Caracteriza-se pela ansiedade excessiva diante de situações que envolvem o afastamento da criança da casa, dos pais ou outras pessoas significativas. Deve persistir por no mínimo quatro meses para ser diagnosticada como transtorno de ansiedade de separação. Pode aparecer após a ocorrência de algum estresse ou violência.
O dia-a-dia de Nádia com sua mãe (8 anos)
Às vezes Nádia incomoda. Eu estou num lugar, ela está atrás… Esses tempos atrás, eu falei assim: Nádia, senta ali que eu estou lavando roupa. Senta ali que eu estou lavando roupa. Aí eu vim entregar um relógio para o meu primo, do jeito que eu vim saindo ela veio entrando. Ela me deu um tombo, que eu fiquei uns vinte minutos desacordada. Do tombo que ela me deu na cozinha. Então às vezes, até me atrapalha. Às vezes eu estou na pia fazendo alguma coisa, quando eu vou ver ela está vindo e eu não estou vendo. Aí eu vou e pum! Deixo um copo cair no chão… Ela está sempre perto de mim. O tempo inteiro Nádia perto de mim. Se eu for num banheiro, Nádia entra junto no banheiro comigo. Se eu for no quarto, Nádia entra no quarto comigo. Se eu for na cozinha, ela está junto comigo. Eu…- Vai sentar! – Não! Não mãe deixa eu te ajudar? Você quer que eu lave um arroz? Você quer que eu faça isso? Entendeu? É o tempo inteiro Nádia perto de mim. É vinte e quatro horas por dia, Nádia perto de mim. Quer dizer, ela não vive sem mim. Quando eu tenho que sair… às vezes assim, quando eu não posso levar ela, aí ela fica triste, aí chora daqui, chora dali.[…]
Mãe de Nádia, 8 anos, sintomas de ansiedade e de TEPT, testemunhou violência policial sobre o pai e violência entre pais
É um dos transtornos ansiosos mais comuns na infância. É diagnosticado na infância ou na adolescência, com início antes dos 18 anos, podendo continuar pela vida adulta. Dados internacionais informam que atinge 4% de crianças e jovens, mas costuma ser mais comum na infância (Castillo et al., 2000).
Estudos mostram que crianças com ansiedade de separação apresentam, na vida adulta, outros transtornos de ansiedade, em especial o transtorno do pânico (Manfro et al., 2002). Crianças com ansiedade de separação, quando afastadas das pessoas com quem têm vínculo, temem nunca mais reencontrá-las.
Costumam expressar o medo de que possam acontecer doenças, acidentes ou acontecimentos ruins consigo próprias ou com seus entes queridos. É comum ocorrer o comportamento de andar “como uma sombra”, seguindo um dos pais pelos cômodos da casa ou exigir a companhia deles para ir de um lugar a outro de sua residência.
A criança também pode querer dormir sempre na presença de alguém, querer dormir na cama dos pais ou, durante a noite, ir para cama deles. Quando a porta estiver fechada, pode até mesmo dormir junto à porta. Pode também ocorrer sintomas físicos diante de situações em que há possibilidade de afastamento da criança de casa ou de familiares significativos, ou onde haja o real afastamento.
Entre essas queixas somáticas estão: dor de cabeça, dor abdominal, tontura, sensação de desmaio, náuseas e vômitos. Porém, entre crianças, nem sempre as preocupações são acompanhadas de sintomas físicos.
REFERÊNCIAS:
Assis, Simone Gonçalves de Ansiedade em crianças: um olhar sobre transtornos de ansiedade e violências na infância / Simone Gonçalves de Assis; Liana Furtado Ximenes; Joviana Quintes Avanci; Renata Pires Pesce. — Rio de Janeiro: FIOCRUZ/ENSP/CLAVES/CNPq, 2007. 88p. (Série Violência e Saúde Mental Infanto-Juvenil)