Teorias Pós-críticas: o currículo multifacetado

Após compreender a importância das teorias críticas para o campo de estudos curriculares, neste tópico, estudaremos as principais ideias das teorias Pós-críticas do currículo, que desde a década de 1990 vêm ampliando as análises realizadas pelos teóricos críticos. O foco de estudo dessa vertente centra-se em categorias como:

Teorias Pós-críticas: o currículo multifacetado

Na década de 1990, observa-se uma crise da teoria curricular crítica, como consequência dos novos olhares sobre o currículo. Iniciada ainda na década anterior, essa nova perspectiva questionava os postulados da vertente crítica. Sob o olhar dos teóricos pós-críticos, as categorias classe social, poder e ideologia não eram suficientes para compreender o currículo na sociedade atual.

Outra crítica lançadas às teorias críticas foi a ausência de preocupação com as questões práticas do currículo, em outras palavras, essas teorias não propunham ao professor subsídios que o ajudasse nas vivências de práticas alternativas (MOREIRA, 2003). Nesse contexto, o movimento de crítica à teoria crítica, identificado como Pós-críticos, a partir da compreensão de que as questões curriculares vão além da reprodução das condições sociais, reivindica a inclusão de temas como gênero, etnia, sexualidade, raça, identidade, diferenças, diversidade de sujeitos e de culturas, relação saber-poder, entre outros, nos estudos sobre o currículo.

As teorias Pós-críticas são constituídas por diferentes vertentes teóricas que, em conjunto, fazem crítica às análises tradicionais do processo curricular. Tais vertentes são denominadas de Pós-moderna, Pós-estruturalistas e Pós-colonialistas. A escola com suas estruturas organizativas é invenção da modernidade, consequentemente, o currículo tem sido pensado e estruturado a partir dos princípios do pensamento educacional moderno, tais como: racionalidade, neutralidade, disciplinarização, unidade, centralidade, verdade, linearidade, entre outros.

O movimento pós-modernista questiona a estrutura e os princípios do currículo existente e propõe pensar o currículo como uma rede complexa que contemple as diferentes dimensões afetiva, cognitiva, social e ética dos sujeitos. A vertente Pós-moderna propõe currículos integrados em que as diferentes áreas de conhecimentos dialoguem, quebrando assim, a estrutura disciplinar e fragmentada com que o conhecimento é apresentado no currículo.

Para a teoria Pós-moderna, o currículo é espaço onde está presente a pluralidade de sujeitos, de culturas, de incertezas, de tempos e de desejos. Reportando-nos à realidade curricular existente, observa-se também que o currículo é produzido por uma divisão binária de concepções e verdades: branco/ preto; heterossexualidade/homossexualidade; masculino/feminino; mente/corpo; objetividade/subjetividade. Nesse jogo, privilegia-se sempre uma verdade ou uma concepção em detrimento da outra.

E, historicamente, tem-se favorecido, no currículo escolar, uma verdade que se traduz nos valores de uma sociedade concebida como branca, masculina e hétero, que enaltece a ação racional e objetiva dos indivíduos em detrimento à subjetividade. Já a vertente Pós-estruturalista questiona essa relação com a verdade, no intuito de compreender como foi construída determinada verdade, bem como busca desconstruir o binarismo de que é produzido o currículo.

Para essa vertente, o currículo não é uma verdade absoluta, pois não existe uma só, mas muitas verdades. O currículo é prática discursiva. É espaço de diferentes sentidos, significações e linguagens. Como vimos nos parágrafos acima, historicamente, a cultura representada no currículo pauta-se nos valores da sociedade ocidental, branca, culta e colonizadora.

Os saberes valorizados são aqueles eruditos, científicos e produtivos, os quais concedem poder cada vez mais à cultura privilegiada e excluem os outros tipos de cultura e saberes existentes na sociedade, considerados inferiores, como o conhecimento comum e a cultura de povos e grupos que têm suas identidades marginalizadas, como os indígenas, negros, mulheres, camponeses e jovens pobres.

Os teóricos pós-colonialistas enfatizam, em suas análises, as relações de poder entre as nações, as culturas e questionam narrativas ou representações existentes sobre elas. No campo curricular, eles defendem um “currículo multicultural que não separa questão de conhecimento, cultura e estética de poder, política e interpretação” (SILVA, 2009, p. 130), reivindicando, assim, a inclusão dos diferentes sujeitos, culturas e segmentos cuja história não constituía o currículo.

As teorias Pós-críticas fundamentam-se em diversos teóricos da contemporaneidade, entre eles encontram-se os filósofos franceses Gilles Deleuze e Felix Guatarri (2000), Michel Foucault (1999) e o sociólogo Michel Certau (1994), entre outros. Esses teóricos têm influenciado pesquisadores brasileiros de diferentes universidades do Brasil, os quais têm lançado olhares distintos para as questões curriculares e, metaforicamente, têm conceituado o currículo como “máquina desejante” (KROEF, 2001); como “fetiche” (SILVA, 1999); como “Rizoma” (GALLO, 2004), como rede (NILDA ALVES,1999). (FERNANDES; ROCHA, 2013).

Em síntese, para entendermos os pressupostos das teorias pós-críticas, precisamos nos despir das concepções tradicionais, deixarmos de resumir o currículo apenas como uma “grade de conteúdos” ou algo prescrito, pronto a ser executado. Devemos concebê-lo como processo, mestiçagem, como construção contínua de sujeitos diversos.

Chegamos ao fim de nossa aula. É importante compreender que as teorizações não são construídas sem vinculação com a prática. Lembre-se de que cada uma foi sistematizada a partir de questionamento sobre a prática curricular existente ou da necessidade de formação para uma sociedade específica, portanto, não são separadas da prática escolar, ao contrário, elas surgem da prática e contribuem para refletirmos sobre ela e, se necessário, redirecioná-la ou conservá-la.

Esperamos que você tenha compreendido as diversas concepções teóricas construídas sobre o currículo. A partir das diferentes teorias, você percebeu que o currículo é composto não apenas de conteúdos, mas de sujeitos, significados e diversos saberes.

Título : Currículos e Programas da EPCT

Autor : Fernandes, Natal Lânia Roque

Fonte: Currículos e Programas da EPCT / Natal Lânia Roque Fernandes; Coordenação Cassandra Ribeiro Joye. – Fortaleza: UAB/IFCE, 2014.

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