Assim como já estudamos na unidade anterior o behaviorismo é derivado do empirismo que tem suas raízes nos estudos do filósofo John Locke (1632-1704). O condicionamento clássico, que mais tarde é chamado de behaviorismo (termo que advém do inglês behavior), tem seu início, propriamente dito, no século XX na obra do psicólogo Russo Ivan Pavlov (1848-1936).
Mais tarde o psicólogo norte-americano, John Watson (1878-1958), traz essa concepção da Rússia introduzindo na América, o que chamaria de behaviorismo. Porém, após refinar os estudos de Pavlov e Watson, é o psicólogo americano Burrhus Frederic Skinner (1904-1990) quem introduz esse conceito no campo educacional, e conhecido como behaviorismo radical de Skinner, que teve grande popularidade no Brasil e nos Estados Unidos.
Vamos entender um pouco mais dessa perspectiva, desde o início, até chegarmos à educação com suas implicações na aprendizagem. A teoria do condicionamento, que foi uma das bases para o behaviorismo, nasce, então, dos estudos do psicólogo Russo Pavlov, que constatou através de experimentos com animais, mais precisamente com cachorros, que os mesmos reagiam biologicamente a determinada situação, através de estímulos impostos.
Basicamente o teste feito foi o seguinte: Pavlov estudando as glândulas salivares dos cães, objeto de seus estudos, observou que os animais começavam a salivar depressa quando ele lhes apresentava comida, porém ele observou que não necessariamente a comida fazia eles salivarem.
No momento em que ele chegava ao laboratório, ele percebeu que apenas o som de seus passos, chegando ao laboratório, provocava o mesmo efeito. A partir daí, começou uma série de experimentos, onde conclui que algumas respostas comportamentais eram reflexos incondicionados, salivar quando via a comida (não aprendidos) e outros são reflexos condicionados (aprendidos), através de situações agradáveis ou desagradáveis. Para chegar a essa conclusão ele realizou o seguinte experimento: toda a vez que ele chegava ao laboratório dava comida para o cachorro, este salivava quando via a comida, então ele tocava um sino junto.
No dia seguinte ele somente tocou o sino e o cão não salivou, somente quando viu a comida salivou, então nos dias que se seguiram ele tocava o sino e dava a comida junto, isso por um período de dias. Após este período, quando ele tocava o sino, o cão salivava mesmo sem ter visto a comida, condicionou o cão, ao som do sino, que iria ganhar comida, ou seja, a reação do cachorro passou a ser condicionada ao tocar o sino, mesmo não tendo comida, toda vez que tocava o sino o cão salivava.
Com esses estudos, Pavlov chegou à conclusão que é possível manipular o comportamento de um organismo através de um estímulo qualquer que ele consiga compreender, até mesmo o cheiro de algo nos condiciona, um perfume, um som, etc…
Na América quem introduz o behaviorismo é o psicólogo John Watson, inspirado nos estudos de Pavlov, lançando em 1913 o artigo intitulado “A Psicologia tal como a Vê um Behaviorista”. Neste artigo, Watson afirma que o objeto de estudo da psicologia deveria ser o comportamento humano, e não apenas os processos mentais.
Esse não é objeto de nosso estudo, apenas para localizá-lo no tempo. Pois bem, os estudos, deste psicólogo, ficaram conhecidos como behaviorismo clássico durando mais ou menos até 1930 e influenciaram, de certa forma, Skinner, pois o mesmo defendia que o comportamento era definido através de certas variáveis do meio, ou seja, mudando o meio mudamos também o comportamento.
Os estímulos agem como propulsores de uma determinada resposta entre as ações dos indivíduos. O homem é estudado a partir das interações com o ambiente, ou seja, são produtos dos estímulos do meio. Para o autor, as pessoas são infinitamente maleáveis, parafraseando os Jesuítas, Watson (1930, p.104) diz:
Dê-me uma dúzia de crianças saudáveis, bem formadas, e meu próprio mundo especificado para trazê-las, e eu garanto tomar qualquer uma aleatoriamente e treiná-la para se transformar em qualquer tipo de especialista que eu escolher – médico, advogado, artista, comerciante e até mesmo mendigo e ladrão, a despeito de seus talentos, inclinações, tendências, habilidades, vocações e raça de seus antepassados.
Com isso ele defendia que o meio influenciava, certamente, no que a pessoa se tornaria, de uma certa forma. Podemos fazer uma comparação para a atualidade, quando ouvimos: “ah não aprende, mas também, olha de onde vem esse menino…”. Essa é uma frase comum que ouvimos com fortes tendências ao behaviorismo clássico de Watson.
Skinner, por sua vez, introduz o chamado behaviorismo radical, sendo muito importantes seus estudos, pois deram notoriedade aos trabalhos de Watson e Pavlov, porém com outros enfoques ele se utilizou da teoria do comportamento. Também realizou muitos experimentos com animais, ratos e pombos, criando a caixa de Skinner, que trabalhava basicamente o estímulo resposta dos animais.
Graças ao interesse científico, que tinha em conhecer o homem, culminou na descoberta do princípio do reforço positivo. Skinner se diferencia por entender que o homem não é somente um ser que responde a estímulos, como era proposto por Watson, mas sim, que um ser interage com o ambiente produzindo, inclusive, mudanças que afetam a nós mesmo, ou seja, modifica o mundo e por ele é modificado.
