Quando você estava no útero de sua mãe já sentia, por meio das pulsações do coração dela, o ritmo de um coração. Ritmo lembra música, não é mesmo? Mas, afinal, o que é música? Como ela surgiu? Quais elementos são necessários para fazer música? Apenas o som puro ou qualquer som já seria música? O que é som? O som está presente constantemente em nossas vidas.
Em todos os lugares ouvimos sons, identificados ou não. Muitas vezes são agradáveis, outras vezes fortes, fracos, estridentes, repetitivos ou irritantes. Eles provêm de uma fonte sonora, como por exemplo, um motor de caminhão, um pássaro ou pessoas gritando na torcida do seu time preferido (falando nisso, na sua opinião, qual é a torcida mais “barulhenta”?).
Essa fonte sonora gera vibrações que são levadas por meio do ar ou de outro meio de condução, como a água e a própria terra, na forma de ondas sonoras até nossos ouvidos, atingindo a membrana do tímpano, provocando diversas reações no nosso corpo e nos permitindo ouvir e identificar esses sons. Só para lembrar, as ondas sonoras são a forma de propagação de energia sem ocorrer o transporte do meio de propagação: a energia passa, mas o meio fica. Para entender melhor todo esse processo, observe atentamente o funcionamento do nosso aparelho auditivo.
Partes do ouvido humano:
As ondas sonoras, quando chegam aos nossos ouvidos, são dirigidas pelo canal auditivo até uma membrana, semelhante a uma fina folha de papel, só que bem resistente, chamada tímpano. É ele que entra em vibração, mesmo quando as variações de pressão das ondas sonoras são pequenas.
As vibrações chegam até um pequeno osso chamado martelo, que aciona outro osso, a bigorna, o qual finalmente faz vibrar um outro osso denominado estribo. Nessa sequência as vibrações são amplificadas. Assim, podemos perceber o quanto o mundo é sonoro, identificando sons de intensidade muito baixa. Enfim, as vibrações amplificadas chegam ao ouvido interno, também chamado de cóclea com forma de caracol. Esta parte (cóclea) é revestida por minúsculos pelos e no seu interior encontramos um líquido que auxilia na propagação do som. As ondas sonoras, então, através dos pelos em vibração, estimulam as células nervosas que, por meio do nervo auditivo, enviam os sinais ao cérebro.
Que complexo o nosso aparelho auditivo, não é mesmo? Mas, e este som que o nosso ouvido capta, como podemos defini-lo? Podemos definir som como um fenômeno acústico que consiste na propagação de ondas sonoras produzidas por uma matéria física que com alguma forma de movimento, ocasiona uma vibração deste objeto. (Experimente! Ache um objeto próximo a você e o faça vibrar.) O som tem algumas características próprias e por meio da manipulação e organização delas (com os conhecimentos de Física, Acústica, Matemática, Música e Estética) podemos apreciar músicas, tocá-las, cantá-las debaixo do chuveiro ou no videokê. Essas características são elementos formadores do som: Timbre: é um elemento que varia de acordo com o material do qual é feito o objeto sonoro.
Imagine que na sua sala de aula as carteiras são feitas de diferentes materiais (além da madeira), como ferro, plástico, cristal… Se você bater com o lápis em cada uma dessas carteiras, o som será o mesmo? Por quê? Quando falamos pelo telefone ou interfone com nosso melhor amigo ou parentes de convivência diária, por que somos reconhecidos pela voz, mesmo sem dizer o nosso nome? Altura: os movimentos sonoros produzem diferentes frequências de ondas sonoras que determinam a distribuição desses sons no espaço (altura do som). Dependendo da posição dessas ondas sonoras, o som estará localizado em cima (sons altos – agudos) ou em baixo (sons baixos – graves).
A organização e distribuição dos sons no espaço estabelecem a melodia da música. Pense agora em crianças falando, cantando ou gritando… Você conseguiria distinguir quais vozes são de meninos ou de meninas? Com certeza você perceberia que elas possuem a mesma altura vocal, todas têm voz “fina” (aguda). Já se fossem adultos, identificaríamos que os homens têm voz “grossa” (grave) e as mulheres, na sua maioria, têm voz mais “fina” (aguda) do que as dos homens.
Observe o exemplo:
Por que as ondas correspondentes para cada nota do piano são diferentes?
