Na segunda metade do século XX, a pedagogia passou por uma grande transformação, impondo-se em âmbito mundial, redefinindo a sua identidade, renovando seus limites e deslocado o seu eixo epistemológico. A pedagogia logo passa a ser uma Ciência da Educação, de um saber único e fechado para um saber aberto e amplo (CAMBI, 1999). Representado na Figura 11 a seguir.
Saiba mais: Epistemologia (do grego [episteme]: conhecimento científico, ciência; [logos]: discurso, estudo de) é o ramo da filosofia que trata da natureza, etapas e limites do conhecimento humano, especialmente nas relações que se estabelecem entre o sujeito e o objeto do conhecimento.
Tratou-se de uma revolução do saber educativo, colocando um ponto final ao retrocesso da pedagogia, o qual não era mais possível regredir no tempo. Com a sociedade cada vez mais dinâmica, se fez necessário a busca e aperfeiçoamento do indivíduo inovado, com formação técnica e aberto para novos saberes, capazes de enfrentar uma sociedade em evolução tecnológica, sociais e culturais. Porém, para formar esse ser é necessário um novo saber pedagógico, com novas experimentações, mais empírico, problemático e que esteja aberto a novos conhecimentos. Mas como definir essa passagem? Segundo Cambi (1999) a pedagogia definiu-se assim:
- Com o declínio da pedagogia, como saber unitário da educação;
- Com a afirmação de muitas disciplinas auxiliares construtivas do saber pedagógico;
- Com o exercício de um controle reflexivo sobre a multiplicidade de saberes, em geral, com a filosofia desenvolvendo um papel político, social e cultural.
A pedagogia ainda pode ser definida conforme a Figura 12
Logo, após a pedagogia entrar em crise ela passou a ter saberes especializados, reescrevendo sua identidade, desaparecendo o saber que hora era filosófico e hora era científico. Agregando de modo pragmático ou normativo as diversas contribuições filosóficas e/ou científicas, coordenando-as de maneira coerente, fazendo valer assim a educação que levava o nome de pedagogia.
Porém, segundo Cambi:
Esse saber desaparece com o único referente da educação e dos seus problemas, mas não é eliminado, se deslocando para o terreno da reflexão epistemológica e histórica em torno de tais problemas e se põe doravante depois/além das ciências da educação, redefinindo-se como filosofia da educação. (CAMBI, 1999, p. 596)
Portanto, a filosofia da educação é um setor que é único, talvez o mais fundamental do saber pedagógico, assim, não pode competir ou invadir a ciência da educação, da mesma forma, a filosofia da educação tem os seus métodos e objetivos próprios. Cambi (1999) defende que a pedagogia está hoje transcrita em grande parte nas ciências da educação e só partindo dela que se pode enfrentar os problemas que a educação enfrenta.
A ciência, logo vem compor o leque das ciências da educação ou também conhecida e chamada por enciclopédia pedagógica, conforme Figura 13
E o que muda? O saber pedagógico, que vem se configurando como um saber hipercomplexo, constituído de muitos elementos, levando a reflexão e também sendo capaz de ser levado a uma autorreflexão. Segundo Cambi (1999) a hipercomplexidade é:
- Dada pelo ato de modificar, ampliar e aumentar setores que o compõem;
- Pelo entusiasmo de seus vínculos;
- Metacontrole que deve ser ativado no discurso de transformações e dinamismo.
Cambi (1999) também nos fala da importância da centralidade da reflexão filosófica, conforme Figura 14, que se dispõe como fronteira imprescindível de toda a compreensão pedagógica.
A filosofia da educação, exerce um papel importante na pedagogia, mas certamente não é ela que vai resolver os problemas e nem indicar soluções. Ainda para Cambi (1999) essa passagem da pedagogia às ciências da educação é um caminho sem retorno, visto que, é impossível pensar nos problemas educativos na forma tradicional, ligado a um saber pragmático e normativo ao mesmo tempo.
Para o autor a pedagogia foi reescrita em termos empíricos, articulando sobre várias ciências e que sobre tudo predispôs um saber tecnicamente mais eficaz, pensando na experiência e pela experiência, vivendo uma estreita relação com a prática.
Saiba mais: empírico é um fato que se apoia somente em experiências vividas, na observação de coisas, e não em teorias e métodos científicos. Empírico é aquele conhecimento adquirido durante toda a vida, no dia-a-dia, que não tem comprovação científica nenhuma.
FONTE:
Teorias da educação [recurso eletrônico] / Cíntia Moralles Camillo, Liziany Müller Medeiros. – Santa Maria, RS : UFSM, NTE, 2018.
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