Conheça a respeito dos Conceitos de currículo:
Os estudos curriculares têm conceituado currículo de diferentes maneiras, tornando-o um termo complexo e de difícil definição. Neste tópico, trataremos da polissemia de termos e de concepções que norteiam o que denominamos de currículo escolar.
A complexidade conceitual que norteia os estudos sobre currículo se caracteriza pela natureza pouco consensual, tanto em relação à definição quanto ao que deve conter no currículo e como ele deve ser organizado, pois cada definição está baseada em diferentes concepções de educação e de diferentes influências teóricas.
É bom lembrar que o campo de estudo curricular é epistemologicamente específico. Tem um objeto de estudo de natureza prática e relacionada à educação: o currículo fundamenta-se em estudos psicológicos, sociológicos, linguísticos, históricos e econômicos para compreender as nuances do currículo ou propor novas ideias e práticas.
Ao longo do tempo, a definição de currículo passou por diferentes abordagens, tendo a sua primeira definição ligada a preocupações com a organização e método de ensino, para posteriormente, ligar-se às questões culturais, políticas e subjetivas. O processo de conceituação do termo em questão é norteado por questões que discutem o tipo de homem a ser formado, o tipo de conhecimento a ser ensinado em determinada sociedade e tendo em vista a formação do homem ideal.
Assim sendo, pode-se dizer que “o currículo é sempre o resultado de uma seleção: de um universo mais amplo de conhecimentos e saberes seleciona-se aquela parte que vai constituir, precisamente, o currículo” (SILVA, 2002, p. 15).
De forma geral, vamos identificar três grandes modos de conceber o currículo: a primeira representada pela perspectiva técnica, na qual o currículo é concebido como algo prescrito, planificado, que deve ser implementado, constituído por objetivos e conteúdos a ensinar. Nessa perspectiva, currículo é
um projeto de educação ou formação, incluindo a especificação dos resultados esperados, definição de formas e meios para implementar para alcançar estes resultados e plano de avaliação dos resultados das ações (D’HAINAUT, 1990, p. 33).
[…] é aquela série de coisas que as crianças e os jovens devem fazer e experimentar, de modo a desenvolverem habilidades para fazerem bem as coisas relacionadas à vida adulta e serem o que os adultos devem ser (BOBBIT, 1918).
Essas acepções têm tradicionalmente influenciado o sentido atribuído ao currículo na realidade escolar, geralmente, professores e demais sujeitos escolares referem-se ao currículo como o plano de ensino, como a lista de disciplinas a serem cursadas ou como o rol de conteúdos a serem estudados, como também, restringem-no ao sentido de grade curricular ou matriz curricular.
Tais acepções referem-se à organização do ensino, à seleção de conteúdos a serem estudados, ao estabelecimento de objetivos para alguém alcançar tendo em vista a formação predefinida. Nessa perspectiva, o currículo é algo elaborado por especialistas, que pensam e definem o modelo de ensino a ser desenvolvido na escola.
A segunda, com base numa perspectiva prática e emancipatória, concebe o currículo como algo culturalmente determinado; como prática social de sujeitos inseridos em determinada cultura, permeada por relações de poder. O currículo é um local onde se produzem e se criam significados sociais, os quais estão ligados a relações sociais de poder e desigualdade (SILVA, 2002). Essa concepção de currículo envolve uma compreensão de dominação ideológica de uma cultura sobre outra.
Compreende-se que, através da cultura veiculada pela escola, impõem-se os valores e a cultura do grupo dominante de uma sociedade. A terceira concepção de currículo define-o como artefato multicultural, constituído por expressão de identidades e subjetividades diversas e que, portanto, precisa ser pensado a partir dos diversos sentidos presentes no mesmo e não dos modelos preestabelecidos.
Nessa perspectiva, o sujeito e suas interações histórica, social e biológica ocupam o centro das discussões e práticas curriculares. Concebe-se, assim, o currículo como um conjunto diverso de sujeitos, saberes e práticas “onde se produzem, elegem e transmitem representações, narrativas, significados sobre as coisas e seres do mundo” (COSTA, 2003, p. 41).
Diante dos diversificados modos de definir o que é currículo, dois aspectos são importantes: o primeiro refere-se ao fato de que, mesmo com posicionamentos diferentes, as concepções incorporam discussões sobre os elementos presentes no processo educativo, dentre outros: o conhecimento escolar, os sujeitos, as relações, a organização e valores.
O segundo é que não há dúvida quanto à sua importância na escola, pois é por meio dele que a escola acontece. “O currículo é o coração da escola, o espaço central em que todos atuamos” (MOREIRA, 2007, p. 19).
Vale ressaltar, também, que, sendo o currículo um artefato orientador da ação educativa e, devido à complexidade de como essa ação se caracteriza atualmente, é preciso concebê-lo mais do que uma simples matriz, para tanto é necessário entender as questões que norteiam a relação entre currículo, conhecimento e sociedade. Essas questões serão o assunto do próximo tópico. Então, vamos continuar!
Título : Currículos e Programas da EPCT
Autor : Fernandes, Natal Lânia Roque
Fonte: Currículos e Programas da EPCT / Natal Lânia Roque Fernandes; Coordenação Cassandra Ribeiro Joye. – Fortaleza: UAB/IFCE, 2014.
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