As oscilações das vibrações são denominadas frequência e a sua unidade de medida é o Hertz. O nosso tímpano percebe e vibra quando a onda sonora tem de 20 a 20.000 Hz, os sons abaixo de 20 Hz (infra-sons) e os acima de 20.000 Hz (ultra-sons) nós não conseguimos ouvir. Você já percebeu que os apitos para chamar alguns animais como cães ou golfinhos, nós não conseguimos ouvir mas os animais ouvem?
Intensidade: depende da força utilizada para se bater num objeto ou instrumento musical (bateria, xilofone, pratos, teclas de um piano…). Essa batida pode ser forte, média ou fraca. A intensidade também é determinada pela quantidade de ar que utilizamos para fazer um instrumento de sopro “tocar” ou quando cantamos uma música. Quando sua mãe ou os vizinhos reclamam que o seu som está muito alto, está correto? Ou o correto seria “o seu som está muito intenso”? A intensidade do som é medida pela unidade denominada “1 Bel” (homenagem ao cientista A. Graham Bell, inventor do telefone).
Você já ouviu falar do submúltiplo dessa unidade? 1 deciBel = 1dB = 0,1 Bel. Ao som com menor intensidade que conseguimos escutar foi atribuído o valor zero deciBel (0 dB) e o som mais intenso que ouvimos, sem sentir dor, corresponde ao valor de 120 dB. Você sabia que existem leis que indicam o valor máximo de deciBéis numa boate ou fábrica, por exemplo? E que muitas pessoas acabam apresentando problemas de audição porque estes limites não são respeitados?
Densidade: relaciona-se à quantidade de sons emitidos ao mesmo tempo, determinando a massa sonora. A variação de poucos ou muitos sons sendo executados simultaneamente é um importante fator para a apreciação e a composição da música. A densidade é uma característica do som muito explorada na música do século XX e hoje em dia. Para uma torcida ser a mais “barulhenta” é preciso que os torcedores toquem seus instrumentos e gritem o mais forte (intensidade) possível e que haja muitos instrumentos e vozes (densidade). Na música vocal, o músico, ao compor, escreve diferentemente quando sua música é para ser cantada só por uma voz ou para ser cantada por um grande coral, da mesma forma a percepção do espectador é muito diferente em cada caso.
Duração: todas as nossas ações são regidas pelo fator tempo, da mesma maneira, o tempo pode comandar a organização e o efeito das estruturas sonoras. A duração e existência ou não da matéria sonora influencia na diferença dos sons em longos e curtos. A organização da duração dos sons é o principal fator de estruturação do ritmo da música. Qualquer um desses elementos formadores do som, podem ser o que a máquina de videokê identifica na nossa voz, atribuindo-nos notas boas ou ruins. Você imagina qual dessas cinco características é responsável pela sua nota? Não se preocupe, pois ainda vamos conversar sobre outras qualidades da música que poderiam determinar a pontuação no videokê. A partir desses elementos formais do som (duração, timbre, intensidade, altura e densidade), o ser humano, historicamente, foi organizando a música que conhecemos
No mundo ocidental ela é estruturada por três formas de organização que constituem a composição da música são eles:
- Melodia: sons ou notas sucessivas, apresentando uma organização rítmica com sentido musical. É também entendida como a voz em movimento, como os instrumentos melódicos (flauta, saxofone) que executam uma nota de cada vez.
- Harmonia: sons ou notas musicais que soam simultaneamente de forma combinada, com elementos diferentes que produzem uma sensação agradável e de prazer. É a arte ou a ciência dos acordes (junção de três ou mais notas, tons) e de sua relação mútua.
Três ou mais instrumentos melódicos, tocados ao mesmo tempo, podem produzir um som harmônico (harmonia). Ao mesmo tempo um instrumento harmônico (piano, violão) quando tocados por uma nota de cada vez podem produzir uma melodia, como nos solos de guitarra.
Apesar da música ser tão antiga quanto a humanidade, encontramos poucos dados sobre sua história, devido à dificuldade de se registrar a música no passado. A execução musical “ao vivo” dura apenas o momento de sua apresentação, por isso não existem registros sonoros de músicas anteriores à invenção do fonógrafo, no final do século XIX. Outra forma de sabermos como era no passado, é por meio da partitura musical, que é a escrita da música. A escrita musical como a conhecemos inicia-se com a notação musical chamada Neumas (Idade Média) e no século XVI passa a existir como a conhecemos hoje.
Conhecemos alguma coisa sobre a música na Idade Média e na Antiguidade devido à Arqueologia (instrumentos, vasos, murais, pinturas, esculturas…) e aos textos escritos em diversas línguas, os quais continham comentários sobre a música da época. Lembra quando falamos que no início da vida, no útero de nossa mãe, já percebíamos o ritmo do coração dela? Depois, quando bebês, já nos movimentávamos balançando ao ritmo das canções de ninar, não é mesmo?
