Acidentes são eventos não intencionais e evitáveis, que costumam causar lesões físicas e ou emocionais no âmbito doméstico ou nos outros ambientes sociais, como o do trabalho, do trânsito, da escola, de esportes e o de lazer. Desastres naturais ou provocados pelo homem ocorrem em situações que interrompem serviços essenciais como habitação, transporte, comunicações, saneamento, água e cuidados em saúde e requer a ajuda de pessoas de fora da comunidade afetada (Veenema; Schroeder-Bruce, 2002).
São experiências radicais que costumam provocar mudanças de vida, afetando a vida de todos que passaram por tais situações. Crianças e adolescentes são particularmente vulneráveis às consequências psicológicas de um desastre. Atividades como ir à escola, o convívio familiar, brincar com os amigos, entre outras, fornecem estrutura para a criança, e numa situação de desastre tudo isto fica abalado (Veenema; Schroeder-Bruce, 2002).
Desastres naturais costumam propiciar índices muito elevados de transtorno do estresse pós-traumático em crianças. Um estudo realizado após terremoto que provocou ondas de tsunami que alcançaram Índia e sete países vizinhos, em 2004, encontrou 70,7% de crianças e adolescentes com TEPT agudo e 10,9% de TEPT com início tardio (John et al., 2007). Outro estudo feito com crianças entre 4 e 17 anos de Nova York, quatro meses após o ataque terrorista de 11 de setembro, detectou 18% delas com reações severas ou muito severas de estresse pós-traumático.
Os autores estimam que 260.000 mil crianças de Nova York apresentaram tal sintomatologia após o ato terrorista (Fairbrother et al., 2003). Desastres ambientais e acidentes são bem presentes nas histórias de crianças de São Gonçalo, especialmente nas que apresentam transtornos ansiosos e de TEPT (gráfico 7). Observamos, todavia, que a frequência com que estas adversidades ocorrem neste município é menor do que a observada em relação às perdas e doenças de familiares.
Mostraram-se presentes na vida das crianças enchentes, desabamentos de construções e ver alguém ser gravemente ferido, especialmente entre crianças com sintomas ansiosos. Lembramos o grande sofrimento vivido por crianças e suas famílias quando perdem suas casas e pertences em virtude de chuvas muito fortes, incêndios ou desabamentos, cenário frequente especialmente nas comunidades construídas à beira de morros e/ou sem saneamento e infra-estrutura adequada.
REFERÊNCIAS:
Assis, Simone Gonçalves de Ansiedade em crianças: um olhar sobre transtornos de ansiedade e violências na infância / Simone Gonçalves de Assis; Liana Furtado Ximenes; Joviana Quintes Avanci; Renata Pires Pesce. — Rio de Janeiro: FIOCRUZ/ENSP/CLAVES/CNPq, 2007. 88p. (Série Violência e Saúde Mental Infanto-Juvenil)