Há duas características do dualismo cartesiano que merecem uma análise cuidadosa. A primeira é o argumento do “conhecimento privilegiado”, segundo o qual teríamos conhecimento contínuo, direto, não inferencial e incorrigível sobre a nossa própria mente. A segunda é a defesa da existência de duas substâncias distintas – a mental e a física – a partir do argumento do conhecimento privilegiado. Afinal, vimos na subseção dedicada à teoria de Descartes que o argumento do conhecimento privilegiado é essencial para a tese dualista (subseção 1.1.1).
No behaviorismo radical, por sua vez, essas duas características transfiguram‑se no problema do conhecimento a respeito dos eventos privados e na diferença categorial entre privacidade e substância.4 Na seção 2.6 foi sustentado que a privacidade não pode ser definida pela localização do estímulo, pois sua característica demarca‑ tória é essencialmente a forma pela qual entramos em contato com o mundo privado.
Skinner (1953/1965, 1972b, 1974) apresenta três vias pelas quais entramos em contato com o ambiente: pelo sistema nervoso exteroceptivo, pelo sistema nervoso interoceptivo e pelo sistema nervoso proprioceptivo. Agora, suponha‑se, como exemplo, que o sujeito S esteja com “dor de dente”. A “dor” seria um evento privado, pois a forma como o sujeito S entra em contato com o estímulo “doloroso” é diferente da forma como um dentista entraria em contato com o mesmo estímulo. O Quadro 4.1 ilustra a situação:
Nesse caso, um estímulo “doloroso” (Se) afeta o sujeito S (Re) que, então, descreve os efeitos da estimulação: diz, por exemplo, que está com “dor de dente” (Rvs). O estímulo “doloroso” é, portanto, um dente inflamado. Para tratar desse problema, o sujeito S vai ao dentista, e este, por sua vez, perante o estímulo “doloroso” (Sd), executa vários procedimentos relacionados ao tratamento dentário (C‑O).
Ao terminar o trabalho, o dentista descreve o seu comportamento para o sujeito S: afirma, por exemplo, que notou que ele estava com um dente inflamado (Sd) e que nessas situações a coisa certa a fazer era executar certos procedimentos (C‑O) e conclui dizendo que foi exatamente isso o que ele acabou de fazer. O que faz com que uma situação seja diferente da outra? Primeiramente, o sujeito S responde de maneira interoceptiva e proprioceptiva ao dente inflamado. É apenas nessa relação que o estímulo é realmente “doloroso”.
O dente inflamado só é um estímulo “doloroso” na exata medida em que há uma resposta de senti‑lo (Re). É por isso que a “dor” não está nem no dente inflamado, nem na resposta a esse estímulo. A “dor” está na relação entre o estímulo “doloroso” e a resposta de sentir do sujeito, e essa relação, que foi tratada na seção 3.3 pelo nome de “sensação”, é essencialmente privada. O dentista, por outro lado, entra em contato com o dente inflamado de maneira exteroceptiva, o que significa que o estímulo “dente inflamado” também elicia uma resposta visual específica do dentista – trata‑se de um caso de visão respondente incondicionada (seção 3.3).
Todavia, ao “ver que está vendo”, ou seja, ao responder discriminativamente perante os efeitos da estimulação visual, o dentista conclui, graças também aos anos de estudos odontológicos, que está perante um dente inflamado (Sd) e essa situação estabelece as condições para que classes operantes relacionadas ao tratamento do dente inflamado ocorram (C‑O). O estímulo visual “dente inflamado” não é “doloroso” para o dentista porque o contato ocorre basicamente através do seu sistema nervoso exteroceptivo.
Dizemos, então, que há tanto uma condição privada e inacessível a terceiros na relação entre o estímulo “doloroso” (Se) e a resposta de senti‑lo (Re) quanto uma relação pública entre estímulo visual “dente inflamado” e as possíveis classes operantes nas quais esse estímulo visual pode atuar estabelecendo condições discriminativas (no caso do exemplo, focamos classes operantes de um dentista).
