Quem não gosta de música?

Para pensar e conhecer um pouco sobre a história da música e como essa arte se desenvolveu, começaremos citando um trecho da letra de um samba de 1940 de Dorival Caymmi, “… quem não gosta de samba bom sujeito não é, é ruim da cabeça ou doente do pé”. E por falar em samba, quem já não viu uma rodinha de samba? Você lembra que instrumentos são usados nelas? Normalmente um violão, um cavaquinho, um pandeiro e até a famosa caixinha de fósforos! Para fazer sons vale de tudo! De pianos de cauda a buzinas de caminhão, há um bom tempo o ser humano busca no seu corpo e à sua volta elementos que fazem sons para criar sua música. Vamos ver um pouquinho dessa história!

Quem não gosta de música?

Pré-história: a pré-escola da música

Nossos antepassados sempre utilizavam os sons no seu cotidiano, provavelmente faziam isso mesmo antes de terem a capacidade de falar. Acreditavam que os sons eram um elo entre o mundo real (visível) e o mundo sobrenatural (invisível), isto é, um elo entre os homens e os deuses.

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A partir do Neolítico, quando os homens passaram de caçadores nômades a agricultores fixos, começaram também a perceber as alterações que ocorriam no mundo ao seu redor, como as mudanças das estações do ano, as fases da lua, e é claro, os sons. Aliás, acredita-se que os primeiros vocábulos com significado surgiram por meio de imitação de sons da natureza. Nessa perspectiva, os primeiros “músicos” podem ser identificados na figura do feiticeiro que, a partir dos sons e da dança, buscava atingir o mundo dos espíritos e prever bons ou maus presságios para a tribo.

Além disso, os sons também passaram a ser um importante elemento potencializador do trabalho coletivo. Esses sons coletivos, produzidos antes de batalhas ou em obras que demandavam a força de vários braços, foram importantes para nosso desenvolvimento. (Fischer, 1987) Canções folclóricas de trabalho existem até hoje. Como exemplos temos a cantoria das lavadeiras de roupas pelos rios do Brasil ou o canto dos colhedores negros de algodão nos EUA, que acabou contribuindo para o surgimento de estilos musicais como o Blues, e consequentemente, o Jazz.

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Classificação das músicas

Quem não gosta de música?Podemos classificar as músicas de muitas formas, uma delas é dividindo-as em três modalidades:

a) Música instrumental, que como o nome diz, é executada apenas por instrumentos musicais.

b) Música vocal, também chamada de “a capella” devido à sua ampla utilização pela igreja, é executada apenas por vozes.

c) Música mista é a que estamos mais acostumados a escutar.

Nelas são utilizados instrumentos e vozes. As músicas que você mais gosta e costuma ouvir são instrumentais, vocais a capela ou mistas?

Ferramentas sonoras

Os instrumentos musicais também acompanham o homem há milhares de anos. Na Pré-história, acredita-se que os primeiros instrumentos eram, em sua maioria, de percussão. No final da Pré-história, diferentes povos criaram instrumentos com notas musicais definidas e, para isso, os chineses usaram flautas. Na Mesopotâmia há registros de “liras” há 3.000 a.C. e no Egito, o grande número de registros visuais demonstra que a música instrumental desempenhava importante papel político, religioso e militar.

A música começa, então, a se definir de forma semelhante a que conhecemos hoje em dia. No Ocidente, no século V a.C., o filósofo e matemático grego Pitágoras percebeu que se esticarmos uma corda e a tocarmos, ela soará uma nota “fundamental”, um Dó, por exemplo. Se prendermos a mesma corda na metade do seu comprimento, também teremos um Dó, porém mais agudo.

Pitágoras também notou que se mudarmos o lugar em que a corda é pressionada obteremos as notas musicais da escala ocidental; dó, ré, mi, fá, sol, lá, si.

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A) Ao tocarmos a corda esticada teremos a nota fundamental, nela existem as outras notas, que não percebemos.

B) Se prendemos a corda ao meio teremos a mesma nota solta só que mais aguda.

C) Mudando os lugares onde a corda é pressionada teremos as outras notas. Essas características matemáticas e harmônicas dos sons foram descobertas por meio de um instrumento chamado “monocórdio”.

