As Ideias Pedagógicas no Brasil Entre 1969 e 2001

Nesta subunidade abordaremos sobre as ideias pedagógicas no Brasil entre os anos de 1969 a 2001, para tanto a Figura 15 ilustra os principais tópicos abordados no decorrer deste estudo.

As Ideias Pedagógicas no Brasil Entre 1969 e 2001

Este período da pedagogia no Brasil entre 1969 e 2001, subdivide-se em três momentos, os quais veremos a seguir:

Primeiro Período

O primeiro período está relacionado entre 1969 e 1980. Onde é debatido intensamente a pedagogia tecnicista, explicado melhor na Figura 16. Eis que, começa-se discutindo a questão a partir do movimento editorial, logo em seguida, aprofunda- -se a análise ao examinar o papel desempenhado por Valnir Chagas nas reformas educacionais empreendidas pela ditadura militar e ao caracterizar a concepção pedagógica tecnicista (ALVEZ, 2008).

As Ideias Pedagógicas no Brasil Entre 1969 e 2001

Segundo Saviani:

No pressuposto da neutralidade científica e inspirada nos princípios de racionalidade, eficiência e produtividade, a pedagogia tecnicista advoga a reordenação do processo educativo de maneira que o torne objetivo e operacional. De modo semelhante ao que ocorreu no trabalho fabril, pretende-se a objetivação do trabalho pedagógico. (SAVIANI, 2007, p. 379)

A questão conclui-se com o exame da visão crítico-reprodutivista, que pretendeu “fazer a crítica da educação dominante, pondo em evidência as funções reais da política educacional que, entretanto, eram acobertadas pelo discurso político-pedagógico oficial” (SAVIANI, 2007 p. 390). O qual foram expostas as ideias básicas de seus inspiradores, Bourdieu e Passeron, Baudelot e Establet, além de Althusser, e indicadas as obras de Luiz Antonio Cunha e Bárbara Freitag que, no Brasil, expressaram essa tendência (SAVIANI, 2007)

Segundo Período

O segundo momento envolve o período que se desenrola entre 1980 e 1991, devota-se ao estudo das experiências pedagógicas iniciadas pelas pedagogias críticas, daí o subtítulo ensaios contra hegemônicos. No conjunto, descreve as formas assumidas pelas mobilizações de educadores, pela organização política no campo educacional, bem como pela circulação das ideias pedagógicas (ALVEZ, 2008).

Saiba mais: Pedagogia Crítica – a Pedagogia crítica é uma filosofia educacional descrita por Henry Giroux como um movimento educacional, guiado por paixão e princípio, para ajudar estudantes a desenvolverem consciência de liberdade, reconhecer tendências autoritárias, e conectar o conhecimento ao poder e à habilidade de tomar atitudes construtivas.

Hegemônico – a supremacia de um povo sobre outros, seja através da introdução de sua cultura ou por meios militares. Conceito foi formulado por Antonio Gramsci para descrever o tipo de dominação ideológica de uma classe social sobre outra, particularmente da burguesia sobre o proletariado e outras classes de trabalhadores.

No Quadro 5 apresenta-se as entidades com suas respectivas siglas, surgidas no processo de luta dos educadores (ALVEZ, 2008).

As Ideias Pedagógicas no Brasil Entre 1969 e 2001

As Ideias Pedagógicas no Brasil Entre 1969 e 2001

Dessa forma, houve o fortalecimento dessas entidades, bem como o fortalecimento também da produção científica comprometida com “a construção de uma escola pública de qualidade” e a sua difusão (SAVIANI, 2002, p. 402).

Assim Saviani, refere-se à produção científica como:

A criação de revistas científicas por muitas dessas organizações emergentes e aos eventos científicos promovidos por algumas delas. São os casos, por exemplo, das revistas da ANDE, do CEDES e da ANPEd. São os casos, também, das Conferências Brasileiras de Educação (CBE), promovidas entre 1980 e 1991 por essas três entidades, e das reuniões anuais da ANPEd. (SAVIANI, 2002, p. 402).

Em Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Rio de Janeiro e Santa Catarina, desde 1982, tornou-se necessário reconhecer as intensas mobilizações dos educadores na década de 1980, logo precisou-se reconhecer a importância das medidas de política educacional tomadas por governos de oposição (ALVEZ, 2008).

Mesmo que tenham sido marcadas pela descontinuidade, essas medidas “devem ser contabilizadas como ganhos da década perdida'” (SAVIANI, 2002, p. 405). Contudo, são ressaltadas as pedagogias da educação popular, que em suas análises substituíam a categoria “classe” pela categoria “povo” e concebiam “a autonomia popular de uma forma um tanto metafísica”, descolada de “condições histórico-políticas determinadas” (SAVIANI, 2002, p. 413-414).

Na gestão do Partido dos Trabalhadores (PT), a educação ganhou lugar elevado e importante. Foram declaradas e reveladas também, as “pedagogias da prática”, inspiradas em princípios anarquistas, cujos principais interlocutores são Oder José dos Santos, Miguel Gonzáles Arroyo e Maurício Tragtenberg. Recebe menção, igualmente, a “pedagogia crítico-social dos conteúdos”, formulada por José Carlos Libâneo (ALVEZ, 2008).

Assim, para Saviani (2002, p. 416), mesmo reconhecendo outros resultados na pedagogia “inspira-se diretamente em Georges Snyders que sustenta a primazia dos conteúdos como critério para distinguir as pedagogias entre si, logo para distinguir uma pedagogia progressista ou de esquerda de uma pedagogia conservadora, reacionária ou fascista”.