Para Skinner, o processo de desenvolvimento se dava por dois processos, o biológico, dividido em filogênese, ou seja, a espécie a qual pertencemos, e a ontogênese, aquilo que nos faz ser únicos, com que tenhamos sensações e tipos de aprendizagem diferentes e, por fim, o cultural, considerando que o processo educacional definia uma cultura. Através do reforço, positivo ou negativo, o organismo é condicionado a fazer ou a evitar comportamentos, devido as consequências do mesmo.
O homem, para Skinner, é movido pela satisfação, pelo prazer e ainda vai além, se dermos as condições necessárias todos aprendem, sendo que o ato de ensinar é arranjar contingenciamentos positivos, principal função do professor dentro da sala de aula, oferecer ambiente propício para a aprendizagem.
Vejamos por exemplo, em uma sala de aula, cada vez que um aluno dá a reposta correta para determinada questão ganha um elogio, ou até mesmo um prêmio (em forma de nota, ou um chocolate), estamos estimulando-o a repetir esse comportamento para ganhar novamente um elogio ou prêmio. Por outro lado, se cada vez que um aluno, ao interagir com o grupo falando aquilo que pensa, for repreendido e isso causar-lhe constrangimento, a tendência é que não repita mais esse comportamento, levando-o inclusive ao isolamento.
Skinner condenou profundamente a utilização de reforços negativos na educação, por exemplo, a utilização de castigos físicos impostos pelo professor, uma vez que ele defendia que esse comportamento, somente, não seria feito na frente do professor. Fazendo uma analogia, um motorista, normalmente, andará na velocidade da via quando passar pelo sistema de radar, para não ser punido, assim, se não houver uma conscientização do porquê não ultrapassar a velocidade permitida, as infrações continuarão.
Por outro lado, também temos o incentivo vicário (proposto por Bandura 2008) que é entendido como o incentivo que o aprendiz desenvolve ao observar que é dada uma recompensa ao outro, incentivando desta forma imitar o modelo. O behaviorismo de Skinner também sugere que o aluno aprenda em etapas, gradativamente das mais simples às mais complexas, dividindo o curso em pequenas unidades que somente avançará se passar pela primeira, então, se passou o aluno terá 10, pois o objetivo é verificar se o aluno de fato aprendeu.
O professor na visão de Skinner seria um facilitador, que integra o aluno no aprendizado, já o aluno deverá se interessar pelo aprendizado, aprender o que ele quer aprender. A contribuição de Skinner teve grande repercussão no Brasil com a revolução industrial, e o modelo de fábrica, onde devemos ter pessoas treinadas, ou adestradas, para responder a um determinado propósito, ou seja, cada um faz uma parte do todo, com perfeição, para que o todo também saia desta forma.
Na educação o reflexo desse comportamento é a denominada educação bancária, dividida em caixas, fato que ainda pode ser observado, nos currículos, onde todas as disciplinas são fechadas, para culminar em um determinado perfil de formado. O feedback para o aluno é muito importante, um exemplo que ele utiliza é com a máquina de aprendizagem de Skinner.
Skinner considerou o professor como um dos principais elementos para a aprendizagem dos sujeitos. Esta ideia se torna ainda mais explicita quando o autor diz que, “ensinar é o ato de facilitar a aprendizagem; quem é ensinado aprende mais rapidamente do que quem não é” (SKINNER, 1972, p. 4). Fica claro, nesta afirmação, o valor dado por Skinner aos professores e à função indispensável que esta profissão exerce no desempenho de uma boa aprendizagem.
Naturalmente, a professora tem uma tarefa mais importante do que a de dizer certo ou errado. As modificações propostas devem libertá-las para o exercício cabal daquela tarefa. Ficar corrigindo exercícios ou problemas de aritmética – “Certo, nove e seis são quinze; não, não, nove e sete não são dezoito” – está abaixo da dignidade de qualquer pessoa inteligente. Há trabalho mais importante a ser feito, no qual as relações da professora com o aluno não podem ser duplicadas por um aparelho mecânico. Os recursos instrumentais só virão melhorar estas relações insubstituíveis (SKINNER, 1972, p. 25).
Então, perceba, que a mente humana, ou o aprendizado, visto por John Locke como tábula rasa, passa para a lei de estímulo resposta de Pavlov e posteriormente por Watson, onde o comportamento é visto somente como respondente ao estímulo. Até chegarmos à teoria que entendia o ser humano em três dimensões, de Skinner, onde o comportamento é operante e o homem interage com o ambiente. Portanto, falar de behaviorismo é de certa forma complicado, pois cada pensador, em cada época, a consolida de maneira diferenciada. Para entendermos mais a diferença das teorias de Watson e Skinner, ambas Behavioristas.
Contudo, a unidade buscou identificar os principais aspectos da perspectiva da concepção behaviorista, com alguns de seus principais fundamentos e autores. Cabe ressaltar também que este é só um pequeno resgaste, e que o material didático que ora se apresenta, não tem o intuito de encerrar sobre qualquer concepção que seja, apenas buscamos dar os aspectos fundamentais de cada uma das teorias estudadas e suas principais contribuições para a educação. Porém, seja qual for o autor a que estamos nos referindo. Os comportamentalistas trazem consigo uma concepção de educação moldada através de estímulos, inspirando práticas pedagógicas direcionadas para fins que já foram previstos.
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REFERÊNCIAS:
PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM / Silva, Juliane Paprosqui Marchi da, UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA, Santa Maria | RS 2017