No gráfico 6 vemos o percentual de crianças vítimas de doenças e perdas segundo a presença de sintomas de ansiedade e TEPT. Todas as adversidades apresentadas no gráfico 6 predominam nas crianças que têm sintomas (limítrofes e clínicos) de ansiedade e de TEPT. Por exemplo, 7% das crianças com sintomas de ansiedade e 4% das que têm sintomas de TEPT vivenciaram morte de pais ou irmãos.
Dentre as crianças sem sintomas ansiosos, foi bem menor o índice de morte de pais/irmãos (1,4% das crianças aferidas pela escala de ansiedade e 1,7% pela de TEPT). A maior presença de eventos adversos nas crianças com sintomas de ansiedade e TEPT pode indicar maior dificuldade dessas crianças em lidar com a ansiedade provocada por estes eventos adversos que atingem sua saúde e vida, bem como a de seus familiares próximos.
Problemas de saúde na família são situações altamente estressantes e de grande magnitude na vida das crianças. Dependendo da gravidade dos agravos à saúde, do tempo que duram e das consequências emocionais e financeiras que deixam na família, eleva-se o grau de vulnerabilidade da criança. Crianças costumam ficar muito sentidas quando vivenciam o sofrimento das pessoas que amam.
Orientar a criança sobre o processo desencadeado pela doença pode fortalecer sua coragem para enfrentar os momentos difíceis. É preciso ter sabedoria para falar a verdade, respeitando seu nível intelectual, cognitivo e estado emocional. É bom perceber quando a criança ou familiar está profundamente abalado com a situação, e acolher suas dores, aceitar suas fraquezas, mas também apontar caminhos de superação.
A perda por morte dos pais ou cuidadores é uma situação especialmente traumatizante para uma criança. A despeito das diferenças de cada etapa da vida, de modo geral, parece não haver um período crítico especial do desenvolvimento que é afetado de forma especial pela experiência de perda de cuidadores. Para as crianças, é fundamental que haja um substituto atuando na função de cuidador e protetor, para que a perda possa ser superada de forma menos traumática.
Numa situação de morte, o profissional de saúde precisa estar atento sobre o contexto afetivo na família apesar da perda, a qualidade do relacionamento da criança com quem morreu, como e quando a revelação da morte é feita, como o genitor sobrevivente reage e como quer e espera que a criança reaja (Bowlby, 1998; Assis et al., 2006).
Dar a criança informações exatas e sinceras, demonstrando simpatia e apoio é uma postura das mais eficazes, facilitando uma reação realista à perda e diminuindo as consequências oriundas dessa experiência. Outro tipo de perda comumente difícil de ser superada pela criança é a separação entre os pais.
Um aspecto positivo para o processo de separação dos pais acontece quando, a partir da ruptura do casal, se consegue reduzir brigas, obter estabilidade emocional e prover afeto de forma constante à criança. Famílias conflituosas, permeadas pela rejeição e hostilidade são mais prejudiciais à criança do que uma família estável, em que os pais estão separados, mas existe estabilidade de sentimentos.
Crianças costumam sofrer muito durante as brigas e separações de seus pais. Uma boa conversa com o paciente e seu responsável pode ajudar muito, por ser o profissional uma pessoa neutra. É sempre bom atentar para a existência de sintomas de ansiedade ao lidar com crianças que estão passando por perdas afetivas.
A ausência da figura paterna na criação dos filhos foi considerada por várias mães entrevistadas neste livro como possível explicação para os sintomas de ansiedade das crianças.
REFERÊNCIAS:
Assis, Simone Gonçalves de Ansiedade em crianças: um olhar sobre transtornos de ansiedade e violências na infância / Simone Gonçalves de Assis; Liana Furtado Ximenes; Joviana Quintes Avanci; Renata Pires Pesce. — Rio de Janeiro: FIOCRUZ/ENSP/CLAVES/CNPq, 2007. 88p. (Série Violência e Saúde Mental Infanto-Juvenil)