O Jogo Como Função Social

Segundo Piaget (1971), a criança que joga desenvolve suas percepções, sua inteligência, suas tendências à experimentação, seus instintos sociais. Brincando e jogando, ela aplica seus esquemas mentais à realidade que a cerca. Jogar contribui para a formação intelectual da criança, para a construção do pensamento formal capaz de manipular o raciocínio. A criança, ao jogar, está construindo representações de si mesma, do outro e do mundo ao seu redor, ao mesmo tempo em que comportamentos e hábitos são revelados.

Por meio do jogo matemático há necessidade de experimentar, buscar novos caminhos, conviver com o diferente, ter confiança, raciocinar, descobrir, persistir e perseverar; aprender a perder percebendo que haverá novas oportunidades para ganhar. Essas situações fazem com que as crianças percebam que são integrantes de um grupo onde cada um dos membros deve ser respeitado e ouvido e que todos devem cumprir as regras estabelecidas.

O jogo de regras é importante para o desenvolvimento da autonomia moral. Para Piaget (1977, p. 21), “toda moral consiste num sistema de regras e a essência de toda moralidade deve ser procurada no respeito que o indivíduo adquire por essas regras”. Assim, a criança constrói as relações de parceria, de respeito, além da crítica frente aos demais jogadores. Percebemos na citação de Piaget que, além da aprendizagem dos conhecimentos matemáticos, o jogo possibilita as relações sociais nas quais cada integrante do grupo precisa cooperar e assumir suas responsabilidades com o sucesso ou o insucesso do que foi previamente combinado.

A relação com o outro permite que haja um avanço maior na organização do pensamento do que se cada criança estivesse jogando sozinha. Portanto, desde a Educação Infantil, o professor deve ter a preocupação com o desenvolvimento do pensamento matemático das crianças. O respeito às ideias de todos os componentes do grupo, a valorização e discussão do raciocínio, das soluções e dos questionamentos, é muito importante desde o início da construção do pensamento matemático.

CLASSIFICAÇÃO DOS JOGOS:

Os jogos foram classificados por Piaget em três grandes categorias:

Jogos de exercício:

A atividade lúdica surge através da manipulação dos objetos e pelo movimento que se constitui em repetições, tais como: agarrar algum objeto e levá-lo à boca, sacudir objetos, emitir sons, engatinhar, etc. A criança, muitas vezes, brinca sozinha com jogos de encaixes, montar torres, etc, sem a utilização da noção de regras.

Jogos simbólicos:

Quanto mais a criança trabalha com jogos simbólicos e materiais concretos em mãos, mais terá capacidade de assimilação. Utilizando a fantasia representa, faz invenções, tornando-se produtora de linguagens e criadora de convenções próprias.

Jogos de regras:

Estes jogos desenvolvem-se na infância e durante toda a vida da pessoa. Este período se caracteriza por jogos mais complexos e pelas regras estabelecidas pelo grupo. Tem um caráter competitivo, traduzido por um desafio. A interação social é muito importante neste momento da construção do pensamento.

A estratégia do trabalho em grupo na realização dos jogos propicia a troca de informações, criando o desenvolvimento da sociabilidade, da cooperação e o respeito à maneira de pensar dos colegas. Segundo Franco (1996), o jogo de regras compõe os campos afetivo, social e cognitivo.

No campo afetivo, a criança aprende a lidar com os ciúmes, a inveja e a frustração; no campo social aprende a conviver com os outros, a cooperar, a ser solidário, a pensar e agir juntamente com seus colegas; no campo cognitivo há necessidade constante de pensar, construir estratégias, errar e acertar.

Para o desenvolvimento dos campos citados por Franco é de suma importância que as regras do jogo sejam elaboradas pela turma. Numa produção de texto coletiva, as crianças decidem como será o jogo e o professor faz o registro no quadro ou em folha para fixar na sala ou no ambiente em que acontecerá o jogo.

O Jogo Como Função Social

DOMINÓ GIGANTE

Participantes – A turma ou pequenos grupos. Indicado para Educação Infantil e 1º ano.

Material – Papel-cartão/cartolina/sulfite 16 cm X 32 cm, dividida em duas partes. Uma para colagem de “bolinhas” e a outra para colagem de rótulos/figuras ou símbolos numéricos. O dominó é composto por 28 peças, podendo o professor dobrar a quantidade de peças conforme a quantidade de alunos.

Tópicos de aprendizado – Formas geométricas planas; números de 1 a 6; noções de proximidade: perto/longe, dentro/fora.

Desenvolvimento – Professor e alunos formam um círculo. Cada criança estará com uma ou duas peças (a critério do professor). Depois de determinadas regras, começa o jogo com o jogador que tem o carretão. Este coloca a peça no centro da roda.

Assim, sucessivamente, cada criança que tiver a peça que coincida com um dos extremos do dominó que está no chão, coloca a sua peça. Se na sua vez de jogar a criança não tiver a peça para colocar no centro, passa a vez. Nesse jogo não há um vencedor, podemos listar quem colocou a peça por primeiro, segundo,…. mas, no final, é a turma quem ganha se todos colocarem as suas peças.

Registro – No jogo do Dominó Gigante, a geometria se faz presente nas noções de espaço, direção e sentido, discriminação visual, memória visual. A produção do registro, em forma de desenho, revela as percepções geométricas que a criança desenvolveu durante o jogo.

PLANEJANDO COM OS JOGOS MATEMÁTICOS

Sabemos que os jogos são educativos e requerem um plano de ação que permita a aprendizagem de conceitos matemáticos. Por isso, devemos ocupar um horário dentro de nosso planejamento, de modo a explorar todo o potencial dos jogos, processos de solução, registros e discussões sobre possíveis caminhos que poderão surgir. Bem-planejados, os jogos são um recurso pedagógico eficaz para a construção do conhecimento. As autoras Smole, Diniz e Cândido (2007) orientam o professor na apresentação do jogo ao grupo.

  1. Apresentação do jogo aos alunos – Nesse momento, o professor deve despertar o interesse da turma no jogo, a necessidade de aprender, a vontade de jogar e o desafio para a superação de algum obstáculo. Os conceitos a serem trabalhados devem ser entendidos pelos alunos, pois estes darão base para a construção de novos conceitos.
  2. Organização da classe para jogar – Depois da apresentação do jogo, a escolha do grupo pode ser livre ou conforme critérios apresentados pelo professor e/ou alunos. Podemos organizar os grupos de modo que os alunos com mais facilidade fiquem com os que precisam avançar mais; ou formar grupos com semelhante compreensão do jogo para que o professor possa intervir no grupo dos jogadores que precisam mais de sua atenção, sem direcionar o raciocínio do aluno, incentivando-o a buscar soluções.
  3. O tempo de jogar – A organização deve ser feita pelo professor considerando o tempo de aprendizagem e do tempo de aula. O tempo de aprender exige que haja repetições, reflexões, discussões sobre as estratégias de cada criança ou de cada grupo e depois o registro. Quanto ao tempo de aula, o professor deve pensar na sua realidade e decidir com os alunos o tempo que vai utilizar para o jogo.

FONTE: Educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental : saberes e práticas

DOWNLOAD: Educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental : saberes e práticas / autores Catarina de Souza Moro [et al] / organizadores: Arleandra Cristina Talin do Amaral, Roseli Correia de Barros Casagrande, Viviane Chulek. – Curitiba : SEED–PR., 2012

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