Gênero nas Relações Escolares

Gênero é construção cultural dada num momento histórico determinado e numa cultura determinada. (Miriam Grossi, 1993) A título de facilitar a comunicação, todas às vezes que temos o plural envolvendo o masculino e o feminino, usamos a palavra no masculino. Isso se deve à regra gramatical da nossa língua que faz o uso do masculino como sendo genérico, mesmo quando nos dirigimos a um número muito maior de mulheres.

Nossa gramática é um tanto quanto machista, não acha? Pois bem, essa regra do português fortalece a ideia de que seja natural que os homens dominem as relações de poder. Por isso, acho importante abordar a questão de gênero na escola para refletirmos o papel de cada um nesse contexto. Desde a infância homens e mulheres são vistos, concebidos e constituídos de forma diferente. Assim, o estudo dessa diferenciação é primordial na busca da compreensão da constituição do sujeito.

Gênero, portanto, é uma dimensão muito importante da formação do ser humano, principalmente no contexto escolar. De início, quando ouvimos falar de gênero pensamos logo no sexo. Mas, quero deixar claro que gênero não é sexo. Podemos definir gênero como sendo a atribuição de um modo de ser que reúne características sociais e culturais de homem ou de mulher. Vamos explicar melhor. Por que gênero não é sexo?

Porque sexo está definido pela prática sexual ou pela característica morfológica, ou seja, pelo órgão genital, masculino ou feminino, que são definidos geneticamente Assim como no caso do choro, existem outros exemplos que a cultura permite ou não ao homem e à mulher. Todas as coisas atribuídas pelo cultural, chamamos de gênero, masculino ou feminino.

No gênero feminino aprendemos, desde cedo a ser dóceis, sensíveis e frágeis. No masculino, os homens são obrigados a desenvolver músculos, dureza e até insensibilidade.

A dificuldade em analisar as coisas a partir dessa categoria gênero se dá pelo fato de admitirmos que tudo é definido pelo biológico. Principalmente, em relação aos papéis de homem e mulher que estão muito ligados à nossa identidade de sexo. Sendo assim, acabamos por achar que as diferenças entre homem e mulher são naturalmente dadas e não culturalmente construídas.

A escola como espaço de socialização de meninas e de meninos exerce uma grande influência no processo de constituição de gênero. O papel do educador nesse processo é de fundamental importância para flexibilizar as regras e os papéis de gênero e levar os alunos a uma reflexão sobre as relações de gênero.

Torna-se necessário, portanto, um trabalho consistente e reflexivo na formação dos educadores sobre essa questão para que eles possam, junto com os alunos resignificar esses papéis de gênero e não permaneçam nos estereótipos que impedem diversidade na construção pessoal de existência.  Falar em gênero é portanto pensar não em homens e mulheres biologicamente diferenciados, mas em masculino e feminino como constituídos a partir de ‘relações sociais fundadas nas diferenças entre os sexos’, diferenças lentamente construídas e hierarquicamente determinadas (Miriam Grossi, 1993).

Diversidade Cultural no Processo Educacional

Todos nós ao nascermos já fazemos parte de uma cultura que é a forma de organização social de um grupo, com valores, crenças e costumes específicos. O que somos como seres humanos é o resultado da interação dialeticamente estabelecida entre os processos intrapessoais e interpessoais que se constituem e se transformam numa determinada cultura.

Podemos perceber diferenças nos costumes das pessoas e como eles podem causar estranhamento. Em alguns casos, achamos divertidas essas diferenças, mas em outros, podemos reagir até com preconceito por exemplo, quando vemos dois árabes se cumprimentar com um beijo na boca. Tudo isso faz parte da diversidade cultural.

Na escola, muitas vezes achamos que todas as pessoas têm os mesmos costumes e as mesmas crenças. Mas isso não é verdade. O que temos na escola, ou em qualquer outra instituição educativa, é um grupo de pessoas, com diferentes funções, que têm em comum o mesmo objetivo que é de educar os alunos.

Ter o mesmo objetivo é o que define a formação de um grupo. Então, na escola temos um grupo. No entanto, o grupo é composto por pessoas de diferentes meios sociais que estão sempre se confrontando com o novo e com a diferença, pois cada um tem sua identidade.

O grupo envolve os diferentes participantes da escola e deve ser o espaço de construção do processo democrático. Participar do grupo implica assumir o seu papel, sua função, no enfrentamento dos conflitos com os outros.

Aceitar passivamente, como um “cordeirinho”, a opinião dos outros não é participar de um grupo. É fundamental que o educador tenha clareza dos objetivos, papéis e das funções que estruturam o grupo do qual ele faz parte. Agora vamos pensar nos grupos formados pelos alunos.

É extremamente importante olharmos para essa formação para podermos entender os comportamentos dos nossos alunos na escola. Eles também vivenciam a diversidade cultural e, portanto, enfrentam conflitos nas diferenças do modo de vida de cada um. Vamos a um exemplo: em uma atividade proposta a alunos de nove anos da terceira série do ensino fundamental, pediu-se que eles formassem dois grupos da forma que quisessem.

