A idade de entrada na escola, em quase todos os países, é dos seis a sete anos, quando a criança, de acordo com as etapas do desenvolvimento, torna-se capaz de reconhecer uma letra que combinando com outras, pode formar sílabas e palavras. Da mesma forma, também é capaz de compreender operações da matem ática. Em termos sociais, ela agora deixa de ser função unicamente do grupo familiar e passa a ser uma unidade em condições de entrar em diferentes grupos.
Essa fase é, portanto de extrema importância para o desenvolvimento intelectual e social, mas é preciso ressaltar a ligação existente desses aspectos, com o desenvolvimento da personalidade. Assim, podemos dizer que o aprendizado escolar da criança poderia ser favorecido se todos os educadores envolvidos no processo desenvolvessem, ao mesmo tempo o intelectual e as aptidões sociais. A escola passa a se constituir como um grande grupo que abriga diversos grupos menores.
“O grupo é indispensável à criança não só para a sua aprendizagem social, mas para o desenvolvimento da sua personalidade” (Wallon).
Sendo o grupo tão fundamental para o desenvolvimento da criança, é preciso que você, como educador e participante do grupo, possa intervir favorecendo essa forma de socialização, incentivando a cooperação, o espírito de solidariedade e de mútua interação, em lugar de desenvolver o espírito de concorrência e de conflito coletivo.
Não se esqueça de anotar no seu memorial as respostas que você vai encontrando ao ler estas perguntas. Anote sempre o que vier de imediato a sua cabeça, depois releia e se for o caso escreva de novo. Algumas teorias na psicologia entendem que ao aprender os conteúdos formais das disciplinas, a pessoa vai se constituindo na sua personalidade também. Para essas teorias, a personalidade significa a maneira habitual ou constante de reagir, de cada indivíduo que se constrói progressivamente segundo um ciclo de alternância de duas funções principais: a afetiva e a inteligência.
A personalidade representa a integração de um componente afetivo, o caráter, e de um componente cognitivo, a inteligência. A cada etapa do seu desenvolvimento, a pessoa reage às situações de acordo com suas condições emocionais e suas possibilidades intelectuais.
A aprendizagem de coisas diferentes faz surgir nos alunos necessidades novas e outras atitudes. Sendo assim, é importante reconhecermos no aluno a possibilidade de mudança da sua maneira de ser, a partir do seu aprendizado escolar. Portanto, a escola é vista, por essas teorias, como sendo um espaço de construção da personalidade.
“O desenvolvimento da inteligência está ligado ao desenvolvimento de sua personalidade” (Wallon).
Podemos fazer uma reflexão sobre isso se pensarmos, por exemplo como agíamos de modo diferente quando éramos pequenos e passamos a ver as coisas de outra maneira ao aprendermos como os fatos acontecem. Antes de aprender a falar, a comunicação se dá pelo choro ou pelo riso. Depois que aprendemos a usar a linguagem, passamos a comunicar sentimentos, desejos e a transmitir informações por meio da fala.
Quando somos pequenos temos alguns medos que nos imobilizam. À medida que adquirimos conhecimento, passamos a entender o porquê de alguns acontecimentos e deixamos de ter medo. Às vezes, utilizamos histórias de “bicho papão” para amedrontar as crianças e depois quando elas aprendem que os “bichos papões” são nossas invenções, elas riem dessas histórias. Na escola, muitas vezes, os educadores querem impor o respeito pelo medo.
Isso pode funcionar com as crianças pequenas, mas à medida que elas crescem e aprendem a relacionar-se de outra maneira, isso não funciona mais. É justamente por isso que é preciso que nós educadores utilizemos o espaço da escola para a formação da personalidade dos nossos alunos. Para tal, é preciso que as relações entre todos sejam de diálogo e que permitam o entendimento da necessidade de haver respeito e façam sentido no dia-a-dia de todos os envolvidos.
Uma das dificuldades da escola é fazer que o aluno tenha interesse nas atividades propostas pelos professores, pois que, muitas vezes, elas não fazem sentido de imediato. Pedir atenção dos alunos para as tarefas da escola é exigir um esforço abstrato que os fatiga excessivamente. Os educadores, portanto, devem procurar descobrir atividades e situações que toquem de perto o aluno, promovendo seu interesse, que é a grande força da atenção.
Um outro aspecto de controvérsia em relação ao ensino e aos interesses, às curiosidades e às iniciativas dos alunos, diz respeito à disciplina. Tradicionalmente, disciplina significa obter a tranquilidade, o silêncio e a passividade dos alunos, para que eles não se distraiam dos exercícios e das regras propostos pela escola. Mais adiante trataremos especificamente dessa questão.
A Formação Pessoal do Educador
Nosso objetivo nesta seção é refletir a formação do educador no que diz respeito à sua pessoa. Então vamos conversar um pouco antes de começarmos. Você certamente irá concordar comigo que o que você é hoje, com a sua idade e tudo que faz é bem diferente de quando tinha mais ou menos dois anos de idade, certo? Naturalmente que você se desenvolveu e aprendeu muito nos anos que passaram, até os dias de hoje. Você mudou, não é mesmo?
