Confira todos os Conteúdos de Sociologia Gratuitamente … porque a Segunda Guerra Mundial foi importante para a globalização …
Entre os anos do pós-guerra (Segunda Guerra Mundial e os anos 70) a organização do trabalho na fábrica estava baseada nas ideias de J. Ford (1863-1947) e F. Taylor (1856-1915). Ford era dono da fábrica norte-americana Ford e Taylor era um engenheiro que trabalhava na Fábrica Midvale Steel Company. Eles foram os responsáveis, cada um a sua maneira, por estabelecerem medidas para um controle sobre os trabalhadores, no cotidiano da fábrica.
A compreensão de Henry Ford, conhecida como a proposta fordista, estava baseada na seguinte premissa: ”(…) para um consumo em massa uma produção em massa (…)”. Para isso, a produção deveria ser organizada de maneira a impedir desperdício de tempo do operário na execução das tarefas. Para que isso ocorra o trabalho deveria ser partido em várias funções e o trabalhador executaria somente uma função.
Para que haja continuidade entre estas tarefas parceladas, criou-se uma esteira rolante, na qual os objetos vão sendo produzidos na medida em que os trabalhadores executam a sua função um ao lado do outro. Para que não ocorressem interrupções nesta “linha de montagem”, Ford propôs a padronização das peças.
Já as ideias de Frederick Taylor, conhecida como a proposta taylorista, estavam baseadas nas seguintes questões, em que deveria haver:
- A separação entre quem planeja a atividade de produção de um objeto e quem de fato vai executá-la;
- Um processo de seleção de operários que sejam adequados para o trabalho, sem que tenham um perfil rebelde, capaz de questionar as regras na seleção dos trabalhadores;
- Um controle sobre o tempo e sobre o movimento que o trabalhador leva para executar uma atividade. Esse controle deveria ser realizado pela chefia utilizando um cronômetro, medindo a ação deste operário.
Essas ideias já estavam sendo aplicadas na Ford, no início do século XX. Mas é somente com o pós-guerra que há uma disseminação desse sistema pelo mundo, atingindo até as fábricas rivais da Ford como a General Motors e a Chrysler. (GOUNET, T. 2002). Assim, uma questão deve ser respondida: como é que foram produzidos os carros a partir da crise que afetou a produção capitalista mundial? Para responder a essa questão veja o que se segue: Os anos 70 foram marcados pela crise do petróleo (1973) o que impulsionou a crise de superprodução e uma mudança na forma de organização da produção, e na intensificação do processo de globalização da economia.
As mudanças na forma de organização da produção significaram um reordenamento das funções cotidianas nas fábricas e a utilização de novas tecnologias – acelerando a utilização da robótica na linha de montagem. A indústria automobilística foi a primeira a passar por essas mudanças.
Veja que na organização fordista a produção ocorreu primeiro nas fábricas de automóveis e depois se dissemina pela sociedade; isso ocorre pelo complexo industrial e de serviços que estão ao longo da cadeia produtiva da indústria automobilística que é muito extenso e atinge a produção industrial como um todo. A produção do aço, do vidro, das borrachas e outras fibras, tintas, estofamento, peças e acessórios, propaganda, financiamentos, pontos de venda e revenda, postos de combustíveis, enfim, uma amplitude que atinge todas as esferas da economia da sociedade.
Essas mudanças possibilitaram que uma outra forma de organização da produção, mais enxuta, que produzia de acordo com a demanda do mercado, passasse a ser utilizada como uma das saídas para resolver a crise da sociedade na esfera produtiva. É o padrão toyotista que tem origem na fábrica japonesa Toyota, nos anos 50, e se diferencia do Fordismo nos seguintes aspectos:
- Enquanto o fordismo produzia em massa; o toyotismo produzia na medida em que ocorre uma procura por determinado modelo de automóvel;
- O trabalho parcelar e individualizado passa a conviver com o trabalho em equipe, em que as máquinas vão sendo utilizadas pelo grupo de trabalhadores responsáveis que vão operando várias máquinas. Essa característica intensifica um processo de convencimento do trabalhador, quando das mais diversas formas – reuniões, jornais internos, premiações – ele é instigado a “vestir a camisa da empresa”, e passa a achar que faz parte de uma equipe e que é capaz de participar efetivamente do processo. Esse convencimento não aponta que as decisões sobre o que vai ser produzido, quem vai ser demitido, em qual região do mundo a fábrica vai se instalar, não passa pelo seu crivo;
- O trabalho deixa de ser especializado em uma única tarefa e passa a ser feito por um operador preparado para realizar mais de uma função dentro do processo produtivo;
- O planejamento da produção é adequado à demanda e a produção de mais de um modelo e automóvel pode ser realizada na mesma fábrica, o que é diferente do fordismo, quando se produz somente um modelo de automóvel.
