A prática musical dentro da escola é discutida com frequência. As discussões baseiam-se em como trabalhar a música dentro do ambiente escolar proporcionando o desenvolvimento do educando de forma integral abrangendo a interdisciplinaridade.
Retomando o início desta pesquisa, citamos alguns motivos pelas quais a música não é trabalhada dentro da escola. São inúmeras teorias e pesquisas que abordam a questão do que é necessário para que a prática dentro da escola aconteça. Mas afinal, o que é necessário para a prática musical dentro da escola?
Como vimos anteriormente, em “música e o currículo”, fica claro a escassez na área de formação de professores habilitados para a prática musical dentro da escola. Contudo, à habilitação na arte é exigida a partir do ensino fundamental, o que nos leva a refletir qual a causa da música não ser executada na Educação Infantil. Pois sendo a música integrante das linguagens artísticas, deveria ser trabalhada desde os primeiros anos e no ensino Fundamental I. Ser abordada como integrante das demais expressões artísticas por um professor especialista em Arte.
Retoma-se a questão em que Ponso (2008)
Fala a respeito dos professores que na maioria das vezes acreditam que para trabalhar a música é necessário o conhecimento teórico e prático na área musical. De todas as etapas fundamentais da Educação Básica, a que mais se apresenta de forma excepcional é a Educação Infantil, que por sua vez é a responsável pelo desenvolvimento integral, ou seja, período no qual a criança está conhecendo e explorando novas possibilidades de conhecimento. No entanto, a Educação Infantil não é valorizada e acaba sendo vista como “cuidar de crianças” e não o “possibilitar conhecimento”.
Existe uma inversão de valores em relação ao Ensino Infantil que impede que o desenvolvimento esperado nesta etapa não ocorra. Esse equívoco começa a partir do piso salarial que é inferior ao piso de um professor de PEB I. Pois nem todos os sistemas de ensino fizeram a equiparação salarial. A Educação Infantil é o alicerce que sustenta todo o percurso de aprendizado que, no entanto, se encontra precário e visto como uma etapa de pouca importância. A visão em relação à Educação Infantil, faz com que os professores tenham dificuldades para investirem todas as formas de expressão nessa etapa.
Além deste fator, devemos considerar que para prática musical é necessário. O amor e dedicação pela arte, considerando que a força de vontade é o início fundamental para que a prática musical dentro da escola aconteça. Como a Educação Infantil é o período no qual a criança explora diversas possibilidades. Cabe ao professor mediar e propor atividades que auxiliem as crianças na aquisição de novos conhecimentos por meio da experimentação de forma empírica. Brincadeiras com música, dança, confecções de instrumentos musicais para brincar de orquestra são ótimas atividades que permitem à criança reconhecer e sensibilizar-se com a música, possibilitando que a mesma futuramente se interesse pela prática musical.
Segundo Cunha e Cunha (2012)
A repressão que os adultos impõem sobre a criança impedindo que ela corra, pule, dance, grite ou faça sons com a voz, alegando que o que ela está fazendo é considerado como “bagunça”. Aos poucos vai criando um comportamento padrão que limita o sujeito a não se expressar. O que futuramente pode impedir que o sujeito tenha o lado expressivo apurado para a arte. Na educação Infantil, as atividades se iniciam a partir do reconhecimento dos sons, ou seja, mostrar às crianças os diversos tipos de sons que nos rodeiam.
Quando oferecemos esta experiência sonora para as crianças, estamos abrindo um grande espaço para a evolução do ouvir com atenção. Bem como proporcionando a aquisição de uma atenção continuada. É interessante propor atividades inicialmente envolvendo diversos sons como os da natureza, da cidade, sons advindos de qualquer ação decorrente de nosso dia a dia. Após trabalhar o reconhecimento dos diversos sons, pode-se partir para a música. Trabalhando a marcação de tempo por meio de atividades que envolvam batida de mãos, pés e demais movimentos que representem a segmentação musical.
Na educação infantil
Devemos abrir espaço para que as crianças explorem todas as possibilidades de experiências empíricas, pois isso facilita que futuramente a criança desenvolva sua capacidade musical. Outra atividade interessante na Educação Infantil é a questão do uso da voz. Brincar de produzir sons diversos com a voz e produzir movimentos com o corpo são atividades importantes que unem a questão motora e a psíquica.
