A aprendizagem é um processo permanente e contínuo, que se reflete em todas as nossas ações. “Explicar o mecanismo da aprendizagem é esclarecer a maneira pela qual o ser humano se desenvolve, toma conhecimento do mundo em que vive, organiza sua conduta e se ajusta no meio físico e social” (CAMPOS, 2014, p. 16).
A afirmação de Campos conduz a alguns questionamentos: afinal, o que é aprendizagem? Como aprendemos? Existem diferentes tipos de aprendizagem? Campos (2014) apresenta algumas características da aprendizagem, resultantes da contribuição das diferentes teorias. Veja no Quadro 5:
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Processo dinâmico: a aprendizagem envolve a participação ativa do indivíduo.
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Processo contínuo: a aprendizagem está presente desde o nascimento até o fechamento de nosso ciclo vital. Aprendemos de maneiras diferentes, de acordo com nossa faixa etária, nível de desenvolvimento, contexto em que estamos inseridos, sejam estes formais ou informais.
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Processo global: por provocar mudanças no comportamento, o processo de aprendizagem requer a participação total do indivíduo, em seus aspectos físicos, intelectuais, emocionais e sociais. O desenvolvimento humano ocorre de maneira global, em que todos os aspectos que o constituem evoluem gradativa e concomitantemente, necessitando um completo envolvimento do indivíduo no ato de aprender.
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Processo pessoal: a aprendizagem é uma experiência individual, ninguém pode aprender por nós, tampouco podemos aprender por outrem. Cada indivíduo tem uma maneira de aprender e um ritmo de aprendizagem, o que lhe confere um caráter pessoal e intrasferível.
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Processo gradativo: a aprendizagem se desenvolve de modo gradativo, em que as operações realizadas vão se tornando cada vez mais complexas. Uma nova aprendizagem sempre agrega elementos às aprendizagens anteriores, aumentando sua complexidade.
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Processo cumulativo: as aprendizagens somam-se umas às outras de modo que vamos acumulando experiências. O acúmulo de experiências provoca a organização de novos padrões de comportamento que, quando incorporados pelo indivíduo, geram mudanças no seu próprio repertório comportamental. Quanto mais experiências são vivenciadas, maiores são as possibilidades de aprender.
Conforme apresentado anteriormente, a aprendizagem não é a mera repetição da informação e não resulta unicamente do processo de memorização. Para que ela ocorra estão envolvidos “o uso e o desenvolvimento de todos os poderes, capacidades, potencialidades do homem, tanto física quanto mentais e afetivas” (CAMPOS, 2014, p. 33). Nesta perspectiva, a tirinha abaixo (Figura 10) ilustra uma crítica quanto à compreensão da aprendizagem como mera repetição e à posição do aluno como sujeito passivo.
Para que a aprendizagem ocorra de maneira satisfatória, além de outros aspectos, deve-se considerar que cada estudante apresenta uma inclinação à aquisição do conhecimento por diferentes canais sensoriais. A estas diferentes tendências de aprendizado, dá-se o nome de estilos de aprendizagem.
Para Campbell, Campbell e Dickinson (2000, p. 161) “Os estilos de aprendizagem referem-se às diferenças individuais na maneira como a informação é compreendida, processada e comunicada”. A respeito dos estilos de aprendizagem, várias são as teorias que buscam defini-los e classificá-los. Dentre elas, merece destaque a desenvolvida por Fernald e Keller e Orton-Gilingham, que propõe o modelo VAC (VISUAL, AUDITIVO e CINESTÉSICO).
Este modelo é baseado nos sentidos e compreende três estilos:
- Estilo visual: o indivíduo tem inclinação ao aprendizado utilizando estímulos visuais, estabelece relações entre ideias e conceitos a partir de imagens. O uso de fotos, vídeos, demonstrações e outros recursos visuais é indicado. A observação e a leitura podem ser métodos de estudo interessantes para estes estudantes.
- Estilo Auditivo: o indivíduo tem inclinação ao aprendizado utilizando estímulos auditivos, estabelece relações entre ideias e conceitos a partir de sons, especialmente da linguagem falada. O estudo deve priorizar o ouvir e o falar. O aluno pode ler em voz alta, utilizar recursos audiovisuais. Em sala de aula a explicação do professor é de grande importância.
- Estilo Cinestésico: o indivíduo tem inclinação ao aprendizado por meio dos movimentos corporais. O uso de experiências que envolvem tocar, sentir e explorar é de grande relevância. Indica-se o uso de atividades práticas, pois o tocar e o fazer são importantes para estes alunos.
É comum haver um estilo de aprendizagem dominante. Cabe, no entanto, salientar que todos os canais sensoriais são importantes para a aquisição do conhecimento. Além disso, em uma sala de aula, a diversidade entre os alunos exige o uso de uma abordagem multissensorial.
O reconhecimento de que há uma característica individual no modo com que cada pessoa aprende – estilo de aprendizagem – e a identificação de que há diferenças básicas nas formas de apreender e relacionar os dados da realidade – estilo cognitivo – implica forçosamente na revisão e atualização dos processos de ensinar e aprender. (NATEL; TARCIA; SIGULEM, 2013, p. 146).
Título : Psicologia do desenvolvimento e da aprendizagem
Autoras : Josieli Piovesan, Juliana Cerutti Ottonelli , Jussania Basso Bordin e Laís Piovesan
Fonte: Psicologia do desenvolvimento e da aprendizagem [recurso eletrônico] / Josieli Piovesan … [et al.]. – 1. ed. – Santa Maria, RS : UFSM, NTE, 2018.