Vygotsky, em sua teoria sócio construtivista, afirma que sempre que há um tipo de troca (relação) existe aprendizagem, para ele o homem não é um ser passivo, visto que é um ser que, ao criar cultura, cria a si mesmo (STADLER et al., 2004).
Como afirmar, então, que uma criança só adquire conhecimento quando passa a frequentar a escola?
Para Vygotsky é fora do contexto escolar que a criança desenvolve seu potencial, sim, com todas as trocas estabelecidas, também quanto ao desenvolvimento da língua escrita, ele não diminui a importância do ambiente escolar, pois acredita que quando a criança se familiariza com o mundo escolar ocorre algo fundamentalmente novo em seu desenvolvimento: a criança sai da sua zona de desenvolvimento real e passa, com auxílio do educador ou outro mediador, para a zona de desenvolvimento potencial – caracterizando a zona de desenvolvimento proximal, conforme Figura 48 (MAGALHÃES, 2007).
A zona de desenvolvimento real refere-se à etapa em que a criança soluciona os problemas de forma independente, sozinha; a zona de desenvolvimento potencial refere-se à etapa em que a criança está pronta para compreensão de problemas mais complexos, mas ainda necessitando da ajuda de um mediador (STADLER et al., 2004). A zona de desenvolvimento proximal é uma representação que serve para explicar como ocorre a aprendizagem, cumprindo o papel da distância entre o nível real e nível potencial da criança (MAGALHÃES, 2007).
A escrita e o ambiente escolar
Como já sabemos Vygotsky, no início de seus estudos, discute a interação entre o desenvolvimento e aprendizagem, afirma que o aprendizado da criança se inicia antes mesmo dessa ingressar-se na escola, o que refere-se também ao próprio processo de aprendizagem da língua escrita.
Durante os primeiros anos de seu desenvolvimento, antes de atingir a idade escolar, a criança já aprendeu e assimilou um certo número de técnicas que prepara o caminho para a escrita, técnicas que a capacitam e que tornaram incomensuravelmente mais fácil aprender o conceito e a técnica da escrita. (LURIA, 1988, p. 143-145).
A escrita é um produto cultural, construído historicamente, que vai além do domínio da grafia, na Figura 49 os lápis estão representando a escrita, que “é um sistema de representação simbólica da realidade, a qual medeia a relação dos homens com o mundo” (RESENDE, 2009, s/p.).
Para Vygotsky apud Resende (2009) a forma como as escolas realizam o processo da escrita, é completamente errado, criticando o ato mecânico, onde o educador exigi que as crianças desenhem as letras e construam palavras sem ensinar a linguagem escrita (RESENDE, 2009). Sendo assim, para ele, é ignorado os aspectos psíquicos da criança, ainda segundo o autor Vygotsky defende que, para escrever, as crianças devem entender a linguagem falada; sua incursão na escrita ocorrerá quando elas perceberem que podem também desenhar o que se fala, Figura 50.
“A primeira tarefa de uma investigação científica é revelar essa pré-história da “A primeira tarefa de uma investigação científica é revelar essa pré-história da linguagem escrita; mostrar o que leva as crianças a escrever; mostrar os pontos importantes pelos quais passa esse desenvolvimento pré-histórico e qual a sua relação com o aprendizado escolar” (VYGOTSKY, 1998, p. 141).
Neste sentido para ele a escrita é um sistema de representação simbólica da realidade, a qual proporciona ao homem se relacionar com o mundo. Ainda para Vygotsky (1989) a escrita é um processo histórico, por isso devemos entender o processo de escrita em sua gênese, antes da criança ingressar na escola e submeter-se ao ensino sistemático da linguagem escrita, entendendo o caminho que ela percorre para aprender a ler e a escrever.
O ambiente de ensino deve ser estimulador e favorável, em que o educador deve ser paciente e afetuoso com o educando, além de buscar conhecê-los, o meio em que vivem, as relações que estabelecem nesse meio e compreender o que seus educandos já sabem, já adquiriram. É de extrema importância que o educador alfabetize letrando, ou seja, ensinando a ler e a escrever no contexto das práticas sociais. Dessa forma, a aprendizagem poderá ser significativa e satisfatória, completando o ciclo de desenvolvimento do aluno (RESENDE, 2009).
Vygotsky (1989) deixa claro que é contra uma “pedagogia diretiva e autoritária”, para ele a intervenção no desenvolvimento da criança tem maior preocupação com o meio cultural e as relações entre os indivíduos. Para Resende (2009), Vygotsky em sua teoria sócio construtivista, é a favor da reelaboração e reconstrução do conhecimento.
FONTE:
Teorias da educação [recurso eletrônico] / Cíntia Moralles Camillo, Liziany Müller Medeiros. – Santa Maria, RS : UFSM, NTE, 2018.
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