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Para os seguidores de Pitágoras todas as coisas do universo se originavam dos números. Por isso, relacionaram também a escala musical com a astronomia, criando a ideia da “música das esferas”, na qual cada nota musical corresponderia a um dos sete astros por eles conhecidos: Lua, Sol, Vênus, Mercúrio, Marte, Júpiter e Saturno. Consequentemente, todos os planetas criariam uma música que refletiria a própria ordem cósmica. Essas ideias perduraram no Ocidente até o fim da Idade Média. “Com os pitagóricos, o pensamento humano realizou um passo decisivo: o mundo deixou de ser dominado por obscuras e indecifráveis forças, tornando-se número, que expressa ordem, racionalidade e verdade”. (Reale e Antiseri, 2003) A organização das notas musicais possibilitou a criação das escalas musicais ou dos “modos”. Para os gregos, esses modos eram capazes de transmitir diferentes “estados de espírito”, virilidade, sensualidade, êxtase e outros.

Chamavam esses significados culturais de Ethos. Ainda na Grécia, a música estava sempre ligada à dança e à poesia e praticamente nunca se apresentavam separadas. O ritmo das palavras da poesia tinha estreita relação com o ritmo da música e da dança, e todas eram usadas na educação e na formação moral dos jovens. A música era de extrema importância no mundo antigo, uma forma de socialização rica, dotada de significados e usada com diferentes objetivos. Quase todos os povos criaram escalas musicais, estas, por motivos culturais, foram organizadas de diferentes formas. Chineses, árabes, africanos entre outros, desenvolveram escalas diferentes das nossas.

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Os novos horizontes da música do Ocidente

As bases estruturantes da música ocidental como conhecemos hoje começaram a se formar na igreja católica da Idade Média, entre os séculos VII e XV d.C. Isso ocorreu porque na igreja a música era uma importante disciplina de estudo e fazia parte dos rituais religiosos. Aproximadamente no século VI d.C, surge o canto gregoriano ou “cantochão”. Ele mantinha características da música antiga, pois, além de usar os modos gregos era “monódica”, isto é, uma música com uma única melodia, repetida em uníssono por todas as vozes.

Paralelamente, a nobreza e o povo, na figura dos trovadores, continuaram a realizar sua música folclórica profana, que levou esse nome por não ser religiosa. Essa música, livre das regras da igreja, acabou gerando o princípio da polifonia, que corresponde a músicas que apresentam melodias diferentes tocadas simultaneamente, por exemplo, enquanto as vozes cantam uma melodia, os instrumentos executam outra. A música da igreja, durante os séculos seguintes passa a sofrer influência dessa música profana, realizando Corais Polifônicos e utilizando instrumentos como o órgão. Os instrumentos de percussão, no entanto, continuaram banidos da igreja por lembrarem os rituais pagãos.

A,B,C da Música

Os gregos e os chineses já haviam criado formas de notação musical, mas que não se fixaram nem se universalizaram. As partituras musicais como conhecemos hoje também começaram a nascer nos mosteiros da idade média. Primeiramente surgem os Neumas, símbolos usados para indicar vagamente à altura das notas que deveriam ser cantadas. No séc XI d.C, o monge católico Guido d’Arezzo criou a pauta de cinco linhas, na qual definiu as alturas das notas e os nomes de cada uma, tirando-as das frases iniciais de um hino a São João Batista. Nasciam, assim, os nomes das notas musicais que conhecemos: dó,ré, mi, fá, sol, lá e si.

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Renascimento musical

A maneira como o homem via o mundo se modificou no pensamento europeu do Renascimento, aproximadamente (1500-1600). O homem passou a ser o centro das atenções, ao contrário da alta Idade Média, na qual o poder da igreja pregava Deus como o centro do mundo. Além disso, outros acontecimentos ajudaram nessa mudança, como as descobertas marítimas da Europa que ampliaram o espaço geográfico conhecido, a reforma protestante iniciada por Lutero em 1517 na Alemanha, que propôs novas possibilidades para o cristianismo e a invenção dos tipos móveis por Gutenberg, em 1454, que ampliou o acesso das pessoas ao conhecimento. Todas essas mudanças acabaram contribuindo, em maior ou menor grau, para o desenvolvimento musical ocidental.