Em seguida, foi apresentada a cada grupo uma caixa contendo os mesmos materiais de sucata e foi pedido para que representassem o que eles mais faziam nos domingos à tarde. Enquanto os alunos realizavam a tarefa, perguntou-se à professora da turma o que ela esperava que eles apresentassem.

Ela achava que eles iriam mostrar uma TV, pois acreditava que eles assistissem TV no domingo à tarde. Ao final, o que resultou de um dos grupos foi uma Igreja e do outro, um parque de diversões. Foi possível observar que o grupo da Igreja era composto por alunos de menor renda salarial e tinham como diversão nos domingos ir aos cultos religiosos. O outro grupo, de maior renda familiar, relatou que frequentemente iam ao clube ou aos parques de diversão.

Nossos alunos adolescentes, por exemplo, muitas vezes são vistos como iguais. No entanto, basta olharmos com mais atenção e vamos ver que eles se organizam em diferentes grupos, que chamamos de “tribos”. Por exemplo, os “punks”, os “darks, as “patricinhas”, os “nerds”. Mas não podemos esquecer daqueles que não são nada disso. São adolescentes “comuns” que não se enquadram em nenhuma dessas “tribos”.

Muitas vezes os grupos dos adolescentes são considerados como grupos de oposição aos adultos ou de fuga diante da realidade cotidiana. Vista assim, a tentativa por parte dos jovens para desenvolver atividades coletivas parece representar um perigo às práticas e às normas consagradas pelos adultos, principalmente dentro da escola.

Muitos educadores desejariam ter diante de si indivíduos semelhantes e isolados, pois a formação de grupos de jovens tem sido, em geral, vista como estruturas sociais complexas, instáveis, ameaçadas de mudanças e elaboradas por novos valores culturais. Daí a desconfiança ou incompreensão entre as gerações já instaladas na vida pública e as gerações em ascensão.

As “gangues”, ou o grupo de adolescentes, amplamente estudados pelos psicólogos e sociólogos, são vistos como oposição ao papel do educador e ao conteúdo programático imposto pela escola e que impossibilitariam o processo de aprendizagem. De modo geral, as escolas vêem os adolescentes como rebeldes, como possíveis destruidores da ordem. A escola deveria entender melhor o adolescente.

Os adultos deveriam compreender melhor que a rebeldia faz parte do processo de autonomia. Não é possível ser sem rebeldia. O grande problema é como amorosamente dar sentido produtivo, criador ao ato rebelde, e não acabar com a rebeldia (Freire, 2001:249). Sabemos que o comportamento rebelde dos adolescentes tem, não raras vezes, ultrapassado os limites do respeito ao outro, chegando a situações de violência extrema como em casos de tentativa de homicídios e também de suicídios.

O educador deve estar atento a essas questões sem, contudo, desenvolver uma atitude preventiva e generalizante de que todo adolescente seja um perigo. Não é necessário que a diversidade cultural e os conflitos na escola entre adolescentes e adultos sejam visto como algo negativo, destruidor. Pelo contrário, são formações particulares e não necessariamente hostis a tudo o que é diferente deles. No grupo, o adolescente distingue-se dos outros membros como um indivíduo que tem sua auto-estima e constrói sua autonomia.

A conquista da autonomia se dá na própria experiência, nas decisões tomadas, sempre em diálogo com o outro. O outro é de extrema importância para a constituição do sujeito em todas as etapas da sua vida. Não há como ser sozinho. Nós somos sempre em presença do outro. No que diz respeito à autonomia, o educador também deve conquistar a sua. Para isso, o respeito à identidade e à autonomia do educando são fundamentais.

É nessa relação que o educador torna-se sujeito de suas ações e não um objeto manipulado por teorias psicológicas. Quanto mais nos colocamos como sujeitos do processo ensino-aprendizagem, mais capacitados estaremos para a tarefa de educador. Talvez, um dos grandes dilemas na transformação do funcionário em educador seja o sentimento de que ele não possui voz própria, que seu papel na escola resume-se à tarefa, por exemplo, de execução de servir a merenda, de fazer a limpeza ou de ser porteiro.

Esse modelo de funcionário explicita o homem alienado, o homem máquina. Tal situação nos leva a refletir sobre as dificuldades que os funcionários encontram para, junto com o grupo da escola, discutir problemas, como reivindicar melhores condições de trabalho. Um “funcionário máquina” precisa de muito pouco para ser eficiente. A máquina não ganha salário, não pensa, não tem desejos, não se revolta e só realiza o trabalho programado.

Título : Relações Interpessoais: abordagem psicológica

Autor : Regina Lúcia Sucupira Pedroza

Fonte Domínio Público: Brasil. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Relações interpessoais : abordagem psicológica / [Regina Lúcia Sucupira Pedroza]. – Brasília : Universidade de Brasília, Centro de Educação a Distância, 2006.

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