Logo, Saviani (2002) analisa a pedagogia histórico-crítica, resumindo sua própria concepção e sua proposta de educação para a contemporaneidade. Vindo a estudar as origens dessa concepção, situando-as em escritos do início da década de 1980, e seu desenvolvimento até consolidar-se na forma de primeiras aproximações em 1991 (SAVANI, 2002).

Saviani (2002) resume sua forma de entender a “pedagogia histórico-crítica” da seguinte forma:

[…] a pedagogia histórico-crítica é tributária da concepção dialética, especificamente na versão do materialismo histórico, tendo fortes afinidades, no que se refere às suas bases psicológicas, com a psicologia histórico-cultural desenvolvida pela Escola de Vigotski. A educação é entendida como o ato de produzir, direta e indiretamente, em cada indivíduo singular, a humanidade que é produzida histórica e coletivamente pelo conjunto dos homens. Em outros termos, isso significa que a educação é entendida como mediação no seio da prática social global. A prática social põe-se, portanto, como o ponto de partida e o ponto de chegada da prática educativa. Daí ocorre um método pedagógico que parte da prática social em que o professor e aluno se encontram igualmente inseridos, ocupando, porém, posições distintas, condição para que travem uma relação fecunda na compreensão e no encaminhamento da solução dos problemas postos pela prática social. Aos momentos intermediários do método cabe identificar as questões suscitadas pela prática social (problematização), dispor os instrumentos teóricos e práticos para a sua compreensão e solução (instrumentação) e viabilizar sua incorporação como elementos integrantes da própria vida dos educandos (catarse). (SAVIANI, 2002, p. 420)

Por fim, ele acentua que sua proposta, além de manter-se na condição de forma de resistência à onda neoconservadora, vem recebendo contribuições de outros estudiosos, entre os quais cita João Luiz Gasparin, Antonio Carlos Hidalgo Geraldo, Suze Gomes Scalcon, César Sátiro dos Santos e Ana Carolina Galvão Marsiglia (SAVIANI, 2002, p. 402).

Terceiro Período

O último período ocorreu entre 1991 e 2001, esta fase foi tida como decorrente da transição do fordismo para o toyotismo. Assim, as ideias pedagógicas no Brasil expressam-se no neoprodutivismo, nova versão da teoria do capital humano, o que acaba lançando a pedagogia da exclusão (ALVEZ, 2008).

Saiba mais: termo criado por Henry Ford, em 1914, refere-se aos sistemas de produção em massa (linha de produção).

O Toyotismo – também conhecido como acumulação flexível – é um modelo de produção industrial idealizado por Eiji Toyoda (1913-2013) e difundido pelo mundo a partir da década de 1970 após a sua aplicação pela fábrica da Toyota, empresa japonesa que se despontou como uma das maiores empresas do mundo.

Neoprodutivismo – no que tange à Educação as bases econômico-pedagógicas estão situadas naquilo que muitos chamam de neoprodutivismo. O neoprodutivismo é o conceito que dá ênfase às capacidades e competências que cada pessoa deve adquirir no mercado educacional para assim galgar melhor posição no mercado de trabalho.

Ainda segundo Alvez (2008, s/p.) “enquanto orientação pedagógica, o neoescolanovismo recupera a bandeira do aprender a aprender e o neoconstrutivismo reordena a concepção psicológica do aprender como atividade construtiva do educando”.

Termo do glossário: neoescolanovismo – enfatiza uma educação que deve ser desenvolvida ao longo da vida para responder aos desafios de uma realidade social em rápida transformação.

Neoconstrutivismo – possui elo com a teoria do educador reflexivo e com a pedagogia das competências, trabalhando sobre as realidades, os índices perceptivos e os sinais motores. Candido (2011)

Com isso, segudo Alvez (2008), o Estado proporciona uma forma de organização às escolas na tentativa de buscar e atingir o máximo de resultados com os recursos destinados à educação.

Para tanto, segundo Araújo (1998), são mobilizados instrumentos como:

  • Pedagogia da qualidade total – novo modo (empresarial) de organização da educação escolar;
  • Pedagogia corporativa – atuação do pedagogo além dos muros das escolas.

Saviani (2008) apropria-se de duas expressões analíticas para ilustrar o resultado dessas iniciativas: exclusão includente e inclusão excludente. Logo, podemos defini-las como:

Exclusão includente: acontece na área do mercado de trabalho, por meio de ações que levam à exclusão do trabalhador do trabalho formal, e reincluídos na informalidade ou na submissão e exploração. O trabalhador é, então, exonerado, perdendo todos os seus direitos previdenciários e trabalhistas, e excluído, volta a ser incluído de forma subalterna e precária, ou seja, num mercado informal. Inclusão excludente: acontece no campo pedagógico-escolar, por meio da inclusão de alunos em cursos de diversas modalidades e níveis, porém sem qualidade para torná-los aptos a atuar no mercado de trabalho. Exemplos disso são cursos rápidos e supletivos que se preocupam em apenas formar simples empregáveis para o mercado de trabalho. Diante da exigibilidade do mercado trabalhista, esses indivíduos acabam sendo excluídos da cadeia produtiva. (SAVIANI, 2008, s/p.)

Contudo, como discorre Saviani (2008) é necessário que a educação reestruture suas práticas pedagógicas, de modo a não atender aos interesses do capitalismo dominante opressor, mas atender à formação integral do ser humano preparando o educando para a vida trabalhista e social.

FONTE:

Teorias da educação [recurso eletrônico] / Cíntia Moralles Camillo, Liziany Müller Medeiros. – Santa Maria, RS : UFSM, NTE, 2018.

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