujeitos na vida social, participantes da cultura escrita, não podemos considerar alfabetizados aqueles que sabem apenas o sufi ciente para assinar o nome e tomar o ônibus. Formar leitores proficientes não é tarefa simples: implica redefinir os conteúdos de leitura e de escrita. Trata-se não somente de ensinar a língua, suas regras e sua estrutura, mas de incorporar a esse ensino as ações que se fazem com a utilização de textos no cotidiano. Lemos com os mais diferentes propósitos: para nos informar sobre as atualidades, localizar endereços e telefones, fazer uma receita, saber como vão as pessoas que estimamos, nos divertir ou emocionar, tomar decisões, pagar contas, comprar algo, entre outros. E escrevemos para distintos interlocutores, com diferentes intenções, nas mais variadas situações: para relatar como estamos para pessoas distantes, solicitar algo, reclamar de alguma coisa, nos lembrarmos daquilo que temos de comprar, prestar contas do nosso trabalho, anotar um recado para alguém, entre outras intenções. São ações que podem e devem ser aprendidas, traduzidas em comportamentos – de leitor e de escritor – que precisam ser ensinados. Claro que é necessário aprender o sistema de escrita e seu funcionamento, mas, como já foi dito neste Caderno de Orientações Didáticas, essa aprendizagem pode ocorrer em situações reais e com a utilização de textos autênticos, ou seja, que comunicam e que foram feitos para leitores.
Trata-se então de trazer para dentro da escola a escrita e a leitura que acontecem fora dela. Trata-se de incorporar, na rotina, a leitura feita com diferentes propósitos e a escrita produzida com diferentes fins comunicativos para leitores reais. Enfim, trata-se de propor que a leitura e a escrita estejam presentes na escola de forma significativa e que, desse modo, os alunos sejam verdadeiros leitores e escritores.
LINGUAGEM ESCRITA
É a linguagem utilizada nos diferentes gêneros textuais escritos que circulam socialmente. Aprender a ler e a escrever inclui a aprendizagem dessa linguagem e sua especificidade em cada um dos gêneros. Por exemplo: aos poucos os alunos vão aprendendo como se escreve uma carta. Sabem que escrever uma carta é bem diferente de comunicar conhecimentos num texto de divulgação científica ou contar uma história. Isso não quer dizer que se aprende a linguagem escrita por meio de fórmulas prontas – os gêneros não se fecham em modelos únicos. Aprender a linguagem escrita é aprender sobre as diferentes formas de interação por meio da escrita em uma sociedade. Há inúmeras maneiras de escrever cartas, mais formais ou mais descontraídas; e de escrever contos – em alguns a linguagem pode ser mais rebuscada e em outros, talvez, contenham várias marcas da fala cotidiana. O importante é que os alunos percebam que cada gênero tem uma razão para existir, cumpre uma função social e, dependendo da situação em que é produzido e de seus interlocutores, o texto cumprirá sua função de maneiras diferentes. Hoje sabemos que a melhor forma de ensinar a linguagem escrita aos alunos é favorecendo sua participação em situações de leitura ou escrita de textos em que os gêneros façam sentido.
LER E FALAR AQUILO QUE SE LÊ E COMPREENDE
A leitura é um processo de interação entre o leitor e o texto que envolve a produção de sentidos. Nessa interação o leitor se vale das pistas oferecidas pelo texto, para atribuir sentido ao que lê. Identificar essas pistas e saber segui-las é o que chamamos de estratégias de leitura. Mesmo quando ainda não estão alfabetizados, os leitores criam estratégias para interagir com textos lidos por outras pessoas.
No trabalho com a leitura, é importante planejar momentos para a construção de sentido, antes, durante e após a realização da leitura pelo aluno ou por você, que envolvam a explicitação e o confronto de opiniões, interpretações ou sentimentos.
Fonte:
Educa juntos : língua portuguesa / Secretaria de Estado da Educação e do Esporte. – Curitiba : SEED – PR, 2021. – 286 p. Caderno de orientações didáticas para o professor ; segundo ano).