A figura exemplifica o mundo permeado pelas tecnologias no qual vivemos, nesse sentido, o sujeito cognoscente passa a ter novo papel.
Para tentar entender os processos educacionais a partir da utilização das tecnologias da informação e comunicação precisamos antes entender o cenário político, social, econômico e cultural que o mundo passa a ter com a chamada sociedade da informação, principalmente pós-segunda guerra mundial.
O fenômeno da internet e seu impacto na vida das pessoas seriam, neste sentido, apenas uma manifestação a mais, e com toda certeza, não o último, do novo paradigma tecnológico e das transformações sócioeconômicas e socioculturais a ele associadas (COLL, MONEREO, 2010, p. 15)
Entendemos esse sujeito como uma pessoa que aprende dentro de uma convergência digital, na qual, é possível em um documento digital encontrarmos a combinação de sons, imagens e links para sites externos. Aprendemos, também, em ambientes virtuais que “simulam” uma sala de aula tradicional (presencial), muitas vezes criamos “avatares” para nos identificarmos em ambientes 3D ou 4D.
A convergência do virtual e presencial, a todo o momento, se apresenta para esse sujeito que busca, pesquisa e vive nessa imensa rede mundial de computadores, muito mais do que em espaços físicos propriamente ditos. Flexibilidade de horários e qualidade de vida passa a ser a grande busca do século XXI.
Vivendo nessa “sociedade virtual” não concebemos mais sair de casa sem estarmos conectados às redes sociais, e-mails, etc… Nesse sentido, impulsionamos novas formas de viver e conviver, até mesmo dentro de nossa própria casa ou núcleo familiar. Hoje não estamos mais sentados à frente de uma televisão, mas sim estamos sentados com o aparelho celular na mão, criamos grupos de conversa, até mesmo, para a comunicação de uma mesma família. Sob esse viés, que se apresenta, é possível concebermos a educação desconectada de tudo isso?
É possível colocarmos nossos alunos em uma sala de aula, nos modelos do século passado, sem interação, interatividade e conectividade? Que cidadãos queremos formar? Uma pessoa que viverá nesse mundo que se reorganiza todos os dias? Ou estamos educando uma pessoa para viver em um passado longínquo, fora da realidade que se apresenta? Não consigo conceber a educação desconexa desse tempo e da sociedade da informação, retomando um pouco Morin (2000), devemos formar pessoas complexas, pois, essa é nossa natureza, alguém capaz de entender o mundo que a cerca e que não negue esse mundo como se não fizesse parte do mesmo. Coll e Monereo (2010) afirmam ainda que as TIC transformam a economia de países.
A facilidade para se comunicar e trocar informações, junto com a enorme redução de custos que isso traz consigo, vem ocasionando, por exemplo, que alguns países tenham passado diretamente de uma economia centrada na agricultura para outra baseada nas tecnologias da informação e comunicação. (COLL; MONEREO, 2010, p. 17).
O fato é que, a utilização destas tecnologias trouxeram transformações profundas em todos os âmbitos da organização social, política, econômica e cultural de uma nação. Por sua vez, a educação, como está inserida em todos esses contextos, não pode ser concebida sem dar conta de “ensinar” pessoas para viverem na sociedade permeada por redes.
Mas como pensar a educação nesse cenário? Resgatando um pouco os conceitos estudados, na unidade anterior, sob a teoria sociointeracionista, de Vygotsky, analisamos as redes de colaboração que se constituem em uma velocidade vertiginosa. Também, lembremos dos Ambientes virtuais de aprendizagem e das inúmeras ferramentas que encontramos na internet para facilitar o ensino.
Contamos com diversos softwares adaptáveis, para qualquer necessidade, exemplo disso são os softwares livres, que nascem para ir contra a cultura do aprisionamento do saber imposta por direitos autorais de copyright. Grandes empresas, como a Google e Amazon, já abriram os códigos fontes dos sites para que colaboradores, com olhares de consumidor, possam contribuir com o que está faltando, ou dando ideias inovadoras, faturando economicamente muito com isso.
Vivenciamos uma geração de pessoas que compartilham saberes, pois quanto mais compartilham mais aprendem e mais tem a ensinar, quem sabe, a teoria de Freire de que os sujeitos se educam, esteja ganhando corpo e forma com a utilização das tecnologias. Coll et. al. (2010) em seus estudos pontuam que a evolução de nosso cérebro está diretamente ligada ao ambiente a que estamos submetidos. Desenvolvem-se habilidades necessariamente ao domínio da utilização das ferramentas a que somos apresentados, assim;
“o projeto evolutivo” de uma criança que pertença a uma sociedade de caçadores-coletores é radicalmente diferente daquele de outra nascida em uma sociedade de agricultores-pecuaristas ou do desenvolvimento daquelas crianças que cresce em uma sociedade industrial (COLL et. al., 2010, p. 48).
E vai além: “as tecnologias próprias de cada momento histórico contribuem para promover metas coletivas, relações sociais, práticas cotidianas e expectativas de comportamento diferentes” (COLL et. al, 2010., p.48) Quanto ao papel dos professores, nesse novo modelo, se apresenta, muito mais como um seletor de informações, motivador na busca por conhecimentos, gestor e consultor no esclarecimento de dúvidas e mediador de debates e discussões.
São algumas competências necessárias que devem ser trabalhadas. Mas, não podemos deixar de lado que estamos diante de dois grandes grupos, dentro do espaço escolar: o grupo dos nativos digitais e o grupo dos imigrantes digitais (Prensky, 2001). Quem está de um lado e de outro nesse processo? Bem, os nativos digitais, para Prensky, são aquelas pessoas que estão frequentando os bancos escolares com acesso facilitado à internet e a outras tecnologias digitais, e possuem características diferentes das gerações anteriores.
Para o autor, muitos jovens, dessa geração, estão acostumados a obter informações de forma rápida recorrendo à internet, e a recursos digitais, antes mesmo de olhar em um livro. Já os imigrantes são aqueles indivíduos que nasceram em um “mundo” não tão digital e que aprenderam a utilizar a tecnologia ao longo de sua vida e, mesmo fluentes na tecnologia, ainda apresentam certo “sotaque”. Hoje essas pessoas são, em sua grande maioria, professores deste outro grupo que “domina” a tecnologia.
E como um professor que vem se adaptando ao mundo digital pode ensinar para alguém que já nasce nesse mundo, que não precisa se adaptar? O receio dos professores de ser substituído pelos computadores, no início do século XXI, aos poucos foi sendo vencido, mas como lidar com a tecnologia que está posta? Ainda é uma batalha travada diariamente por inúmeros educadores de todo o país.
Qual nosso papel, como proceder? Como mudar minha prática pedagógica tornando-a mais atrativa que a tela do celular, por exemplo? É necessário reinventar a educação? De fato, pensar em processos de desacomodação, não é fácil e não se faz da noite para o dia. Desmistificar a utilização das inúmeras ferramentas, que se apresentam, não como vilãs, mas como possibilidades, como auxílio para a aprendizagem, talvez seja o maior desafio imposto pelas tecnologias da informação e comunicação para a educação.
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REFERÊNCIAS:
PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM / Silva, Juliane Paprosqui Marchi da, UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA, Santa Maria | RS 2017