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A pintura e a música refletiram essas mudanças. A ampliação do espaço sonoro coincidiu com o desenvolvimento da perspectiva na pintura. A música, aos poucos, desenvolveu-se criando modificações no cantochão plano e monofônico, evoluindo para uma música de diferentes alturas (tonalidades). Essas mudanças retrataram o racionalismo de uma época em transformação (Medaglia p. 56 2003).

Instrumentos sonoros

Nesse período, também ocorreram pesquisas para a criação de novos instrumentos musicais. Surgiram os primeiros fabricantes de instrumentos, hoje chamados de luthiers, que fabricavam instrumentos que acabaram por originar nos violinos, além de violas de roda e instrumentos de metais como a sacabuxa, entre outros.

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Com isso, os compositores começaram a escrever músicas apenas para instrumentos, que até então serviam somente para acompanhar as vozes.

Barroco musical

Na música, o barroco ocorre entre os anos de 1600 – 1750. Nesse período os instrumentos continuam a se aprimorar e o mais célebre luthier dessa época foi Antonio Stradivari (1644-1737) que fabricou aproximadamente 1100 instrumentos, entre violinos, violoncelos e outros. Hoje existem cerca de 600 exemplares desse luthier catalogados. O valor de um “Stradivarius”, como são conhecidos, atinge mais de 5 milhões de euros, por isso esses instrumentos são alvo de roubos e estórias incríveis.

Muitos desses instrumentos possuem nomes, entre eles o “Messias” e o “Troppo Rosso”. Existe um filme canadense de 1998 muito interessante, que narra a trajetória de um velho instrumento musical e chama-se “O Violino Vermelho”. Vale a pena conferir! Foi no barroco que a ópera começou a definir sua estrutura e o surgimento das aberturas (trecho inicial da ópera executado só pela orquestra), acabou valorizando a música instrumental, que definitivamente se libertará do domínio da voz no classicismo.

Outro nome importante desse período foi o do alemão Johann Sebastian Bach (1685 – 1750), que além de compor obras geniais, como “Tocata e Fuga” e “Jesus Alegria dos Homens”, propôs novas formas de organização e de afinação dos instrumentos. No barroco ocorre, também, a construção de grandes teatros para apresentações de concertos musicais e torna-se hábito a cobrança de ingressos de uma burguesia ávida por música, fato que inaugurou o mercado musical. Essas inovações culminariam no período do Classicismo, da música Ocidental, no qual Mozart e Beethoven foram os nomes mais representativos.

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“A música começa onde acabam as palavras”

Essa frase do escritor romântico E. Hoffmann (1776 – 1822) reflete uma característica da música do Classicismo, período que ocorreu aproximadamente entre 1750 e 1827. Você já notou que nas sinfonias existem momentos em que os músicos param de tocar? É que elas são formadas por diferentes movimentos, que são as diversas partes da composição. Não é aconselhável bater palmas nesses intervalos, pois isso pode desconcentrar os músicos. Assim como numa redação, em uma sinfonia existe um começo um meio e um fim, por meio dos quais o compositor realiza o seu “discurso musical”.

O principal modelo desse discurso é a “forma sonata”, definida no Classicismo. Nela existe um tema principal que será, muitas vezes, esquecido e relembrado. Isso ocorre a partir do passeio musical do tema pelas diferentes tonalidades, criando-se assim momentos de tensões e de relaxamentos. Finalmente, volta-se ao tema principal de maneira mais dinâmica e o compositor conclui o seu discurso. No Classicismo, a música instrumental foi muito valorizada e os músicos buscaram libertar sua Arte de qualquer relação com um texto, seja ele poético, mitológico ou filosófico.

Os Últimos Românticos

As principais características da música romântica (1827 – 1911) foram a liberdade de criação e o nacionalismo, este último, intensificado na Europa depois das guerras contra Napoleão. O italiano Giuseppe Verdi (1813 – 1901) deu nova vida às óperas e influenciado por ele, o brasileiro Carlos Gomes fez sucesso na Europa com a ópera “O Guarani”, título homônimo do livro de José de Alencar. O Romantismo com certeza é o período da música erudita em que um grande número de músicos ficaram conhecidos: Tchaikovsky, Brahms, Liszt, Wagner e Chopin, entre outros.

