Qualquer ação coletiva necessita de estratégias que possam ser praticadas em um ambiente que contribua para essa coletividade, quando se trata do Transtorno do Espectro Autista (TEA), não é uma realidade diferente, desde o encaminhamento para profissionais que possam apresentar o fechamento do laudo à inserção do estudante na sala de aula, não se trata de um processo simples, pois diversas partes, evidentemente, deverão contribuir, de modo que cada uma possa efetivar o seu papel, tendo como meta o mesmo produto final, o desenvolvimento pedagógico contribuindo com o exercício da autonomia do estudante.
Conhecer as especificidades de cada um dos estudantes, no que se referem as suas dificuldades e potencialidades, faz parte do processo educacional, seja com um estudante que apresenta alguma deficiência ou não, pois será a partir de tal conhecimento que poderemos compreender as diferentes formas de aprendizado. De quem é a responsabilidade de incluir pessoas com deficiência no ambiente escolar?
Pais, professores, direção, coordenação, equipe de limpeza, merendeiras, inspetores e demais administrativos da escola, ou seja, todos que fazem parte da rotina escolar deverão assumir essa responsabilidade, por isso, é importante destacar novamente, que conhecer as características do estudante incluindo suas habilidades e limitações será um fator decisivo, para que todos possam contribuir verdadeiramente nesse processo. O simples fato de agir com naturalidade em momentos de desestrutura emocional de um estudante com autismo, para que o mesmo possa se sentir seguro nesse ambiente, será muito importante.
É preciso atenção ao fato de que apresentar TEA ou alguma outra especificidade, não subtrai os deveres desses sujeitos, por esse motivo, todos os estudantes deverão respeitar as regras da escola, assim como, horários, filas, e caso ocorra ausência do estudante sem justificativa de atestado, o mesmo deverá receber falta, assim como ocorre com os demais, de acordo com o regimento escolar. Agora falando mais especificamente sobre a prática pedagógica em relação ao TEA, podemos inclusive, utilizar de alguns interesses dos estudantes, para ensiná-los.
Tendo como exemplo, uma criança que apresenta grande interesse por carros, podemos utilizar a imagem ou objetos que se relacionem para introduzir adição, subtração dentre outros, mas sempre com a intenção de ampliar esse panorama de interesses. Ainda utilizando o exemplo de carros, pode-se partir desses objetos, para aos poucos trazer assuntos como: estradas, cidades, globalização, dentre outros, aumentando essa visão gradativamente.
Também precisamos falar da matriz curricular, a qual apresenta a estruturação dos conteúdos formalmente transmitidos na escola regular e que deverão ser apresentados a todos os estudantes, independentemente de suas dificuldades, porém, é válido lembrar que há maneiras diversas para o fornecimento de tal conteúdo e de sua avalição, e é sempre bom termos em mente, que não devemos comparar um educando com outro, uma vez que cada um apresentará ritmo e forma de aprendizagem diferenciada, apesar de também apresentar TEA.
Além disso, existem outros pontos que necessitam de atenção:
- Quando o estudante apresentar muito comprometimento cognitivo será necessário que o professor visualize no conteúdo proposto para a sala, o que poderia ser extraído deste, para a compreensão do educando com TEA, após adequação.
- Frente a este comprometimento, as atividades e avaliações precisarão de referência concreta como: alfabetos móveis, palitos ou tampas para adição e subtração, dentre outros materiais. As Ilustrações nesses casos, preferencialmente, não devem ser utilizadas, mas sim, fotografias ou imagens com boa resolução;
- Atenção para a quantidade de estímulos, muitas imagens ou cores, ao invés de reter a atenção do educando, poderão trazer como consequência, o desvio atencional ou até mesmo irritabilidade;
- Nas atividades, assim como avaliações, deve-se preservar a idade cronológica do estudante. Como exemplo, se o estudante é um adolescente de 15 anos, sua atividade deverá ser adequada de acordo com esta fase, ou seja, sem imagens infantilizadas, como borboletinhas ou ursinhos, porém com figuras que estejam aproximadas de sua realidade, extraídas de revistas, livros didáticos em desuso, dentre outros recursos visuais.
- Precisamos dar preferência a exemplificações que façam parte da vivência do estudante, como por exemplo, será inviável a exemplificação ortográfica da palavra “concha” ou “cartucho”, se o estudante nunca vivenciou situações que pudessem referenciar em sua memória, a identificação desses exemplos.
- Devemos utilizar, quando possível, experiências científicas, maquetes, dentre outros recursos que possam se aproximar da prática de alguns conteúdos, pois isso trará mais interesse e significado para a aprendizagem de estudantes com ou sem deficiência intelectual associada.
- É necessário tomar cuidado com a quantidade de atividades. É natural estarmos ansiosos com as evoluções pedagógicas, mas precisaremos começar aos poucos, ou seja, deveremos respeitar o tempo de cada estudante, que não se trata do mesmo que o nosso, nesse aspecto o menos é mais;
- Os enunciados de cada avalição necessitarão ser muito claros e, é preciso inclusive verificar se o estudante não apresenta alguma dificuldade de leitura, no que se refere a sua visão, pois em alguns casos, será necessário o aumento da fonte e espaçamento.
- Para fechar esse tópico, precisamos nos lembrar de que é sempre bom elogiar o estudante, afinal, todos nós gostamos de reconhecimento. Devemos apresentar sim, suas incorreções, mas em seguida, precisamos destacar suas evoluções, mesmo que, se em sua percepção, estas se pareçam tão pequenas. Lembre-se: cada minúsculo fator poderá significar muito, principalmente para sujeitos que encontram diversas dificuldades e que são cercados pelas expectativas de muitos.
FONTE:
Cartilha transtorno do espectro autista [recurso eletrônico] / Paola Gianotto Braga, Stéfani Quevedo de Meneses dos Santos e Adriana A. Burato Marques Buytendorp. Campo Grande, MS: Secretaria de Estado de Educação do Mato Grosso do Sul – SED/MS, 2019. 28 p. 13,5 MB; e-Book – PDF