Há dois pontos importantes que devem ser destacados: (1) em ambos os casos o estímulo é substancialmente o mesmo, isto é, trata‑se do mesmo dente inflamado caracterizado por propriedades fisiológicas específicas (Skinner, 1945/1961g, 1963a, 1969b, 1972b, 1974, 1975); e (2) a única diferença está na forma pela qual se entra em contato com o estímulo “dente inflamado” (Skinner, 1945/1961g, 1953/1965, 1954, 1963a, 1971, 1974). Assim conclui Skinner (1963a, p.952):
O fato da privacidade não pode, evidentemente, ser questionado. Cada pessoa está em contato especial com uma pequena parte do universo fechada no interior de sua pele. […] Ainda que em algum sentido duas pessoas possam dizer estar vendo a mesma luz ou ouvindo o mesmo som, elas não podem sentir a mesma distensão do canal biliar ou a mesma ferida muscular. (Quando a privacidade é invadida por instrumentos científicos, a forma de estimulação se modifica; as escalas estudadas pelo cientista não são os eventos privados em si.)
Tendo esclarecido que há na privacidade uma diferença de natureza relacional, em vez de substancial, o próximo passo é tratar do problema do conhecimento dos eventos privados, que é o correlato behaviorista radical do argumento cartesiano do conhecimento privilegiado. A pergunta que se coloca é a seguinte: assumindo que a privacidade é caracterizada por uma relação em primeira pessoa, isto é, por uma relação que só é experienciada enquanto tal pelo sujeito que a possui, esse sujeito teria, então, conhecimento contínuo, direto, não inferencial e incorrigível sobre os eventos privados?
De acordo com o que foi visto na seção 2.6, para o behaviorismo radical, conhecer significa ser sensível às contingências. Um sujeito conhece algo se esse algo servir de estímulo discriminativo para alguma classe operante do seu repertório comportamental. Em poucas palavras, o conhecimento é uma relação de controle do ambiente sobre o comportamento de um sujeito. Constatou‑se também que o conhecimento dos eventos privados envolve o comportamento verbal de tacto (seção 2.6).
Por estar relacionado com o comporta‑ mento verbal de tacto, o controle responsável pelo conhecimento que o sujeito tem sobre os eventos privados é exercido fundamentalmente pela comunidade verbal em que ele está inserido. Entretanto, a comunidade verbal não tem acesso aos eventos privados – afinal, são eventos privados –, o que significa que o controle só é possível por conta de eventos públicos que acompanham os eventos privados, mas que, ao contrário destes, são acessíveis à comunidade verbal.
Ainda na seção 2.6 foram apresentadas quatro possíveis formas pelas quais a comunidade verbal passaria a exercer controle sobre o sujeito no que concerne ao conhecimento sobre os eventos privados: associação de estímulos, efeitos colaterais, extensão metafórica do tacto e descrição do próprio comportamento.
Enfim, é possível resumir a situação da seguinte maneira: (1) o conhecimento envolve uma relação de controle discriminativo do ambiente sobre as classes de resposta de um sujeito; (2) o conhecimento (ou consciência) que um sujeito tem dos eventos privados ocorre em função do controle da comunidade verbal sobre as classes de res‑ postas verbais de tacto; (3) mas a comunidade verbal não tem acesso aos eventos privados, o que significa que o controle deve ocorrer de outra forma; (4) assim, o controle exercido pela comunidade verbal sobre as classes verbais de relato dos eventos privados só é possível por conta de eventos públicos que acompanham os eventos privados, mas que não são os eventos privados propriamente ditos.
Nesse contexto, para tratar da validade do argumento de que possuímos conhecimento contínuo, direto, não inferencial e incorrigível sobre os eventos privados, antes é preciso avaliar o grau de controle que a comunidade verbal exerce sobre os sujeitos do conhecimento. É justamente nesse ponto que o behaviorismo radical dá o seu primeiro passo rumo ao distanciamento do argumento do conhecimento privilegiado.