O ser humano quando começou a viver em grupo também se manifestava por meio do movimento corporal (dança), embalado pelo ritmo de instrumentos musicais, nos momentos de manifestação de suas crenças e para organizar-se nas disputas com outros grupos pela sua sobrevivência. Você notou que até hoje em dia, nos cultos e ritos religiosos, a música está sempre presente? Nas forças militares, a música também faz parte dos diversos momentos oficiais e comemorativos. Por exemplo: o ritmo da marcha orienta a ordem dos passos da tropa, por meio do tempo forte-fraco, forte-fraco, forte-fraco… sucessivamente. Estamos falando de ritmo desde o início, mas o que ele é exatamente?
- Ritmo: é o ordenamento do tempo da música e abrange o som ou o silêncio, o elemento regulador do ritmo é a pulsação. Quando ouvimos uma música, a marcação do pulso surge naturalmente. Quantas vezes você já “se pegou” movimentando os pés, a cabeça, batendo as mãos ou mexendo o corpo ao ouvir seu grupo ou cantor (a) predileto (a)? Na verdade, o pulso é o coração da música, e esse coração tem um ritmo.
Um jeito diferente de fazer música
Durante toda história, conceitos de sons musicais foram sofrendo alterações. No Ocidente, século XVIII, na música conhecida como erudita (música ocidental de tradição escrita), eram utilizados sons como a voz humana e instrumentos musicais, organizados a partir de princípios matemáticos e acústicos que perduram até hoje em dia como a referência de quando ouvimos e apreciamos uma música.
Os instrumentos de percussão, sopro ou cordas nem sempre foram utilizados na música. Por toda a Idade Média, a música oficial (da Igreja Católica) era só cantada (canto gregoriano). A partir do século X, no Ocidente, a população começou a utilizar instrumentos influenciados pela cultura muçulmana, que usava instrumentos de corda e percussão. O século XVIII foi o apogeu dos instrumentos musicais, com as grandes orquestras, chegando a não ter voz ou coral nas composições de Bach, Mozart, Beethoven e muitos outros desse período.
Esses instrumentos eram construídos e executavam a música dentro dos padrões clássicos (música tonal), não sendo permitido nenhum som que fosse diferente desses parâmetros. No século XX houve um grande interesse em incorporar à música objetos sonoros e mais instrumentos de percussão. Já imaginou uma música criada com sons produzidos por garrafas, ferramentas, o esfregar da roupa, portas se abrindo ou alguém suspirando?
O brasileiro Hermeto Pascoal faz exatamente isso em suas composições. Além de instrumentos clássicos, utiliza materiais e recursos inusitados. Reflita sobre as poéticas palavras de Hermeto: “Quando eu era menino, vivíamos perto de uma área alagada. Todo povo vinha pegar água com potes de plástico, vasilhas de estanho e cobre e tudo fazia som. Para mim, era música. As rãs cantavam, as mulheres esfregavam as roupas, os vaqueiros chamavam o gado. Era a minha música. ”
Um grupo inglês chamado Stomp produz os mais diversos sons e ritmos usando vassouras, baldes, latões de lixo, talheres, panela… Além da apresentação de suas músicas também utilizam-se de muito humor e criatividade. No Brasil, existe o grupo mineiro Uakti, que trabalha com canos de P.V.C., bambu, cana, água, borracha, entre outros.
Em pesquisa na Internet, verificou-se que o mercado, no que diz respeito ao karaokê, está investindo em novos equipamentos, em que, para obter boas notas, não é preciso gritar, basta cantar bem. Os karaokês convencionais avaliam apenas a intensidade, isto é, boas pontuações seriam conseguidas “no grito”. Será? Essa nova tecnologia desenvolvida em aparelhos de karaokês permitiria uma pontuação um pouco mais justa, pois avaliaria a afinação (altura), ritmo e também a intensidade da voz.
Então, não se sinta um simples desafinado, um “pobre mortal” quando resolver cantar numa rodada de karaokê ou mesmo debaixo do chuveiro. Não há nada que um bom estudo e exercícios vocais não resolva, seja na intensidade da voz (ganhar nota “no grito”) ou com um professor de canto (caso você queira ser profissional). E lembre-se: no peito dos desafinados também bate um coração!
REFERÊNCIAS:
Arte / vários autores. – Curitiba: SEED-PR, 2006. – 336 p