Pois bem, todos nós somos o que fomos e o que ainda vamos ser, sabendo o que somos agora. Se concordarmos com isso, podemos acreditar que somos seres em constante processo de mudança. Às vezes não é fácil admitirmos que estamos sempre mudando, mas se fizermos um esforço e pensarmos no que éramos há uns cinco anos, poderemos ver que algo em nós mudou.
“O importante e bonito do mundo é isso: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas, mas que elas vão sempre mudando” (Guimarães Rosa).
Esse curso tem exatamente como meta permitir a formação de um novo educador, portanto provocar mudanças. Estamos pensando a pessoa do educador em processo de formação, pois entendemos que além das exigências de conhecimento da psicologia, é importante uma formação psicológica no que se refere à pessoa do educador. Isso significa a necessidade de discutirmos como se dá esse processo, principalmente em relação ao desenvolvimento da sua personalidade.
A natureza do homem não existe “pronta e definida”. Ela consiste na sua atividade vital, no seu trabalho. A natureza psicológica da pessoa é o conjunto das relações sociais que se tornam funções da personalidade e das formas da sua estrutura criadas no coletivo. A personalidade é algo mutável e deve ser considerada no seu devir e no seu desenvolvimento, como um processo de transformações.
A personalidade é uma categoria que, como muitas outras, revela as contradições dentro do campo da psicologia. A ideia de pessoa, de um “eu”, para a história da humanidade é considerada recente. Na antiguidade, por exemplo, os escravos não tinham direitos, pois eram vistos como seres que não tinham personalidade, nem corpo, nem antepassados, nem nome, nem bens próprios.
Os livros de psicologia sobre personalidade trazem diferentes abordagens sobre o tema e mostram não haver uma definição de consenso entre todos os psicólogos. Há cerca de cinquenta definições de personalidade. Às vezes, ela é defini – da pela sua importância social e em outras pela impressão positiva ou negativa que o indivíduo causa em outras pessoas: personalidade agressiva, passiva, tímida etc.
Nas duas apresentações, encontramos um elemento de valoração da personalidade como boa ou m á. Diz-se até que uma pessoa tem ou não personalidade. Em algumas ocasiões, chegamos a dizer que um aluno apresenta problemas de personalidade, indicando com isso que ele não consegue manter relações satisfatórias com seus colegas e professores. A maioria das teorias atribui uma importância muito grande aos fatores hereditários.
Daí, o famoso dito: Filho de peixe, peixinho é. O biológico predomina nas teorias e a ênfase é dada aos fatores ocorridos nas fases da infância do desenvolvimento. O desenvolvimento da personalidade do adulto não foi destaque na psicologia por v árias décadas. A concepção dominante, nas teorias e no senso comum, é a de que após o período de turbulência da adolescência, nada de novo acontece no desenvolvimento do adulto.
Com o fim da escolarização, com a entrada no mercado de trabalho e a constituição de uma nova família, só resta ao adulto esperar o inevitável fim da vida com a morte. A ideia aqui apresentada de personalidade leva em consideração um sujeito ativo em suas ações que se apoia em sua personalidade para exercer essas ações, ao mesmo tempo em que a partir da própria ação transforma sua personalidade.
Assim, o educador em sua formação, como profissional de educação, deve passar por experiências que faça sentido e que aumente seus recursos de personalidade para exercer suas funções, comprometendo-se a desenvolver características de personalidade para o desempenho da profissão. As relações interpessoais na escola são bastante complexas e muitas vezes a rotina das tarefas ali executadas não permitem uma reflexão das nossas ações.
Sendo assim, em v árias ocasiões não aproveitamos os recursos que temos para educarmos os nossos alunos e agimos de maneira impensada, cansando mais do que o necessário. O que é preciso para a prática de uma educação com res – peito mútuo entre todos os envolvidos no espaço escolar? Acreditamos que uma condição básica para isso é a de que o educador tenha conhecimento de suas próprias formas de pensar e agir, nas diferentes situações em que se encontra.
É preciso levar em consideração o desenvolvimento da sensibilidade frente aos educandos para poder compreender a complexidade das relações estabelecidas e, portanto, entender que não são passíveis de total controle. Assim, é importante que o educador esteja seguro da sua prática e de si mesmo, como profissional e adulto, para que, ao se sentir ameaçado, não ameace.
Só assim, poderá ser res – peitado naquilo que faz e ser reconhecido pelos outros. Acreditamos que devemos estar prontos para aprender sempre e poder ser ouvidos em relação as nossas dificuldades, desejos e expectativas no nosso cotidiano, para que a aprendizagem contínua constitua-se como instrumento constante de inovação e de melhoria da situação pessoal e coletiva dos educadores.
Título : Relações Interpessoais: abordagem psicológica
Autor : Regina Lúcia Sucupira Pedroza
Fonte Domínio Público: Brasil. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Relações interpessoais : abordagem psicológica / [Regina Lúcia Sucupira Pedroza]. – Brasília : Universidade de Brasília, Centro de Educação a Distância, 2006.
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