É nesse momento da vida que a criança descobre que pode imaginar o que quiser e “viver” nesse mundo imaginário cheio de fantasias e muita emoção. Esse lúdico, carregado de sentimentos e emoções, é responsável por conectar ou integrar todos os aspectos que nos constituem como seres humanos, físicos, cognitivos, afetivos e sociais, possibilitando desta maneira que o brincar nos auxilie nos processos de aprendizagem.
Quando discutimos sobre a importância do lúdico na aprendizagem, inevitavelmente, fazemos uma relação com os estudos de Piaget e as fases de desenvolvimento, que em unidades passadas já estudamos: basicamente a sensório-motor (0-2 anos); pré-operatório (2 a 7 anos); operatório concreto (7 a 12 anos); e operatório formal (12 anos em diante). Pois bem, seguindo essas fases, para cada uma delas, a brincadeira ou o lúdico apresenta um importante papel para as construções seguinte.
Vejamos que um bebê, recém-nascido, ainda é muito sinestésico, sendo que nesse momento se trabalha muito as diferentes texturas para identificar através do toque. É importante, nessa fase, estimular as crianças a perceberem essas diferenças que o cercam, assim, com o passar do tempo ele vai desenvolvendo ainda mais os sentidos como a visão e audição, então, através dos brinquedos coloridos, das músicas e das brincadeiras.
A partir dos dois anos de idade, as crianças desenvolvem mais a imitação. Tendem a imitar aquelas atitudes à sua volta, por exemplo, alimentar uma boneca ou um urso assim como é feito com ela. Nesse momento, acontece o faz de conta, a criança dá vida às bonecas aos ursos, inicia-se, também, a fase dos porquês, nesse momento ela vai construindo seu próprio mundo.
Na terceira fase surge o pensamento lógico, e nesse momento, devemos primar por brincadeiras que atendam a esse desenvolvimento natural e consecutivo, por exemplo, utilizando brincadeiras mais elaboradas. O último período, ou operatório formal, é caracterizado como o ápice do desenvolvimento cognitivo, surge o pensamento hipotético-dedutivo e a criança, que logo entrará na fase de adolescência, consegue pensar o abstrato, o que antes se concentrava apenas no pensamento representativo.
Fazendo um paralelo com a teoria de Vygostky, a qual já estudamos em unidades anteriores, o lúdico atua na zona de desenvolvimento proximal das crianças, pois, quando a criança fantasia situações, são relacionadas com aquilo que ainda não pode fazer, mas que, mais tarde, terá condições de efetivar. Dessa forma, a criança, através do simbólico, está exprimindo seus desejos por meio do real. Uma importante função que essas fantasias elaboradas pelas crianças têm, em sua vida real, é de equilibrá-las emocionalmente e proporcionar autoafirmação. Para Antunes (2004, p.37).
O desenvolvimento da inteligência caminha célebre na educação infantil e também nos primeiros anos do ensino fundamental. Além das mudanças biológicas que se sucedem, o estímulo inefável de fazer novos amigos e o ambiente desafiador da sala de aula vai promovendo alterações marcantes. A inteligência sensório-motora salta do período de funções simbólicas – no qual a criança já se mostra plenamente capaz de separar e reunir – organizações representativas mais amplas e complexas. Outras inteligências desabrocham e permitem a assimilação das próprias ações. Entre quatro e cinco anos, a criança já revela capacidade de avaliar e enumerar o que há de comum e de diferente nos objetos com que tem contato no dia a dia e é praticamente “assaltada” por uma onda de mapeamentos espaciais e numéricos. Em pouco tempo, com uma rapidez que surpreende até mesmo os mestres mais experimentados, o mundo da criança, simbolizando por sua escola, passa a ser visto como um lugar em que se podem contar coisas. Nessa idade, as crianças querem contar tudo, das caretas de um desenho aos gestos diferenciados de uma dança.
Freud (1974) reflete sobre o brincar da criança e sinaliza que é “errado supor que a criança não leva esse mundo a sério; ao contrário, leva muito a sério sua brincadeira e despende na mesma muita emoção” (p.135) então, explorar essa brincadeira, aliando a aprendizagem, se transforma em uma prática pedagógica que pode ser utilizada nas mais diferentes idades. Pensar que, o brincar é um tempo perdido é desperdiçar todo o potencial que, esta ação, representa na construção do conhecimento dos pequeninos.
Sendo assim, a aprendizagem utilizando essa metodologia espontânea, divertida e recreativa pode gerar resultados mais positivos, os quais potencializam nas crianças as capacidades psicomotoras e a capacidade de se relacionar com o mundo em que vive, ordenando-o e incorporando valores e comportamentos.
Porém, com os avanços das tecnologias o brincar, para as crianças do século XXI, está se configurando de forma diferente daquelas crianças do século passado. E como isso impacta no desenvolvimento? Pois, as crianças da atualidade não utilizam tanto a imaginação para criar possibilidades, tudo vem pronto em formato miniatura, qual o papel da educação diante deste cenário? Na figura 31 podemos observar as crianças uma de costas para outra utilizando o computador.
De fato, com a utilização das tecnologias o afloramento da criatividade fica comprometido, pois, os jogos eletrônicos já vêm prontos, por outro lado o pensamento lógico pode ser mais trabalhado, mas devemos pensar sempre no todo que compõe o ser humano, biológico e social. Então, primar por brincadeiras que desenvolvam, também a coordenação motora, a habilidade sensorial e a resistência física são maneiras de utilizar o lúdico a favor dos processos de aprendizagem.
Podemos observar que o lúdico se enquadra de uma maneira principalmente multidisciplinar para a educação infantil. Não possibilitar, à criança, o direito de brincar pode acarretar em uma série de perturbações, impossibilitando inclusive novos conhecimentos e dificuldades de socialização com o outro. Pelo contrário, quando possibilitamos uma educação lúdica, estamos favorecendo o desenvolvimento de sua identidade e autonomia. Desta forma, o lúdico como estratégia pedagógica, torna a aprendizagem mais tranquila e prazerosa, permitindo alcançar diferentes níveis de desenvolvimento, cabe ao professor construir um ambiente que favoreça esses processos.
Observamos nessa subunidade que as atividades lúdicas fornecem uma evolução nas funções e habilidades psíquicas, por meio de jogos e brincadeiras, a criança aprende a controlar os impulsos próprios da idade, a respeitar as regras, a ter paciência, desenvolve também o pensamento lógico. E através de tentativas e erros aprendem a recomeçar, diminuindo assim, as pequenas frustrações a que somos submetidos diariamente. Pela brincadeira, reproduzir situações cotidianas também auxilia a criança aliviar as tensões.
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REFERÊNCIAS:
PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM / Silva, Juliane Paprosqui Marchi da, UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA, Santa Maria | RS 2017
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