Lígia Regina Klein e Martha Zilmermann de Morais
Neste texto abordaremos aspectos relevantes que se referem ao domínio das formas gráficas das palavras pelo aluno. Em todos os momentos do processo, o domínio da grafia está muito presente. No entanto, após o período inicial de contato com o material escrito e a instrumentalização com relação às combinações entre letras, o trabalho com a grafia se intensifica. Nesse momento, o professor deverá estar atento para dar uma orientação segura a seus alunos, sem inibir o processo de criação que começa a tomar corpo.
Uma boa estratégia é conversar, sempre que houver oportunidade, sobre as diferenças existentes entre a fala e a escrita, entre a linguagem escolar que reproduz a norma padrão e a maneira de falar de cada um. Podemos fazer isso por meio de comparações, análises e reestruturação de textos escritos por eles mesmos. É imprescindível que você demonstre uma atitude positiva com relação à forma de falar de seus alunos, no sentido de não estigmatizá-los porque não falam a variante socialmente aceita.
Durante todo o processo de alfabetização, “o professor precisa, entre outras coisas, ter um bom conhecimento da organização do nosso sistema gráfico para poder melhor sistematizar seu ensino; para entender as dificuldades ortográficas de cada aluno e para auxiliá-los a superá-las”.1 Esse conhecimento lhe dará condições para trabalhar com os alunos as diferentes relações entre sons e letras que caracterizam o nosso sistema alfabético de escrita. Podemos considerar que, no Português, existem basicamente três tipos de relações entre sons e letras:
a) Relações biunívocas: – cada letra corresponde a um som, cada som corresponde a uma letra.
b) Relações cruzadas: – uma unidade sonora (som) tem mais de uma representação gráfica (letra) possível.
Ex: ã – irmã, samba, manga. – uma unidade gráfica (letra) representa mais de uma unidade sonora (som).
Ex: r – rato, aranha.
c) relações arbitrárias : – a relação entre som e letra não é previsível. Duas letras representam o mesmo som no mesmo lugar.
Ex. casar, azar, cassado, caçado.
Precisamos ter claro que essas relações não podem ser trabalhadas em momentos distintos, mas fazem parte de um processo gradual de apropriação da escrita. A maioria das cartilhas apresenta uma seleção de atividades partindo das relações mais simples para as mais complexas. Nada impede que você utilize este procedimento desde que tenha em vista um trabalho contextualizado, o que não acontece de forma alguma com o material apresentado pelas cartilhas. Outro cuidado deve ser o de não limitar demais o estudo com as palavras que apresentam correspondência biunívoca, para que os alunos possam perceber que existem outras relações possíveis e não se centrem apenas em uma delas.
Ressaltamos que o início do trabalho é de vital importância para despertar o interesse pela leitura e escrita. As atividades de sistematização seguirão de maneira tranquila e serão apreciadas por eles. Sugerimos que você, professor, elabore sua sequência de letras e famílias silábicas a partir da observação do desenvolvimento de seus alunos. Você verá que aquele período destinado às dificuldades ortográficas não mais existirá, será uma decorrência e dar-se-á durante a fase de sistematização. Apresentamos a seguir um quadro-resumo das relações entre sons e letras que são expostas detalhadamente no trabalho do professor Carlos Alberto Faraco: “Características do Sistema Gráfico do Português”. Esperamos que sirva de subsídio para sua organização de atividades, com vista do domínio do Sistema Gráfico.
a) Relações biunívocas:
P panela, sapato
B boi, cabeça
F faca, feliz
V vagalume, caveira
T tomate, tudo
D dia, dádiva
Lh olha, galho
Nh galinha, ninho
M (começo de sílabas) mamãe, mato
N (começo de sílabas) ninho, mana
R (erre fraco entre vogais) arara, caro
Encontros consonantais – gr, br, pr,tr, cr, vr, fr.
L (começo de sílabas) – lata, calado
b) Relações cruzadas:
R (forte – começo de palavras) rato, rua
Rr (entre vogais) carro, cachorro
C (antes de a,o,u) casa, cofre, cuida
Qu (antes de e ou i) queijo, máquina
Q (antes de u) quando, aquário
G (antes de a,o,u) mágoa, garoto
Gu (antes de e ou i) guitarra, foguete
J (antes de a,o,u) jato, joga
Z (no começo de sílabas, entre consoante e vogal) banzo
S com som de Z – (entre sílabas) desde
X com som de Z – (está sempre entre a vogal E e uma outra vogal) exato, êxito
S (começo de palavras com a,o,u) sapo, sopa (final de palavras e plural) mesas
c) Relações arbitrárias:
G ou J (antes de e ou i) jeito, gelo
Z ou S (entre vogais) casa, reza
S ou C (começo de palavras com e ou i) sino, cinema
S ou Z (final de palavras) trás, paz
S ou Ç (após vogal nasal ou consoante com a, o u) pensa, lança
S ou X (fim de sílaba precedido por e) teste, texto, esta, extra
Ç, SS ou SC, (XS raro): consoante com a, o, u – nasça, poço, exsudar
C, SS ou SC, X, XC, XS : passe, receita, nascer, máximo, excelente, exsicar
X ou CH xarope, chato
Esperamos que as considerações expostas neste texto possam subsidiar sua ação pedagógica, sempre voltada para a melhoria da qualidade de ensino e a efetiva e consequente alfabetização de nossos alunos. Apontamos alguns caminhos. Cabe a você, professor, desvendá-los, refazê-los e adaptá-los às suas condições concretas de atuação.
REFERÊNCIAS:
Orientações Pedagógicas: língua portuguesa, sala de apoio à aprendizagem / Paraná. Secretaria de Estado da Educação. Superintendência da Educação. Departamento de Ensino Fundamental. – Curitiba: SEED – Pr., 2005.