Ao discorrer sobre as formas pelas quais a comunidade verbal controla as respostas verbais de relatos dos eventos privados – o que significa, em outros termos, que a comunidade verbal é responsável pelo controle dos comportamentos classificados como “conscientes” – Skinner (1957, p.133‑4) conclui:
Nenhuma delas garante a precisão de controle vista em respostas a estímulos externos manipuláveis. Na [associação de estímulos], a conexão entre estímulos públicos e privados não precisa ser in‑ variável, e as respostas colaterais […] podem ser feitas a outros estímulos. […] A extensão metafórica [do tacto] pode acompanhar propriedades inesperadas, e não há maneira pela qual o controle do estímulo possa ser fixado através dos processos auxiliares de abstração. Se a estimulação privada que acompanha os comportamentos macroscópicos e microscópicos na [descrição do próprio comportamento] é inalterada exceto em sua magnitude, nós podemos esperar grande validade, mas a prática é aplicável apenas quando o objeto descrito é o comportamento do falante. As contingências que estabelecem o comportamento verbal sob controle dos estímulos privados são, assim, defectivas.
A associação de estímulos ocorre quando os eventos privados são associados a eventos públicos contingentes. A comunidade verbal pode ensinar o sujeito S a dizer “Isso dói” quando este machucar o joelho. O joelho machucado é um estímulo discriminativo público que sinaliza a possível ocorrência do evento privado relativo à sensação de “dor”. A comunidade verbal não tem acesso à “dor” do sujeito S, mas apenas ao joelho machucado. Essa associação pode ser útil no controle que a comunidade verbal exerce sobre o sujeito S: em situações posteriores ele poderá discriminar eventos privados descrevendo‑os como “dolorosos”.
O problema é que não há uma relação invariável entre eventos públicos e eventos privados. É plenamente possível que a comunidade verbal possa cometer erros no processo de controle ao ensinar o sujeito S a dizer “Isso dói” quando os estímulos públicos que supostamente serviriam como sinaliza‑ dores não forem contingenciais a eventos privados “dolorosos”. Já no caso dos efeitos colaterais, a comunidade verbal fica sob controle de respostas públicas do sujeito. Voltemos ao exemplo do sujeito S: o joelho machucado serve como estímulo discriminativo para o controle da comunidade verbal (é um caso de associação de estímulo), mas o sujeito S também chora, contrai a perna machucada e adquire uma expressão facial normalmente associada à ocorrência de eventos privados “dolorosos”.
Essas respostas são vistas como efeitos colaterais visíveis de eventos privados “dolorosos” e, por isso, servem como estímulos discriminativos para o controle da comunidade verbal sobre o relato do evento privado. Todavia, como bem apontado na citação de Skinner, respostas colaterais de topo‑ grafias semelhantes podem acompanhar os mais variados eventos privados. A situação não melhora quando lidamos com a extensão metafórica do tacto. Nesse processo, uma classe de respostas adquirida e mantida por conta de sua relação com uma classe de estímulos públicos pode ser estendida a uma relação com estímulos privados que supostamente possuiriam propriedades semelhantes às dos estímulos públicos que antes foram essenciais para formar as condições de controle da comunidade verbal.
Ao descrever o evento privado, o sujeito S, que machucou o joelho, afirma que é uma “dor aguda” e que está “ardendo”, mas esses termos antes se referiam a estímulos públicos. O termo “agudo” pode ser originário das referências a objetos pontiagudos que antes foram estímulos eliciadores de “dores agudas”: por exemplo, antes de machucar o joelho, o sujeito S havia se ferido com uma agulha, e a “dor” resultante foi caracterizada como “aguda”. Todavia, a “dor” não é aguda, já que ser “agudo” é uma propriedade do objeto que eliciou a “dor”. O sujeito S pode, também, um dia ter sofrido queima‑ duras e a “dor” resultante foi caracterizada como “ardência”.
Mas “arder” significa estar em chamas ou pegando fogo, exatamente as características do estímulo que eliciou a “dor” relacionada anterior‑ mente às queimaduras. Assim, pelo processo de extensão metafórica, o sujeito S utiliza esses termos que antes se referiam a eventos ou objetos públicos para descrever eventos privados. O problema é que não há limites para a extensão metafórica do tacto – qualquer tipo de relação metafórica pode ser estabelecido entre eventos privados e eventos públicos. Na seção dedicada ao comportamento verbal (seção 2.4), vimos que a abstração fornece uma maneira para limitar as extensões do tacto: reforçar somente classes operantes verbais em que as respostas fiquem apenas sob controle de propriedades específicas dos estímulos.