A nova música do século passado

No início do século XX d.C o mundo passava por grandes conflitos. A teoria da psicanálise de Freud influenciava as artes, as revoluções e conflitos políticos criavam tensões sociais que culminariam em duas guerras mundiais e, nesse contexto turbulento, os músicos do Romantismo davam sinais de querer se libertar das formas estabelecidas pelos clássicos.

Debussy (1862 – 1918), influenciado pela pintura impressionista, busca uma música que possa transmitir imagens ao ouvinte. Em 1905, compõe “La Mer” (O Mar), obra na qual usa de forma inovadora o timbre dos instrumentos e harmonias dissonantes para demonstrar, por meio dos sons, a impressão do mar e seus movimentos. Em 1913, o compositor russo Igor Stravinsky apresentou “Sagração da primavera”. Os sons que usa simultaneamente (harmonia) e a maneira como explora os instrumentos chocou a plateia parisiense.

Durante sua carreira, criou elaboradas formas rítmicas e harmônicas e a estranheza inicial de suas obras foi esquecida com o tempo pelo público e pela crítica, que acabou consagrando Stravinsky como grande músico do século XX. No Brasil, não podemos deixar de destacar Heitor Villa-Lobos (1887- 1959), representante da música na Semana de Arte Moderna de 1922, que viajou pelo interior do país pesquisando o folclore musical brasileiro e uniu o chorinho e a obra de Bach na composição “Bachianas Brasileiras”. Foi o músico erudito de maior destaque fora e dentro do Brasil.

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Arnold Shöemberg (1874-1951), foi outro músico do século XX que inovou criando novas formas de composição. Ele inventou o sistema dodecafônico, que consiste em se utilizar as doze notas da escala cromática (tons e semitons), fazendo com que nenhuma nota tenha mais importância do que a outra. Mesmo parecendo uma música estranha aos ouvidos desacostumados, ela marcou profundamente o século XX.

Outro nome que buscou inovar as possibilidades expressivas do som é o americano John Cage (1912 – 1992) que durante décadas utilizou na música ruídos, silêncios e sons aleatórios, isto é, sons escolhidos no momento da execução e que não haviam sido pensados anteriormente.

Quem não gosta de música?

Com a evolução da eletrônica e dos sintetizadores, Stockhausen propõe uma música totalmente mecânica, sem intervenção de músicos e monta na Alemanha o primeiro estúdio de música eletrônica em 1950, que dará origem à música eletroacústica. Todos os avanços tecnológicos, como o surgimento do sintetizador, instrumento eletrônico que pode imitar os mais variados timbres, além do “sampler” e dos inúmeros efeitos possíveis na música eletrônica pelos atuais DJ’s dão à nossa época uma variedade imensa de possibilidades sonoras.

Trovadores do século XXI

Com a ampliação dos meios de comunicação e de reprodução sonora, a música se populariza, passando das restritas salas de concerto para a casa das pessoas. A “música mista” e popular passa a ser a mais produzida e apreciada. O acesso das pessoas aos instrumentos e o ensino musical nas escolas se intensificam. A música do povo, ignorada pela burguesia na Europa até o fim do século XIV, passa a ser consumida por trabalhadores remunerados. Além disso, nas Américas, o encontro das culturas dos negros, índios e brancos criou um campo fértil para o sincretismo cultural de suas músicas e danças.

Nos anos 60 do século XX, os jovens começam a se interessar pelo Oriente. Grupos como os Beatles, Led Zepplin e músicos como Ravi Shankar ajudam a popularização da música indiana e oriental, misturando-as no caldeirão cultural de nosso tempo. O aprimoramento tecnológico possibilitou a existência de apresentações para milhares de pessoas, coisa que não era possível antes dos anos 70 do século XX abrindo um campo de trabalho para milhares de pessoas. O Jazz transforma-se utilizando inovações da música erudita moderna, a música eletrônica se desenvolveu nos computadores pessoais e nas mesas e efeitos dos DJ’s. Cada vez mais a música se renova e se modifica.

Quem não gosta de música?

Dizem que a música pode acalmar os mais ferozes animais, talvez ela faça mais do que isso, tranquiliza e provoca, há milênios, as feras que existem dentro dos homens.

REFERÊNCIAS:

Arte / vários autores. – Curitiba: SEED-PR, 2006. – 336 p


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