Uma luz na História da Arte

Se você fosse pintar uma paisagem, de que cor você pintaria o céu? As árvores? O sol? Para a maioria das pessoas o sol é sempre amarelo, a lua é branca, a terra, os troncos e galhos das árvores marrons, as folhas verdes e o céu azul. Por que as pessoas pintam assim? Você também pintaria uma árvore com o caule marrom? As cores dos elementos paisagísticos são sempre estas? Como, então, entender o uso de cores em obras como esta e tantas outras que se diferenciam do senso comum?

Uma luz na História da Arte

A grande maioria das pessoas considera que uma boa pintura tem o mesmo estilo de uso da cor de La Tour, pintor do período Barroco que pintou a obra Madalena Arrependida apresentada à frente. Porém, mais tarde, alguns artistas romperam esta maneira de usar a cor que muitos como La Tour utilizaram. Os críticos, com intenção pejorativa, chegaram a chamar estes artistas “transgressores” de feras, impressionistas e outras definições. Estes críticos tinham razão, ou também são válidas obras artísticas que trabalham a cor sem considerar padrões preestabelecidos?

Barroco (século XVII) – a luz como elemento de tensão

Barroco é o nome dado a um dos períodos da história da Arte cujas obras são mais ornamentadas. No início, este nome era utilizado com sentido pejorativo, justamente pelo exagero que havia na decoração, porém, este movimento tinha além da função artística, a de revigorar os princípios doutrinários da Igreja Católica após a Reforma Protestante. A Reforma Protestante, a título de informação, ocorreu no século XVI com o intuito de reformar a Igreja Católica, buscando uma conduta mais correta e a mudança da vida no Clero. Seu resultado foi a divisão entre Igrejas Católicas e outras conhecidas como Protestantes, sendo destacada a Luterana.

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Além da França, com Luís XIV, outras monarquias da Europa Ocidental viviam sob um sistema político denominado Absolutismo. Nesta forma de governo, o poder era totalmente concentrado na mão de um só indivíduo ou de um grupo de indivíduos, e para este poder não existiam limites. “A maquinaria constitucional, quando existente, está sempre e a todo o momento à mercê da vontade individual do governante, que a pode alterar sem consulta ou aprovação de qualquer órgão público”. (Mirador, 1987, p. 13) Em busca de bases ideológicas que conferissem legitimidade ao poder absoluto, os monarcas faziam derivar diretamente de Deus sua autoridade sobre os homens e sobre as coisas incluídas nos limites de seus domínios. O direito divino concedia ao governante o poder temporal, enquanto o espiritual cabia à igreja. (Mirador,1987, pg. 13)

Foi neste clima governamental que o Barroco revelou artistas admirados até a atualidade, comoUma luz na História da Arte Rembrandt, Velazquez, Caravaggio, Tintoretto, Rubens, Van Dyck, Hals, entre outros. As principais características do período Barroco ocorriam em torno do predomínio das emoções sobre o racionalismo (característico da Renascença, período que antecedeu o Barroco). A disposição dos personagens nos quadros normalmente se dá de forma diagonal (inclinada), o que traz uma espécie de inquietação visual (movimento). Outra característica se dá na iluminação, que ocorre com o contraste de claro-escuro que acentua o sentimento exprimido pela obra. Os tons de luz e sombra, que dão a ilusão de tridimensionalidade na obra, são obtidos pelo uso do branco e do preto respectivamente, conforme pode ser observado no quadro de La Tour.

O Artista Georges de La Tour foi um importante pintor do Barroco Francês. Ele buscou inspiração no pintor italiano Caravaggio para conseguir a representação de claro-escuro nos seus quadros. A grande diferença dele para os outros pintores, é que na maioria dos quadros, a iluminação parece vir de fora do ambiente da tela, enquanto isto, La Tour faz a representação da fonte de luz, como a vela refletida no espelho que pode ser observada no quadro Madalena Arrependida.

Luz: a energia para ver

Para que nós enxerguemos, é estritamente necessária a luz. Quer saber por quê? Na verdade, tudo o que enxergamos é luz. Ninguém enxerga o objeto em si, porém a luz que este objeto é capaz de refletir, pois seu material funciona como uma espécie de espelho que fica o tempo todo refletindo a luz que incide sobre ele. Então, o que enxergamos é a luz que o objeto refletiu, a não ser, é claro, que o objeto seja uma fonte de luz, como o Sol ou o fogo. A luz é uma onda eletromagnética que se propaga em linha reta com movimentos ondulantes. Sua velocidade de propagação no vácuo é de aproximadamente 298.000 km/s.