Mas fundamentalmente, o toyotismo permite que a fábrica funcione comum número menor de funcionários ao ser comparada com o fordismo, já que é possível que um operário realize mais de uma função. Na Toyota, por exemplo, um operário pode operar mais de cinco máquinas e ao atuar com outros operários, passa a realizar funções que antes eram da chefia. Isso diminui as funções, possibilitando um “enxugamento” no processo produtivo. (GOUNET, 2002)
Neste processo de desenvolvimento do capitalismo, a globalização assume uma dinâmica interessante quando há o encontro entre o que é global, e o que é local.
Neste caso, em muitos lugares temos a tradição se defrontando com uma dinâmica que modifica as características ou que as remodelam. A instalação das montadoras de automóveis na região metropolitana de Curitiba são um exemplo de relação global e local. Elas se instalam e há um conjunto de mudanças na região que modificam hábitos e costumes, como a busca intensa dos trabalhadores da região de realizarem cursos que os habilitem ao trabalho nestas fábricas. Por isso, nesta região, aumentaram as ofertas de cursos e faculdades voltados à capacitação industrial, à informática e às línguas estrangeiras.
A sociedade capitalista é organizada a partir de leis, da ideologia, das instituições, que vão se desenvolvendo na medida em que os seres humanos vão atuando sobre elas e vice-versa. Como vivemos em uma sociedade capitalista, estas leis estão determinadas pelos interesses daqueles que dominam a sociedade: os capitalistas. Em contrapartida existem aqueles que se organizam em movimentos sociais e que estão contrários a esses interesses. Neste embate, entre quem domina e quem é dominado, o Estado – uma instituição com muitas ramificações – aparece para as pessoas como além deste conflito, como se fosse um juiz.
Esta aparência reside na concepção disseminada na sociedade de que o Estado é uma entidade acima dos seres humanos como se fosse superior aos interesses das classes sociais. Mas ele não é, pois é administrado por pessoas que representam os interesses dominantes, ficando para os dominados a tarefa de denunciar essa situação e tentar mudar o Estado e a sociedade. Isso fica observável quando se entende que esta ação aparece no Estado via políticas governamentais, isto é, via governo.
A concepção de Estado demonstrada acima, como um conjunto de instituições, é diferente da concepção Marxista (baseada nas ideias do pensador Karl Marx) que entende o Estado como um aparelho, ou um instrumento a serviço da dominação capitalista, formado por aparelhos repressores e ideológicos. Lendo o texto ao lado você observa duas ideias que são rivais sobre o funcionamento da sociedade capitalista. É muito importante você entender a existência destas duas concepções, e analisar que o Estado é um conjunto complexo de instituições, mas que essas instituições são administradas por pessoas, que vão representar os mais variados interesses na sociedade.
Sendo este um complexo de instituições, vamos compreender que existe uma dinâmica no funcionamento do Estado que vai variar na medida em que variam as pessoas e as propostas que elas utilizam para governar. Assim, entenda primeiro, que o Estado não é uma entidade que está acima dos interesses dos seres humanos. E segundo que ele pode ser modificado na medida em que as políticas adotadas impulsionam mudanças no conjunto de instituições que o constituem, modificando-o.
Essas políticas têm como objetivo central, diminuir a influência do Estado sobre a economia, a sociedade, a cultura. Como será que essas políticas são compreendidas na atualidade do final do século XX e começo do século XXI? Vejamos.
Segundo o historiador inglês Perry Anderson (1995), o Neoliberalismo tem uma história que remonta os anos posteriores a Segunda Guerra Mundial quando um grupo de pensadores neoliberais se organizou e elaborou um conjunto de medidas, tais como: liberar o Estado das questões sociais e coletivistas que segundo estes pensadores são onerosas para os cofres públicos; liberar as fronteiras comerciais de taxas que dificultassem as relações comerciais internacionais; controlar a emissão da moeda; modificar as leis que controlam o Estado no que diz respeito à Previdência, às leis trabalhistas, aos impostos, à propriedade intelectual, às empresas e instituições públicas e a relação com o movimento sindical; a estas modificações na lei damos o nome de Reforma do Estado.
Estas ideias passaram a ser aplicadas nos países na década de 1970 e têm significado a diminuição da presença do Estado na sociedade, na economia, na cultura. Essa diminuição vai encontrar na Reforma do Estado a sua legitimação. Precisamos entender o que é a Reforma do Estado: é uma mudança nas leis, que liberam ou diminuem a presença do Estado na fiscalização das questões trabalhistas; no cuidado com a escola e com a saúde pública; no cuidado com os aposentados; com a infraestrutura – estradas, portos, aeroportos.
A solução dada por aqueles que defendem o Neoliberalismo é a privatização dos órgãos e serviços que estão sob a tutela do Estado. O Neoliberalismo é uma retomada, no século XX e XXI, da proposta liberal, defendida por John Locke (1632-1704), no século XVII. Locke, pensador inglês afirma que os homens são livres e iguais entre si, na medida em que não existe uma desigualdade natural. Tudo está ao acesso de todos, não devendo nada regular o acesso aos bens.