Mas esse processo, no entanto, é inviável quando lidamos com eventos privados, pelo simples fato de que a comunidade verbal não tem acesso às propriedades específicas dos eventos privados que podem coincidir com propriedades específicas de eventos públicos. Finalmente, há a descrição do próprio comportamento. A ideia central do processo é que a comunidade verbal nos ensina a descrever o nosso próprio comportamento. Ela faz isso quando o comportamento é público.
Porém, o sujeito que descreve o seu próprio comportamento tem contato diferenciado através dos sistemas nervosos proprioceptivo e interoceptivo e isso torna possível que ele passe a descrever o seu comportamento mesmo quando este for encoberto e, portanto, inacessível à comunidade verbal. O sujeito S, por exemplo, está resolvendo um problema matemático numa lousa e descreve o seu comportamento ao dizer “estou fazendo essas equações”. A comunidade verbal tem acesso às respostas manifestas de resolução do problema e, a partir delas, reforça o comportamento autodescritivo do sujeito.
Todavia, o sujeito S tem contato diferenciado, por vias proprioceptivas e interoceptivas, ao seu comportamento de “resolver o problema”. Suponha‑se, agora, que o sujeito S não emita mais respostas manifestas de resolver o problema, o que significa que a comunidade verbal não tem mais acesso ao seu comportamento. Mesmo nesse caso, o sujeito S ainda pode descrever as respostas encobertas de “resolver o problema”. Para Skinner (1957), essa forma de controle da comunidade verbal perante as descrições de eventos privados talvez seja a mais precisa, mas, em contrapartida, talvez seja também a mais limitada, pois ocorre apenas no âmbito do comportamento que, antes público e manifesto, passou a ser privado e encoberto.
Eventos que são essencialmente privados (como as “dores”) não passam por essas condições de controle. Em síntese, não há relações necessárias entre eventos privados e eventos públicos tanto na associação de estímulos quanto nos efeitos colaterais. A extensão metafórica do tacto abre um leque ilimitado de possíveis relações entre propriedades de eventos privados que seriam supostamente coincidentes a propriedades de eventos públicos e nem mesmo a abstração pode auxiliar na limitação das extensões, já que, para que isso fosse possível, seria condição necessária ter acesso às propriedades dos eventos privados.
Por fim, a descrição do próprio comportamento pode ser precisa, mas, por não abranger os eventos privados como um todo, também é limitada. Portanto, o sujeito que antes não conhecia ou não tinha consciência do seu mundo privado, acaba por responder discriminativamente a esse mundo graças à comunidade verbal, mas esse processo de ensino fundamenta‑se numa relação comporta‑ mental bastante limitada, imprecisa, defectiva e inacurada (Skinner, 1945/1961g, 1953/1965, 1957, 1963a, 1971, 1972b, 1974). Com essas informações, talvez seja possível apresentar uma resposta behaviorista radical ao argumento cartesiano do conhecimento privilegiado. Na verdade é possível encontrá‑la na seguinte citação de Skinner (1972b, p.18):
Cada um de nós possui uma pequena parte do universo no interior de nossa pele. Ela não é por essa razão diferente do resto do universo, mas é uma possessão privada: Temos maneiras de conhecê‑la que são negadas aos outros. É um erro, entretanto, concluir que essa intimidade da qual desfrutamos significa um tipo especial de entendimento. […] Conhecer requer contingências de reforço especiais que precisam ser arranjadas por outras pessoas, e as contingências envolvendo eventos privados nunca são precisas, porque as outras pessoas não estão efetivamente em contato com eles. A despeito da intimidade dos nossos próprios corpos, nós o conhecemos menos acuradamente do que conhecemos o mundo que nos cerca.
