Transtornos de ansiedade na infância

O ser humano sempre se deparou com perigos à sua sobrevivência, precisando se proteger diante de diversas situações difíceis e ameaçadoras, que fazem parte de seu cotidiano. Nessas situações estressantes, o organismo é preparado para uma reação imediata diante do perigo, através de mensagens enviadas do cérebro ao sistema autônomo, que libera substâncias químicas que produzem sensações físicas e mentais, como aceleração do batimento cardíaco, mudança no direcionamento do fluxo de sangue, aumento da transpiração, estado de alerta da atenção, desejo enorme de fuga da situação, desejo de agredir, entre outras reações.

Todas estas sensações têm o propósito de preparar o organismo para uma reação de proteção frente ao perigo. Por exemplo, o batimento cardíaco acelerado serve para tornar mais rápido o fluxo sanguíneo, direcionando o fluxo aos músculos grandes (coxas e braços) e facilitando a reação de fuga ou enfrentamento do problema.

Ao mesmo tempo, este fluxo é diminuído das extremidades do corpo como a pele, de modo que, caso a pessoa seja atacada e ferida, tem menos chance de ter uma hemorragia. Isso também produz palidez e sensação de mãos e pés frios ou formigamento, experimentados pelas pessoas em situações de ansiedade. Após certo período, estas sensações diminuem devido à ação do sistema nervoso parassimpático que provoca uma percepção de relaxamento (Craske; Barlow, 1999).

Além de respostas fisiológicas, mecanismos cognitivos (antecipação de consequências desastrosas), motivacionais (desejo de estar longe da situação traumática), afetivos ou emocionais (sentimento de terror) e comportamentais são ativados (Beck, 1985). Todo esse conjunto de modificações emocionais e físicas está na base dos transtornos de ansiedade. Mas, pessoas de distintas localidades e culturas manifestam ansiedade diferentemente.

Em algumas culturas prevalecem os sintomas físicos; em outras os cognitivos (preocupação, medo). Dependendo do sexo, da idade e da inserção em grupos sociais, também é comum a existência de variações na expressão dos sintomas (APA, 2002). Os transtornos de ansiedade podem afetar as pessoas em todas as fases da vida. Torna-se um problema psiquiátrico quando impede o funcionamento do indivíduo e a realização de tarefas cotidianas.

Alguns estudos mostram que crianças com transtornos de ansiedade têm mais dificuldade para fazer amizades, do que aquelas que não têm este tipo de problema. A ansiedade em nível patológico tem um impacto grande na vida social e escolar das crianças, resultando em consequências futuras sérias (Cartwright-Hatton, 2006; Silva; Figueiredo, 2005).

Dentre todos os transtornos psiquiátricos, os de ansiedade são considerados por vários autores como os mais comuns em crianças (Cartwright-Hatton, 2006). Há uma tendência que esses transtornos persistam até a vida adulta, caso não sejam tratados (Cartwright-Hatton, 2006; Silva; Figueiredo, 2005). Crianças costumam apresentar, ao mesmo tempo, mais de um transtorno. Estima-se que metade das crianças com transtorno de ansiedade possui outro transtorno associado (Asbahr, 2004), seja ele também da esfera da ansiedade ou outros tipos de distúrbios de comportamento, que não os ansiosos.

Fatores biológicos e familiares estão entre as origens da ansiedade. A transmissão genética de pais para filhos está estimada em cerca de 50% da predisposição à ansiedade, embora ainda haja discordância sobre essa relação (Bögels; Brechman-Toussaint, 2006). O relacionamento inseguro da criança com seus cuidadores é um outro ponto importante para se compreender os sintomas de ansiedade. Baseado nas reações dos pais e no tipo de relacionamento estabelecido entre pais e filhos, é que a criança pequena cria seu próprio modelo de funcionamento interno frente às situações da vida.

Ao crescer, outras pessoas e influências se incorporam à forma como uma criança lida com a ansiedade. Os conflitos conjugais, a forma como o pai ou a mãe se relaciona com o cônjuge, o relacionamento entre irmãos, as estratégias educativas dos pais, as crenças dos pais sobre os filhos são outros aspectos que podem estar associados aos transtornos de ansiedade na infância. A seguir, falamos um pouco sobre os vários tipos de transtornos de ansiedade que acometem crianças. Iniciaremos descrevendo os sintomas de ansiedade presentes nas crianças de São Gonçalo.

O gráfico 4 mostra sintomas compatíveis com transtornos de ansiedade de separação, generalizada e fobia específica. Como se pode notar no gráfico 4, isoladamente alguns sintomas se mostram muito comuns, como é o caso dos sintomas de ansiedade, nervosismo, tensão e medo, referidos pelos responsáveis de cerca de 60% das crianças. No pólo oposto, medo da escola foi referido por 3,7% dos responsáveis.

Neste gráfico percebemos a elevada frequência com que crianças, assim como os adultos, convivem com sintomas de ansiedade no dia-a-dia.

Transtornos de ansiedade na infância

REFERÊNCIAS:

Assis, Simone Gonçalves de Ansiedade em crianças: um olhar sobre transtornos de ansiedade e violências na infância / Simone Gonçalves de Assis; Liana Furtado Ximenes; Joviana Quintes Avanci; Renata Pires Pesce. — Rio de Janeiro: FIOCRUZ/ENSP/CLAVES/CNPq, 2007. 88p. (Série Violência e Saúde Mental Infanto-Juvenil)