Você sabe qual é a maior velocidade que um carro de Fórmula 1 atinge? Então compare e imagine o quanto a luz é rápida. Já que a luz é uma forma de onda, então, podemos estudá-la usando comprimentos de onda. O comprimento de onda visível a olho humano nu, tem suas medidas entre 360 e 780 nanômetros. Para calcularmos o valor do nanômetro, devemos multiplicar 1 metro por 0,000000001, o que dá: 0,000000001m. Desta forma, os comprimentos de onda da luz que podemos ver é calculado da seguinte maneira: 360m X 0,000000001= 0,000000360 m, que pode ser representado em notação científica por 360 X 10-9.

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Refração da luz

A palavra refração significa o desvio de direção que os raios luminosos sofrem quando atravessam sucessivamente dois ou mais meios de densidade diferentes. Foi por meio da refração da luz através de um prisma (a luz atravessou o ar – meio 1 e o prisma – meio 2), que o cientista Isaac Newton provou que a luz branca tinha todos os comprimentos de onda e que, quando ela se decompunha através do prisma, apresentava as cores do arco-íris.

Isto, porque na verdade, o arco-íris é formado por gotículas de água que decompõem a luz. Para provar tal fato, Newton utilizou dois prismas, demonstrando que o primeiro decompunha a luz branca em todas as cores do arco-íris, enquanto o segundo, por sua vez, somava todas as cores do arco-íris resultando na cor branca. Por isso se diz que “a soma de todas as cores resulta na cor branca”.

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Agora que você já leu sobre a luz, é hora de se aprofundar na cor propriamente dita. Sendo assim, observe sobre as misturas de cores:

Cores primárias e secundárias

Chamamos de cores primárias as cores capazes de gerar outras cores, ou seja, as cores que quando misturadas são capazes de resultar em novas cores. Já as secundárias, são as cores geradas pela mistura das primárias. A soma de cores secundárias de uma mescla jamais resulta nas cores primárias da mesma, pois as cores primárias são cores puras.

Mescla aditiva de cor – a luz que se soma

A mescla (ou mistura) aditiva de cor recebe este nome porque trata da soma da luz colorida, e não da matéria propriamente dita (já que esta absorve, diminuindo a luz). Tudo o que enxergamos é luz, e quanto mais luz, mais próximos do branco chegamos. Então, quando misturamos luzes coloridas, deixamos o local mais claro, ou seja, estamos somando cor, por isto a palavra aditiva.

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Lembre-se que isto acontece apenas se somarmos luz. Se somarmos pigmento, não serão estas as resultantes. Por isso, alguns autores chamam as cores da mescla aditiva de cor luz.

O arco-íris se forma também por estas cores. Perceba que entre uma e outra está o resultado da soma acima, pois é a mistura das duas.

Observe:

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Mescla subtrativa de cores: a tinta absorvendo luz

A mescla subtrativa, por sua vez, se dá quando misturamos pigmentos, por exemplo: tinta. É por isso que as cores utilizadas na mescla subtrativa são tratadas por alguns autores como cor pigmento. Diz-se mescla subtrativa porque a matéria, em geral, tem a propriedade de absorver comprimentos de onda. Sendo assim, quando misturamos matérias de cores diferentes, cada cor da mistura absorverá determinado comprimento de onda, diminuindo assim a quantidade da luz refletida por ela e o que chegará em nossos olhos será uma menor quantidade de luz. É o mesmo processo matemático, subtração é a operação que diminui.

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Agora, compare estas cores com as do cartucho colorido de uma impressora. Se você limpar o cartucho num papel higiênico branco, perceberá que o papel, na primeira vez, ficará sujo de várias cores, inclusive de preto, pois a constante impressão suja o cartucho colorido. Se você na segunda vez (já com o cartucho limpo) apenas der uma “batidinha” no papel, notará que aparecerão as três cores primárias da mescla subtrativa. Agora, para saber como a impressora chega a cada uma das cores, é só comparar com os exemplos acima.

Como as pessoas enxergam as cores?

Na verdade, as pessoas enxergam a luz que os objetos refletiram, e que, portanto, não foram absorvidos pelos objetos, conforme exemplos abaixo:

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Cor Complementar

Olhe fixamente a figura na página seguinte. Fixe o olhar no centro do triângulo, depois, desvie o olhar para uma parede branca. O que você vê? Você deve ter visto uma espécie de vulto brilhante da imagem, com a mesma forma, porém com outras cores. Como isto acontece? As cores novas são as cores complementares das cores do desenho original. Se você observar os exemplos anteriores, perceberá que as cores complementares são as mesmas cores absorvidas pelo pigmento.

