Libâneo, Santos e Saviani (2005) em seus estudos dizem que as teorias contemporâneas da educação são aquelas gestadas em plena modernidade, quando a ideia de uma formação geral para todos toma lugar na reflexão pedagógica, e assim começamos o estudo sobre as teorias contemporâneas da educação: natureza e definição.
Comênio, Figura 51, lança em 1657 o lema do “ensinar tudo a todos” e, não por acaso, é considerado o embaixador da educação moderna (FERRARI, 2008). O movimento iluminista do século XVIII fortalece essa ideia de formação geral, válida para todos os homens, como condição de emancipação e esclarecimento (LIBÂNEO; SANTOS; SAVIANI, 2005).no ano de 1926 (OLIVEIRA, 1993).
“As teorias pedagógicas modernas estão ligadas a acontecimentos cruciais como a Reforma Protestante, o Iluminismo, a Revolução Francesa, a formação dos Estados Nacionais, a industrialização” (LIBÂNEO; SANTOS; SAVIANI, 2005, p. 04). Os Pedagogos como Pestalozzi, Kant, Herbart, Froebel, Durkheim, Dewey, vão estabelecendo teorias sobre a prática educativa sempre consolidadas na manutenção de uma ordem social mais estável, garantidas pela racionalidade e pelo progresso em todos os campos, especialmente na ciência (LIBÂNEO; SANTOS; SAVIANI, 2005). Ainda conforme Libâneo, Santos e Saviani:
São teorias fincadas nas ideias de natureza humana universal, de autonomia do sujeito, de educabilidade humana, de emancipação humana pela razão, libertação da ignorância e do obscurantismo pelo saber. Especificamente na pedagogia, o discurso iluminista acentua o papel da formação geral, o poder da razão no processo formativo, a capacidade do ser humano de gerir seu próprio destino, de ter autodomínio, de comprometer-se com o destino da história em função de ideais. (LIBÂNEO; SANTOS; SAVIANI, 2005, p. 04-05).
Na contemporaneidade as teorias da educação encontram-se em várias versões, com as mais variadas abordagens, indo das mais tradicionais às mais avançadas, conforme se situem em relação aos seus temas básicos.
Libâneo, Santos e Saviani (2005, p.06) indicam algumas dessas abordagens:
- a natureza do ato educativo;
- a relação entre sociedade e educação;
- os objetivos e conteúdo da formação;
- as formas institucionalizadas de ensino;
- a relação educativa.
Na literatura internacional e nacional podemos ainda encontrar algumas classificações das teorias da educação, ora chamadas de tendências ou correntes, ora de paradigmas, conforme Figura 52.
Segundo Libâneo, Santos e Saviani (2005, p. 21) as teorias apresentam como características em comum:
- Acentuação do poder da razão, isto é, da atividade racional, científica, tecnológica, enquanto objeto de conhecimento que leva as pessoas a pensarem com autonomia e objetividade, contra todas as formas de ignorância e arbitrariedade;
- Conhecimentos e modos de ação, deduzidos de uma cultura universal objetiva, precisam ser comunicados às novas gerações e recriados em função da continuidade dessa cultura;
- Os seres humanos possuem uma natureza humana básica, postulando-se a partir daí direitos básicos universais;
- Os educadores são representantes legítimos dessa cultura e cabe-lhes ajudar os educandos a internalizarem valores universais, tais como racionalidade, autoconsciência, autonomia, liberdade, seja pela intervenção pedagógica direta seja pelo esclarecimento de valores em âmbito pessoal.
A partir desse conjunto de ideais, as pedagogias dos tempos atuais adquiriram suas identidades, formulando distintos entendimentos sobre as formas de conhecimento, função da ciência, conceito de liberdade, sem, todavia, renunciar à ideia de criação de uma sociedade racional (LIBÂNEO; SANTOS; SAVIANI, 2005). Ainda segundo Libâneo, Santos e Saviani:
Uma herança comum dessas teorias, vista pelos críticos como negativa, é que em nome da razão e da ciência se abafa o sentimento, a imaginação, a subjetividade e, até a liberdade, à medida que a razão se institui como instrumento de dominação sobre os seres humanos. Nesse sentido, a questão problemática na racionalidade instrumental é a separação entre razão e sujeito, entre o mundo científico e tecnológico e o mundo da subjetividade. (LIBÂNEO; SANTOS; SAVIANI, 2005, p. 07).