Assim, operários e capitalistas como proprietários, cada um à sua maneira, de qualidades diferentes podem trocá-las como se fosse uma troca entre iguais, entre seres livres, não devendo o Estado se colocar entre eles. No pensamento liberal, o trabalhador pode escolher entre trabalhar para este ou para aquele patrão, de acordo com a sua conveniência, pois ele é livre para escolher. É aqui que entra o pensamento marxista para fazer a crítica a esta questão e desvendar o papel do Estado, como representante dos interesses capitalistas.
Na grande maioria das vezes o trabalhador não pode escolher a tarefa, o salário e muitas vezes para quem vai trabalhar. Há na sociedade dividida em classes a hegemonia da classe dominante no controle da organização do trabalho, do Estado, da economia, da cultura. Essa hegemonia é a própria dominação que os capitalistas exercem sobre os trabalhadores e sobre o conjunto da sociedade, o que impede que os indivíduos possam escolher incondicionalmente para quem vão trabalhar.
As pessoas que trabalham já devem ter ouvido, quando pedem um aumento de salário ou melhores condições de trabalho, que se não estiverem satisfeitas, podem pedir a conta, pois existem pessoas que trabalhariam por um salário menor. Essa pressão faz com que as pessoas muitas vezes aceitem a imposição hegemônica do patrão.
O Neoliberalismo, como uma reedição das ideias liberais, vêm modificando a relação do Estado com a sociedade. Por exemplo, no Brasil ocorreu a privatização de estradas com a cobrança de pedágio; do Sistema Brasileiro de Telecomunicações; dos bancos estaduais, como o Banestado (Banco do Estado do Paraná); da CSN, Companhia Siderúrgica Nacional, empresa que produz aço para a indústria de bens duráveis – como carros, eletrodomésticos.
Desta lista o que você concluiu? Já parou para pensar como ficará a situação daqueles que não podem ter acesso ao serviço de telefonia, luz, água, gás, escola, saúde, sem que o Estado financie e garanta o acesso de todos às conquistas tecnológicas e sociais? São questões importantes que envolvem a adoção por parte dos governos, das políticas neoliberais, e que dizem respeito à sua existência.
Existe uma questão muito importante nesta discussão de globalização e neoliberalismo. Não podemos ficar com “raiva” do que é estrangeiro e passarmos a praticar atos preconceituosos, atos de xenofobia – preconceito contra os estrangeiros.
O problema central é que a globalização e o neoliberalismo passaram a ser mundiais e atingem os trabalhadores e as populações mais pobres do mundo todo.
As manifestações contra a globalização apontam, como está nos textos jornalísticos do começo deste “Folhas”, para ações globais na defesa dos mais pobres, dos trabalhadores, contra o trabalho infantil, contra o tráfico de crianças e mulheres, contra a prostituição infantil em todo o mundo. Você sabia, por exemplo, que existem os homeless (sem casa ou sem-teto) nos países europeus e nos EUA?
A globalização também significou o aumento das contradições do capitalismo em todos os países (essas contradições são os problemas básicos que a humanidade ainda não resolveu para todos como moradia, comida, segurança, vestuário, educação, saúde); o que pode significar em contra partida um crescimento da solidariedade mundial. Sobre essa questão veja sobre o Fórum Social Mundial na última parte deste “Folhas”.
Os movimentos anti-globalização
Os primeiros anos do século XXI são palco para um conjunto de manifestações que possuem várias reivindicações, mas com uma característica que as unifica: são globais. Ocorrem às vezes em épocas distintas, em vários países, principalmente como uma resposta às reuniões do G-8, da OMC e de outros fóruns de discussão internacional do capitalismo que reúnem somente os representantes dos governos.
O Fórum Social Mundial que se reuniu quatro vezes em Porto Alegre, no Brasil e uma vez em Mumbai, na Índia, é também uma resposta dos setores populares e organizados contra a globalização hegemonizada pelos interesses norte-americanos, que têm no Banco Mundial e no FMI os seus representantes.
São movimentos contrários à política econômica do G-8, que é hegemônica. Mesmo sem ter uma unidade e muitas vezes sem ter uma articulação das propostas vão desenvolvendo suas reivindicações. É a união daqueles que são contra uma globalização desumana e um Estado neoliberal privatizador. Questões importantes fazem parte das discussões destes que são contra a globalização.
Desde a polêmica dos transgênicos, do aquecimento global, dos direitos dos povos pobres, contra a fome no mundo, pelos direitos dos pequenos agricultores, contra a dívida externa dos países pobres. Enfim, um conjunto indistinto de manifestações e reivindicações por uma globalização dos explorados e dominados, contra a globalização do capital.
RERERÊNCIAS:
Sociologia / vários autores. – Curitiba: SEED-PR, 2006. – 266 p.