AS HIPÓTESES DE ESCRITA
Conforme a teoria da psicogênese da escrita, elaborada por Ferreiro e Teberosky (1986), os alunos passam por quatro períodos nos quais têm diferentes hipóteses ou explicações para como a escrita alfabética funciona: pré-silábico, silábico, silábico-alfabético e alfabético.
No nível pré-silábico, a criança não compreende a correspondência entre a escrita e os sons das palavras, mas elabora diversas hipóteses, utilizando, simultaneamente, desenhos e outros sinais gráficos. Suas hipóteses podem apresentar o realismo nominal – pensar que coisas grandes, como CASA, seriam escritas com muitas letras, e coisas pequenas, como FORMIGA, seriam escritas com poucas letras.
Nesse nível, a criança cria duas hipóteses:
- A hipótese de quantidade mínima, segundo a qual é preciso ter no mínimo 3 (ou 2) letras para que algo possa ser lido;
- A hipótese de variedade, ao descobrir que, para escrever palavras diferentes, é preciso variar a quantidade e a ordem das letras que se usa, assim como o próprio repertório de letras que coloca no papel. Desse modo, a criança passa a conceber que, no interior de uma palavra, as letras têm que variar.
No nível silábico, a criança descobre que a escrita está relacionada com as partes orais que pronuncia ao falar as palavras. O aluno supõe que apenas uma letra pode representar as sílabas graficamente, podendo ou não ter o valor sonoro convencional. Tais escritas podem ser de dois tipos:
- Silábicas quantitativas ou “sem valor sonoro”, nas quais a criança tende a colocar uma letra para cada sílaba pronunciada, mas, na maior parte das vezes, usar letras que não correspondem a segmentos das sílabas orais da palavra escrita;
- Silábicas qualitativas ou “com valor sonoro”, nas quais a criança se preocupa em colocar não só uma letra para cada sílaba da palavra que está escrevendo, mas também letras que correspondem a sons contidos nas sílabas orais daquela palavra, sendo comum colocar vogais.
Em alguns casos, elas também podem colocar consoantes, como P T K para peteca. No nível silábico-alfabético, a criança aprimora seu entendimento sobre a correspondência entre os sons e a escrita das palavras. Ao escrever uma palavra, ora a criança associa a letra a cada fonema da sílaba, ora volta a pensar conforme a hipótese silábica e usa apenas uma letra para uma sílaba inteira. Certas letras (como B, C, D, G, K, P, Q, T, V, Z), cujos nomes correspondem a sílabas CV (consoante – vogal), tendem a aparecer substituindo sílabas inteiras na escrita. Assim, encontramos por exemplo BLEZA para BELEZA.
No nível alfabético, as crianças começam a compreender o princípio alfabético, percebendo unidades sonoras menores do que as sílabas, os fonemas, e, gradualmente, dominam suas correspondências com os grafemas (letras).
No entanto, ainda podem representar sílabas completas como representações parciais da sílaba por uma só letra. Cabe destacar, ainda, que o fato de ter alcançado uma hipótese alfabética não é sinônimo de estar alfabetizado. Se já compreendeu como o Substituir por: Sistema de Escrita Alfabética (SEA) funciona, a criança tem agora que dominar as convenções som-grafia de nossa língua.
Fonte:
Educa juntos : língua portuguesa / Secretaria de Estado da Educação e do Esporte. – Curitiba : SEED – PR, 2021. – 286 p. Caderno de orientações didáticas para o professor ; segundo ano).