Após esta breve explanação sobre as dimensões da aprendizagem, surgem outros questionamentos: que fatores influenciam a aprendizagem? Algum deles se sobressai? Ou são complementares no processo de aprendizagem? Qual a relevância dos aspectos orgânicos, emocionais e sociais?
A respeito disso, Paín (1985) entende que a aprendizagem está relacionada a quatro fatores (orgânicos, específicos, psicógenos e ambientais), a partir dos quais pode-se compreender os problemas de aprendizagem.
Fatores orgânicos:
Referem-se ao funcionamento anatômico, como o funcionamento dos órgãos dos sentidos e do Sistema Nervoso Central. Quando sadio, o sistema nervoso apresenta ritmo, plasticidade e equilíbrio, garantindo um funcionamento harmonioso. Porém, havendo lesões ou desordens corticais a aprendizagem fica comprometida.
Por exemplo: lesões neurológicas, deficiência auditiva, deficiência visual, podem trazer, como consequência, problemas cognitivos com maior ou menor gravidade. Apesar de, por si sós, não caracterizarem um problema de aprendizagem, tais problemas podem comprometer a aprendizagem.
Fatores específicos:
Referem-se à adequação perceptivo-motora. São desordens específicas liga[1]das a determinadas áreas cerebrais também específicas, que abrangem questões cognitivas/perceptivas e motoras, mas sem possibilidade de verificação de sua origem orgânica.
Citamos como exemplo a dislexia. O aluno com dislexia não possui nenhuma lesão na estrutura anatômica cerebral, mas uma desordem no funcionamento do cérebro, específica da área de leitura e escrita.
Tal desordem dificulta a decodificação dos símbolos gráficos registrados pelo cérebro, não havendo uma constância na construção mental daquele símbolo, que se expressa na dificuldade de leitura e escrita. O aluno com dislexia não tem deficiência intelectual, mas há casos em que as dificuldades são tão expressivas que podem gerar confusão no diagnóstico.
Fatores psicógenos:
Estão relacionados a traumas e conflitos internos, onde o não-aprender se constitui como inibição (restrição da capacidade) ou como sintoma, defesa (medo de relembrar ou viver novamente alguma situação traumática). O olhar do profissional não deve estar voltado para o problema de aprendizagem em si, mas para o que ele representa.
Tomemos como exemplo crianças que não conseguem lidar com frustrações, seja quando contrariadas ou diante de erros cometidos; elas podem evitar a tentativa da aprendizagem pelo medo do fracasso.
Outro exemplo são os erros ortográficos que a criança pode apresentar em função da dificuldade de atribuir significado à aprendizagem ou a atribuição inadequada de significados à aprendizagem escolar.
Fatores ambientais:
Dizem respeito ao ambiente concreto do sujeito, “às possibilidades reais que o meio lhe fornece, à quantidade, à qualidade, à frequência e à abundância dos estímulos que constituem seu campo de aprendizagem habitual” (PAÍN, 1995, p. 33).
Incluem-se as condições de moradia, trabalho, acesso ao lazer, esportes, aos bens culturais, ao grau de consciência e participação social. Como exemplo podemos citar um aluno de 10 anos que chega à escola com um vocabulário restrito e rudimentar aprendido dos irmãos mais velhos, demonstrando dificuldades na aprendizagem da leitura e escrita.
Os estímulos ambientais não tiveram a qualidade necessária para garantir que ele se apropriasse das estruturas linguísticas necessárias ao domínio da língua, podendo ser a causa das dificuldades de aprendizagem que tem apresentado.
Os fatores elencados nos apontam caminhos para compreender com mais propriedade as dificuldades de aprendizagem, permitindo um olhar atento no sentido de identificar as causas que impedem ou atrapalham o adequado desenvolvimento da aprendizagem. E, a partir dessa identificação, adequar e direcionar as estratégias de ensino para superar tal problemática.
Título : Psicologia do desenvolvimento e da aprendizagem
Autoras : Josieli Piovesan, Juliana Cerutti Ottonelli , Jussania Basso Bordin e Laís Piovesan
Fonte: Psicologia do desenvolvimento e da aprendizagem [recurso eletrônico] / Josieli Piovesan … [et al.]. – 1. ed. – Santa Maria, RS : UFSM, NTE, 2018.
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