Ainda, outra questão que gera muitos problemas e embates, segundo Libâneo, Santos e Saviani (2005), refere-se às consequências da grande acumulação de conhecimentos científicos e técnicos produzidos pelos tempos modernos, entre elas, as disciplinas isoladas e fragmentadas, com isso, provocando a dissociação da cultura, da economia, da política, do sistema de valores e da personalidade. Para Libâneo, Santos e Saviani (2005) algumas correntes modernas da educação buscam separar seus discursos face às transformações que marcam os dias atuais, o momento histórico presente tem recebido várias denominações, como:
- sociedade pós-moderna;
- pós-industrial;
- pós-mercantil;
- sociedade do conhecimento.
Porém, Libâneo, Santos e Saviani (2005) preferem utilizar o termo pós-moderna, pontuando alguns traços gerais que caracterizam essa condição, sintetizando sugestões de vários autores como: Giroux, McLaren, Giddens, Silva e Rouanet. Segue os traços indicados pelos autores:
- Mudanças no processo de produção industrial ligadas aos avanços científicos e tecnológicos, mudanças no perfil da força de trabalho, intelectualização do processo produtivo;
- Novas tecnologias da comunicação e informação, ampliação e difusão da informação, novas formas de produção, circulação e consumo da cultura, colapso da divisão entre realidade e imagem, arte e vida;
- Mudanças nas formas de fazer política: descrédito nas formas mais convencionais e emergência de novos movimentos e sujeitos sociais, novas identidades sociais e culturais;
- Mudanças nos paradigmas do conhecimento, sustentando a não separação entre sujeito e objeto, a construção social do conhecimento, o caráter não -absolutizado da ciência, a acentuação da linguagem;
- Rejeição dos grandes sistemas teóricos de referência e de ideias-força formuladas na tradição filosófica ocidental tais como a natureza humana essencial, a ideia de um destino humano coletivo e de que podemos ter ideais que justificam nossa ação, a ideia de totalidade social. Em troca, o que há são ações específicas de sujeitos individuais ou grupos particulares, existências particulares e locais.
Os autores ainda mencionam alguns aspectos que o pensamento e a condição pós-moderna trazem para a educação, em contrapartida aos que foram mencionados anteriormente como traços da pedagogia moderna.
- Acentuar a ideia dos sujeitos como produtores de conhecimento dentro de sua cultura, capazes de desejo e imaginação, de assumir seu papel de protagonistas na construção da sociedade e do conhecimento;
- Mais do que aprender e aplicar o conhecimento objetivo, os indivíduos e a sociedade progridem à medida que se empenham em alcançar seus próprios objetivos.
- Não há cultura dominante, todas as culturas têm valor igual. Os sujeitos devem resistir às formas de homogeneização e dominação cultural;
- É preciso buscar critérios de restabelecimento da unidade do conhecimento e das práticas sociais que a modernidade fragmentou, por meio do princípio da integração, onde os saberes eliminem suas fronteiras e comuniquem-se entre si;
- Não há uma natureza humana universal, os sujeitos são construídos socialmente e vão formando sua identidade, de modo a recuperar sua condição de construtores de sua vida pessoal e seu papel transformador, isto é, sujeito pessoal e sujeito da sociedade;
- Os educadores devem ajudar os estudantes a construírem seus próprios conceitos, a partir de suas vivências e culturas. Os valores a serem cultivados dentro de grupos particulares são a diversidade, a tolerância, a liberdade, a criatividade, as emoções, a intuição.
Essas características apresentadas, vem ao encontro de vários princípios das teorias pedagógicas modernas, mas, ao mesmo tempo, instigam uma preponderação e o repensar crítico desses princípios. Giroux (1993) sugere que a crítica pós-moderna precisa ser examinada pelos educadores e que ela pode dar uma importante contribuição à pedagogia crítica, porém, McLaren (1993, p. 57) indica três contribuições do pensamento pós-moderno para uma Pedagogia Crítica:
- Uma reavaliação dos paradigmas teóricos de referência que até hoje tem norteado a produção do conhecimento, especialmente o legado da tradição iluminista;
- Uma sistematização, uma ordenação, das explicações de fenômenos novos que surgem na sociedade: o espetáculo, o efêmero, o modismo, a cultura do consumo, a emergência de novos sujeitos sociais, etc.;
- Um mapeamento das transformações que vão ocorrendo no mundo contemporâneo (e que caracterizam a chamada “condição pós-moderna”) para aguçar a consciência dos que se propõem a manter-se dentro de um posicionamento crítico.
