Teoria Tradicional: eficiência e racionalidade técnica do processo educativo

Neste tópico, estudaremos o momento histórico em que surge o campo de estudos curriculares. O surgimento desse campo está relacionado com a organização de especialistas sobre currículo, estruturação de disciplinas e departamentos universitários específicos, a institucionalização de setores estatais especializados e o surgimento de revistas acadêmicas especializadas em currículos, que se preocupavam com aspectos como (SILVA, 2009):

Teoria Tradicional: eficiência e racionalidade técnica do processo educativo

A sistematização das teorias curriculares, portanto, foi possível com a emergência desse campo de estudo. Especificamente, as teorias tradicionais se originam de um contexto de mudanças educacionais nos Estados Unidos, no início do século XX. Tais mudanças estavam condicionadas a alguns fatores que contribuíram para a teorização do currículo, tais como:

– o estabelecimento da educação como objeto próprio de estudo científico;

– a extensão da educação escolarizada em níveis maiores para segmentos maiores da população;

– as preocupações com a manutenção de uma identidade nacional, como resultado das sucessivas ondas de imigração;

– o processo de crescente industrialização e urbanização. (SILVA, 2009, p. 22).

Nesse período, os Estados Unidos passavam por um processo de industrialização e de urbanização. Em conjunto a esses processos, observava-se baixa escolarização da população e falta de trabalhadores preparados para o setor produtivo. Era preciso, portanto, formar pessoas capazes de participar da vida econômica e política, as quais pudessem contribuir para o desenvolvimento industrial e econômico que se vivenciava à época.

No cenário teórico, duas vertentes se destacavam: a Psicologia comportamental e a Teoria da administração taylorista, as quais deram base para o pensamento curricular do momento em questão.

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Nesse cenário econômico industrial, surgiram alguns questionamentos, por
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Apresentando respostas para tais indagações, Franklin Bobbitt, em 1918, publica o primeiro livro sobre currículo: The Curriculum, marcando assim o início da teorização sobre esse assunto. Nesse livro, Bobbitt defendia que a educação serve para treinar o pensamento e julgamento em relação a situações reais, como também para desenvolver a boa vontade e o espírito de serviço. Nesse pensamento, subjaz a ideia de uma educação acrítica.

Aprende-se por treinamentos e modelos. Aprende-se a reproduzir e controlar a prática educativa e não questioná-la. Nesse sentido, a educação tem a função de formar cada cidadão, homem ou mulher, não de conhecimento sobre cidadania, mas de proficiência em cidadania, não por um mero conhecimento, mas para a proficiência na utilização de ideias no controle de situações práticas.

Para esse teórico, o currículo, pode ser definido de duas maneiras: primeiro, como um leque de experiências, dirigidas ou não, voltadas ao desdobramento das capacidades do indivíduo; segundo, é a série de experiências de treinamento conscientemente dirigida que as escolas usam para completar e aperfeiçoar o desdobramento das capacidades. O currículo proposto por Bobbitt (1928) estava voltado para atender ao setor econômico.

Caberia ao sistema educacional ser tão eficiente quanto uma empresa desse setor, desenvolvendo as capacidades necessárias aos indivíduos para atuarem no mundo produtivo. Para tanto, esse sistema de ensino deveria especificar os objetivos e resultados pretendidos, estabelecer métodos e formas de avaliação para controle do processo educativo, assim como a indústria faz em seu processo de produção.

O modelo eficientista de Bobbitt baseava-se nos princípios da administração científica proposta por Frederick Taylor (1970), citado por Kuenzer (1989, p. 29-31), considerado o pai da Administração Científica, caracterizada, dentre outros aspectos, pela racionalização, fragmentação do trabalho, separação entre concepção e execução, controle e eficiência na execução.

Os objetivos ou as tarefas são elementos fundamentais para a formulação do currículo escolar. Assim, para a organização de um currículo, identificam-se os componentes particulares da atividade profissional e compõe-se um programa de treinamento, com objetivos selecionados por seu valor funcional e sua capacidade de resolver problemas práticos (LOPES; MACEDO, 2011).

Enfim, como enfatiza o curriculista Michael Apple (1982, p. 105), “ao delimitar o papel social básico que o currículo escolar deveria exercer, a questão social e econômica fundamental que preocupava esses primeiros teóricos era a industrialização e a divisão do trabalho que lhe seguia.” Rivalizando com ideias de Bobbit (1928), nesse período, também existia a vertente progressivista, que defendia a construção de uma sociedade democrática.

John Dewey, representante dessa vertente, contradizendo as ideias eficientistas, defendia umaTeoria Tradicional: eficiência e racionalidade técnica do processo educativo educação para a vida social harmoniosa. Nesse sentido, o planejamento do currículo deveria ser baseado nas experiências e necessidades das crianças e jovens, contemplando a individualidade, atividades livres, o mundo em mudanças. Sob essa perspectiva, a função da educação não seria educar para a vida adulta, conforme defendia Bobbit, mas para o tempo presente a partir de um processo contínuo de experiências.

As ideias progressivistas de Dewey influenciaram educadores brasileiros responsáveis pelas reformas educacionais da década de 1920, como Anísio Teixeira, Fernando de Azevedo e Lourenço Filho, conhecidos como os pioneiros da Educação Nova. Tais educadores defendiam a ideia de escola pública, gratuita, universal e laica, onde todos tivessem oportunidades iguais de acesso à educação. No final da década de 1940, as ideias eficientistas de Bobbit foram sistematizadas e consolidadas por Ralph Tyler, que propôs um modelo de planejamento curricular com base na racionalização das atividades de ensino, centrando em questões de organização e desenvolvimento. Esse modelo envolvia quatro etapas/questões.

Teoria Tradicional: eficiência e racionalidade técnica do processo educativo

Observe que essas etapas correspondem à divisão tradicional da atividade educacional: “o currículo (os objetivos), ensino e instrução (seleção e organização dos conteúdos) e avaliação” (SILVA, 2009, p. 25; LOPES; MACEDO, 2011, p. 25).

Teoria Tradicional: eficiência e racionalidade técnica do processo educativo

Devemos compreender que as teorias tradicionais concebiam o currículo como uma questão técnica, com função burocrática e organizativa, cujo planejamento deveria alcançar a eficácia na mudança de comportamento do aluno. Esse modelo, baseado na racionalidade técnica e na eficiência, influenciou o currículo escolar brasileiro da década de 1960, quando se vivenciou a fase tecnicista da educação, até a década de 1980.

Porém, ainda na década de 1960, aconteceram vários movimentos sociais, políticos e teóricos que influenciaram na desestabilização do pensamento curricular tradicional, o que fez delinear outro cenário na teoria curricular, conforme veremos no próximo tópico.

Título : Currículos e Programas da EPCT

Autor : Fernandes, Natal Lânia Roque

Fonte: Currículos e Programas da EPCT / Natal Lânia Roque Fernandes; Coordenação Cassandra Ribeiro Joye. – Fortaleza: UAB/IFCE, 2014.

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