Dançar no ritmo da música é fundamental para o desenvolvimento motor, além de proporcionar aos alunos a socialização entre eles. A música como elemento sensibilizador envolve a criança, possibilitando o contato com a linguagem musical. O que com o passar do tempo abre portas para a sua musicalização que se trata da capacidade de perceber os intervalos de som e tempo existentes na música e diferenciar o que é som e o que é música.
Figura 4. Intervalos musicais
https://pt.wikipedia.org/wiki/Intervalo_(m%C3%BAsica)
Os sons
Os sons não podem ser confundidos com música, pois a música é composta por intervalos (alturas), ou seja, intervalos que se trata da diferenciação de altura entre uma nota e outra.
São os intervalos que fazem a música. Ora, não se ouve os intervalos. Os intervalos são sentidos. A simples impressão sonora já é uma operação psíquica, pois o próprio som é movimento. Ora, o intervalo é o movimento entre as alturas sonoras (HOWARD, 1984, p. 63).
A música trabalhada com a dança desenvolve o sentido e a capacidade de sentir a música, seus intervalos, ou seja, processar diferentes alturas entre as notas e suas sequências rítmicas. Segundo Howard (1984), a dança é uma forma de tornar visível os intervalos que são existentes na música, desta forma a dança é a possibilidade concreta de permitir à criança inserir-se na musicalidade. No Ensino Fundamental I, a música deve ser trabalhada com um foco voltado para sua contextualização, teoria e prática permitindo ao educando compreender a excelência que a música oferece.
A contextualização da música
É um fator importante que permite ao educando conhecer a trajetória da música nos diversos períodos históricos, ou seja, mantendo a relação entre a música e a história. A teoria musical pode ser respaldada na matemática, que por sua vez irá tanto facilitar a leitura de partituras quanto no aperfeiçoamento do desenvolvimento do raciocínio lógico. Inserir o ensino da leitura de partituras é uma tarefa que exige dedicação em trabalhar com os alunos a questão de quantidade de forma abstrata. A prática é a parte considerada mais difícil, pois não basta apenas reproduzir a música de forma técnica. Antes de tudo é necessário senti-la.
O estado psíquico para o qual a música, ou seja, cientificamente falando as relações entre os intervalos, transporta a criança e mais tarde o amador é o único fundamento sólido, a única premissa válida para o exercício pessoal e autônomo da música. […] A essa finalidade está dirigido o trabalho em cujo o centro se encontra o conjunto dos problemas colocados pelos intervalos, ou seja, a percepção, a assimilação psíquica dos mesmos, sua reprodução pelo canto, sua transposição para os instrumentos, por meio da dança manual, das emoções motoras que a música em nós suscita. (HOWARD, 1984, p. 87)
Segundo Howard (1984)
Fica claro que para a prática musical é necessário à sensibilização no qual permita ao sujeito que ouve a música, senti-la e de forma psíquica processar todos os elementos que estão presentes na música. Desta forma, retomamos a questão da importância da música na educação infantil, etapa que permite que a criança desenvolva a capacidade psíquica que no futuro será de suma importância para a prática musical, difundindo-se com a teoria. Segundo Cunha e Cunha (2012), para suscitar o desejo pela música, o professor deve explorar juntamente com os alunos a sonoridade, a contextualização da música possibilitando ao educando interessar-se pela prática, além de desenvolver a musicalidade de forma informal.
[…] a tarefa básica da música na educação é fazer contato, promover experiências com possibilidades de expressão musical e introduzir os conteúdos e as diversas funções da música na sociedade, sob condições atuais e históricas (SOUZA apud CUNHA & CUNHA, 2000, p. 176).
Fica claro o papel da escola em relação à música. Propor contato com a música de forma cultural, possibilitando a contextualização expondo suas origens e mudanças no decorrer da história e suscitar o desejo e o desenvolvimento da capacidade psíquica que permite que o sujeito seja capaz de não somente executar a música de forma técnica e sim de vivê-la interiormente.
REFERÊNCIAS
CUNHA, D. S. S. & CUNHA, E. D. G. Música na Escola? Reflexões e Possibilidades. Guarapuara. Ed. Da Unicentro, 2012.
HOWARD, W. A Música e a Criança. São Paulo: Summus, 1984
PONSO, C. C. Música em Diálogo. Porto Alegre: Sulina, 2008.
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