Como a cor absorvida pelo pigmento é a cor que “não enxergamos” nele, esta cor recebe o nome de complementar. Então, a cor complementar é sempre a que falta para completar as três cores primárias da mescla aditiva. Desta forma, para saber qual é a cor complementar, é só observar nos exemplos anteriores a cor que o pigmento está absorvendo. Por exemplo, no caso do triângulo amarelo, a cor complementar é o azul, já que o amarelo é a soma da luz verde com a luz vermelha.

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Impressionismo

O Impressionismo foi um movimento artístico ocorrido durante a segunda metade do século XIX e foi uma verdadeira revolução técnica na Arte. Os impressionistas se preocupavam em utilizar a cor e a luz e diluir (ou seja, retirar) o contorno, comumente vistos nas representações, já que na realidade, o contorno não existe. Um grande exemplo desta dissolução e da representação do espaço aparece no quadro O Rio de Claude Monet. Observe que nele os contornos estão dissolvidos, então, como percebemos sua forma, se não há linhas?

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O Artista

Claude Monet (1840 – 1926), pintor que nasceu em Paris, iniciou sua carreira como artista comercial e caricaturista, depois, passou por anos de pobreza, chegando a trocar seus utensílios por tinta, porém, com a primeira exposição impressionista seu sucesso se estabeleceu, tanto que depois disso ele construiu um atelier onde cabiam telas imensas. Em 1890, Monet, como outros impressionistas, pintou um mesmo tema sob diferentes condições de luz, inclusive em estações diferentes para demonstrar o quanto as condições do tempo modificam a cor das paisagens. (STRICKLAND, 2004, p. 102)

Os principais artistas do Impressionismo foram: Cassat, Degas, Manet, Monet, Morrisot, Pissarro, Renoir e Sisley e seus principais gêneros de pintura eram as paisagens ao ar livre, como a beira do mar, ruas e cafés. Como vimos anteriormente na tela de La Tour (barroca), o sombreamento era feito com cores sóbrias, com mistura de preto para conseguir o efeito de sombra e volume na obra. Já no Impressionismo, para conseguir o efeito de volume e a sombra não era utilizado o preto, mas a cor complementar. Observe que em O Rio o artista não utiliza o preto, mas outras cores para conseguir o aspecto de sombra e consequentemente de volume.

Outra diferença entre o Barroco e o Impressionismo era o ambiente de trabalho. No Barroco (e demais artes acadêmicas) os artistas costumavam pintar dentro de seus ateliês, utilizando-se preferencialmente da luz artificial, enquanto os impressionistas pintavam ao ar livre, para conseguir expressar com exatidão os efeitos da luz sobre a natureza e os objetos.

Atributos (ou qualidades) da Cor

Luminosidade: é a quantidade de luz incidente e assim refletida pela cor.

Saturação: É a pureza da cor. Quanto mais pura (primária) for a cor, maior seu grau de saturação. Inversamente, quanto menos pura, menor o grau de saturação.

Contraste: É a diferença de cores que muitas vezes faz com que elas sejam mais bem percebidas. Normalmente, entre as primárias e suas complementares ocorre um excelente contraste.

Tonalidade: é o atributo que especifica a cor. Por exemplo: azul é uma cor, mas existem diversos tipos de azul: marinho, Royal, celeste,…

Essa diferença é justamente a tonalidade, que é proporcionada pelo uso de pigmentos de cor diferente, por exemplo, podemos ver este azul, porém se misturarmos um pouco de pigmento magenta a ele, ele pode ficar com uma tonalidade diferente, mesmo assim, não deixará de ser azul.

Os fauvistas, conhecidos como “feras”, adoravam usar cores saturadas em suas obras. Observe:

Fauvismo (ou fovismo) (1904-1908)

“O Fovismo não é tudo, é apenas o começo de tudo” (Matisse)

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O Fauvismo foi um movimento francês cujas principais características foram o uso de cores saturadas, fortes e explosivas. As formas e a perspectiva eram distorcidas e normalmente não utilizavam sombreamento, preferindo cores chapadas, ou seja, com pinturas sem detalhes, sem gradação de cor.

A crítica da época ficou tão horrorizada quando se deparou com a força visual de suas representações, que os chamou de “Feras” (fauve), e é daí que vem o nome deste grupo. Os críticos chegavam a dizer que o Fauvismo era um estilo de “loucura rematado”, “universo de feiura”, “(…) criança brincando com tinta”, e por último, os expectadores chegaram a ter crises de risos ao ver seus quadros. (STRICKLAND, 1999, p. 130) Seus principais artistas foram: Derain, Vlaminck, Dufy, Rouault, Braque e Matisse. O texto abaixo traz informações sobre Matisse, que é o mais conhecido artista do fauvismo.

REFERÊNCIAS:

Arte / vários autores. – Curitiba: SEED-PR, 2006. – 336 p