Em outro texto, Skinner (1963a, p.953) afirma que “uma pessoa não pode descrever, ou, então, ‘conhecer’ os eventos que ocorrem no interior de sua pele tão sutil e precisamente quanto ela conhece os eventos no mundo de maneira geral”. Ao que parece, Skinner inverte o argumento cartesiano, pois, na verdade, conheceríamos mais o mundo público e acessível a todos do que o mundo privado e acessível apenas em primeira pessoa. O contato especial que temos com os eventos privados não nos confere conhecimento privilegiado; pelo contrário, dificulta o próprio processo de discriminação que caracteriza o conhecer.
Em termos behavioristas radicais, o conhecimento do mundo público é mais acurado porque as condições de instrução responsáveis pelo estabelecimento e manutenção do controle discriminativo são fortalecidas por conta do acesso direto aos eventos públicos que a comunidade verbal também possui, ao passo que essas condições são faltosas no âmbito dos eventos privados. Assim, respondemos discriminativa‑ mente aos eventos públicos de maneira mais acurada do que respondemos discriminativamente aos eventos privados, o que significa, portanto, que conhecemos mais o mundo público.
Possuiríamos, então, conhecimento contínuo, direto, não inferencial e incorrigível sobre os eventos privados? Só conhecemos os eventos privados através dos outros, o que significa que o conhecimento é em certa medida indireto; conhecer é resultado específico das contingências responsáveis pela manutenção e controle das respostas discriminativas, o que envolve uma história de reforçamento, e desse fato implica que o conhecimento é em grande medida inferencial; 5 a história de reforçamento também nos diz que o conhecimento não é contínuo, mas que é adquirido ao longo das interações com a comunidade verbal; a questão da incorrigibilidade talvez não seja nem cabível no contexto do conhecimento, já que as condições de instrução responsáveis pelo conhecimento dos eventos privados são faltosas, o que abre uma grande margem à possibilidade de erro a respeito dos relatos dos eventos privados.
É importante ressaltar, entretanto, que errar significa apenas responder discriminativamente aos eventos privados de maneira incompatível com as convenções fundadas pela comunidade verbal. O erro ocorre de acordo com a seguinte lógica: dado que o estabelecimento e a manutenção dos comportamentos de conhecer, ou de ter consciência, dos próprios eventos privados só é possível graças à comunidade verbal, se o sujeito não acatar as convenções da comunidade verbal, o que significa ser “insensível” às contingências relacionadas ao comportamento de conhecer ou de ter consciência, ele dificilmente “conhecerá” os seus eventos privados, podendo, assim, estar “errado” sobre sua privacidade ou até mesmo nem ter consciência dela. Dirigindo‑se diretamente a Descartes, Skinner (1967, p.329), por fim, conclui seu posicionamento sobre o conhecimento do mundo privado:
Apenas uma longa e complicada história de reforçamento leva alguém a falar de sensações, imagens e pensamentos. Tal história é característica de apenas determinadas culturas. […] Descartes não poderia começar, tal como ele pensou que pudesse, dizendo “Cogito, ergo sum” [Penso, logo existo]. Ele teria que começar como um bebê – um bebê cujo ambiente verbal subsequente finalmente gerou nele […] certas respostas sutis, sendo uma delas o “cogito”.
No início da presente seção, sustentou‑se que as diferenças entre eventos públicos e eventos privados são de natureza relacional e não de natureza substancial. Por conta desse fato, é errado postular a existência de uma substância mental apenas por conta da privacidade, já que a privacidade é uma relação e não uma substância.
Da relação especial que caracteriza a privacidade não se segue a tese da existência de um mundo imaterial da mente. O que distingue a privacidade não é a substância que constitui os elementos da relação (estímulo, resposta, consequência), mas sim o contato especial, em primeira pessoa, que o sujeito tem com o seu mundo privado.
Skinner (1988, p.316) conclui a questão da seguinte maneira: “é verdade que falar sobre um mundo público e privado ‘leva a uma interpretação dualista’, mas o dualismo é simplesmente entre público e privado, e não entre físico e mental”. Isto é, talvez haja uma dualidade relacional entre a forma pela qual entramos em contato com o mundo privado e com o mundo público, mas essa dualidade não está relacionada com a dualidade substancial cartesiana.
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REFERÊNCIAS:
A natureza comportamental da mente: behaviorismo radical e filosofia da mente / Diego Zilio. – São Paulo: Cultura Acadêmica, 2010.
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