Com isso, faz-nos pensar, existem tendências contemporâneas no ensino de alguma forma influenciadas pelo pensamento pós-moderno? Segundo Libâneo, Santos e Saviani:
Certamente sim, elas existem e aos poucos vão ocupando espaços na prática de professores embora, como de costume, com fortes traços de reducionismo ou modismo. Algumas dessas correntes são esforços teóricos de releitura das teorias modernas, outras afiliam-se explicitamente ao pensamento pós-moderno focadas na escola e no trabalho dos professores, enquanto que outras utilizam-se do discurso pós-moderno sem interesse nenhum em chegar a propostas concretas para a sala de aula e para o trabalho de professor, ao contrário, propõem-se a desmontar as propostas existentes. (LIBÂNEO; SANTOS; SAVIANI, 2005, p. 09).
Há notórias resistências a tentativas de classificação das teorias pedagógicas, boa parte delas compreensíveis. Vários segmentos de intelectuais que se situam no âmbito do pensamento pós-moderno podem alegar, dentro de seus quadros de referência, que as classificações seguem exatamente o figurino da modernidade, da classificação de conhecimentos, do fechamento em campos disciplinares (LIBÂNEO; SANTOS, 2005). Nesse caso, as classificações seriam, portanto, reducionismos, simplificações, fragmentações.
Em outra orientação, dir-se-á que os campos científicos em geral firmam-se muito por conta de legitimação das concepções por meio de disputa de poder (LIBÂNEO; SANTOS, 2005). Ainda segundo os autores, há ainda posições que deliberadamente defendem o hibridismo cultural. Na verdade, as classificações sempre existiram, independentemente das críticas que lhes são feitas, elas pertencem sim a certa tradição da racionalidade científica. Eles também apresentam o esboço de um quadro geral das correntes pedagógicas contemporâneas, proposto a seguir, conforme Quadro 17.
Iremos brevemente abordar cada corrente, visto no Quadro 17 conforme, Libâneo, Santos e Saviani (2005). Corrente racional-tecnológica – Corresponde à concepção que tem sido designada de neotecnicismo, associada a uma pedagogia a serviço da formação para o sistema produtivo, em que subtende-se a formulação de objetivos e conteúdos, padrões de desempenho, competências e habilidades com base em critérios científicos e técnicos. Corrente neocognitivista – Nesta corrente, incluem-se, novos aportes ao estudo da aprendizagem, do desenvolvimento, da cognição e da inteligência.
Tais abordagens cognitivas referem-se a estudos relacionados à utilização de técnicas como o uso de computadores. Objetivando buscar inovações a fim de avançar na investigação sobre os processos psicológicos e a cognição. Teorias sociocríticas – As teorias sociocríticas tendem a concepção de educação como compreensão da realidade para transformá-la, visando a construção de novas relações sociais para superação de desigualdades sociais e econômicas.
Correntes holísticas – São correntes de diferentes vertentes teóricas, que têm como principal aspecto uma visão “holística” da realidade como uma totalidade de integração entre o todo e as partes, porém buscando compreender a dinâmica e os processos dessa integração de forma diferente.
Correntes pós-modernas – Essas correntes tentam fugir da denominação de pedagogias, porém, boa parte das publicações de autores e pesquisadores brasileiros produzem neste campo da educação, um campo mais científico da educação. Assim, essas correntes se constituem a partir das críticas às concepções globalizantes do destino humano e da sociedade, as metanarrativas, assentadas na razão, na ciência, no progresso, na autonomia individual.
FONTE:
Teorias da educação [recurso eletrônico] / Cíntia Moralles Camillo, Liziany Müller Medeiros. – Santa Maria, RS : UFSM, NTE, 2018.
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