O que é paisagem sonora?

Como é a sua paisagem sonora?

Sua cidade é muito barulhenta? O número de pessoas falando juntas na sala de aula pode estar prejudicando você, seus colegas e o trabalho dos professores? E sua contribuição sonora é positiva ou negativa? Pense a respeito.

A cidade, o trabalho, o campo, enfim, todo ambiente, possui uma paisagem sonora (soundscape). Esse nome foi dado pelo artista, pesquisador e educador canadense Muray Shafer (2003). Para ele, nossos ouvidos são vulneráveis a uma grande variedade de ruídos e nosso cérebro demanda energia selecionando os sons que podem nos prejudicar. Profissionais de aeroportos e certos metalúrgicos, ficam expostos a mais de 85 decibéis durante o trabalho, por isso têm o direito de menor carga horária e de se aposentarem com menos tempo de serviço, por insalubridade.

Cada comunidade possui seus sons característicos, que podem ser de pássaros ou outros animais, máquinas, instrumentos musicais, sotaque das regiões, etc. Quando tiramos férias, por exemplo, podemos descansar também os nossos ouvidos, modificando a paisagem sonora de nosso dia-a-dia. Não é por coincidência, que em todo o mundo, pessoas em férias preferem ir onde existam sons naturais, como do mar, de rios, florestas, campos, etc. É claro que certas pessoas preferem ir a grandes cidades nas férias, mas, de qualquer forma, a mudança de paisagem sonora já provoca alterações na nossa forma de ouvir.

O que é paisagem sonora?

Você sabia que não é de hoje que a utilização de sons do cotidiano é fonte para a criação na vanguarda da música? No Brasil, Hermeto Pascoal e Tom Zé são exemplos de músicos que exploram a paisagem sonora usando em suas músicas sons de objetos do dia-a-dia.

O grupo paulista Barbatuques cria música sonorizando o próprio corpo, e no Rio de Janeiro existe um grupo de ciclistas e músicos, chamado Cyclophonica, que desenvolve suas músicas em instrumentos adaptados em bicicletas, apresentando-se em ciclovias da cidade e interferindo nos sons do ambiente.

Outro grupo muito famoso na utilização de sons e instrumentos musicais não-convencionais é o grupo UAKIT, de Minas Gerais. Seus integrantes confeccionam instrumentos musicais usando materiais diversos, como tubos de P.V.C, sandálias de borracha, arcos de pua e outros objetos do cotidiano. Vale a pena conferir!

Quem ouve, seus males espanta!

O som tem um poder que não imaginamos. Você já escutou aquele ditado “quem canta seus males espanta”? Parece óbvio, mas a música pode ir além disso. Uma importante forma de terapia que pode ser aliada da medicina, chama-se Musicoterapia, respaldada pelos estudos da Neurologia e da Psicologia. Essa forma de tratamento consegue bons resultados em pacientes com lesões no cérebro, crianças autistas, stress e no controle de dores crônicas.

Isso é música?

É muito complicado definir o que é música, vários pensadores já “queimaram a pestana” para isso. Para Shafer, o principal elemento da música está na intenção de quem a produz. Música pode ser encarada como uma organização intencional de sons, realizada de maneiras diferentes em cada contexto cultural.

A palavra música vem do grego mousikê e quer dizer “arte das musas”. Na mitologia, as musas eram deusas que simbolizavam as nove artes da Antiguidade Clássica. Filhas de Zeus e de Mnemosine, deusa da memória, viviam na companhia de Apolo. Na cultura greco-romana, os artistas invocavam a inspiração das musas antes de iniciar um trabalho artístico.

O que é paisagem sonora?O que é paisagem sonora?

Os dois quadros acima pertencem à Arte Barroca, apresentam características em comum, como o domínio da perspectiva, desenho da anatomia humana, além de terem a música como tema principal, porém, a maneira que foram pintadas apresenta as diferenças da Arte de países católicos e protestantes. O primeiro representa uma cena da mitologia clássica, com deuses pagãos e anjos, ou seja, uma imagem idealizada da música inspirada na cultura greco-romana. No segundo, o pintor representa uma imagem mais realista, uma típica cena do cotidiano de uma família, retratando de maneira fiel o rosto das pessoas e demostrando a importância que a música tinha na sociedade holandesa.

A forma invisível da música

Em todos os sons, musicais ou não, sempre existem alguns elementos constantes. São conhecidos como elementos formais, vamos conhecê-los?

Timbre

São as características próprias de cada voz, objeto ou instrumento. É o que nos permite reconhecer a voz de uma pessoa pelo telefone ou interfone, por exemplo. Isso ocorre devido às diferenças físicas da matéria de cada fonte sonora (objeto, instrumento ou voz). Na música, o timbre também é chamado de “cor do som”.

Intensidade

É a força de um som ou seu volume. Os sons podem ser denominados fracos, médios ou fortes, em comparação com outros. Na música, essas variações de força dos sons chama-se dinâmica e pode transmitir maior expressividade. Por exemplo, em um show popular, a plateia canta o refrão (parte mais conhecida da canção) com maior intensidade.

Altura

Apesar de no senso comum ser usada como sinônimo de intensidade, não tem nada a ver com volume. Em música, altura é a diferença entre os sons musicais. Cada nota musical possui altura definida; e as notas mais conhecidas da escala ocidental são: dó, ré, mi, fá, sol, lá, si. Quando assobiamos ou cantamos no chuveiro estamos usando essas diferentes alturas, que formam a melodia da música. É importante lembrar que existem instrumentos com alturas indefinidas. Quando batemos com um lápis num copo produzimos um som agudo de alta frequência; se batermos num sofá, produzimos um som mais grave, de baixa frequência.

Densidade

Quando um grande número de sons é produzido ao mesmo tempo, dizemos que é um som de grande densidade. Milhares de pessoas num jogo de futebol produzem um som denso, o número de torcedores pode influenciar no resultado do jogo, por isso, o time prefere sempre jogar em seu próprio campo. Na música, a densidade é conseguida por intermédio de vários instrumentos ou vozes executadas simultaneamente, como em uma orquestra, banda ou um coral.

Duração

Os sons e os silêncios podem ser curtos, médios ou longos, sempre se levando em conta um referencial, pois o que pode ser considerado lento atualmente não é o mesmo que era considerado lento há 200 anos, por exemplo. Um músico pode escolher entre sons mais longos para compor o ritmo de uma canção romântica ou durações mais rápidas em um heavy metal, por exemplo.

Cidade sonora

Imagine-se andando pelas ruas da cidade. Você começa a assobiar uma melodia (altura) de uma música que toca no rádio. Ela teima em ficar em sua cabeça. Aos poucos você começa a escutar numa loja essa mesma canção que vai ficando mais forte (intensidade). Percebe, então, que os seus passos parecem acompanhar o ritmo da música (duração), por mais que tente não consegue sair dele!

De repente, o som de uma grande pancada atrai sua atenção. Sirenes, pessoas gritando, confusão, diferentes sons (timbres). Felizmente ninguém se machucou…. Ao caminhar mais um pouco você vê uma passeata, na qual centenas de pessoas gritam juntas frases de protesto (densidade). Logo depois você encontra sua (seu) namorada (o) e ao conversarem um pouco ela (ele) canta baixinho, adivinha que música?

O que é paisagem sonora?

REFERÊNCIAS:

Arte / vários autores. – Curitiba: SEED-PR, 2006. – 336 p


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